Será difícil discutir transmissões monetárias sem abordar o fiscal, diz Campos Neto

Em palestra no simpósio econômico de Jackson Hole, presidente do BC afirmou que mercado está precificando menos espaço para intervenções fiscais e monetárias no futuro

Reuters

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Foto: (Reuters/Amanda Perobelli)
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Foto: (Reuters/Amanda Perobelli)

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Jackson Hole, Estados Unidos (Reuters) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse neste sábado que a volatilidade recente pode estar mostrando que o mercado está precificando menos espaço para intervenções fiscais e monetárias no futuro.

Falando na conferência econômica anual do Fed de Kansas City, em Jackson Hole, Wyoming, Campos Neto disse que será mais difícil discutir transmissões monetárias sem abordar questões fiscais.

No Brasil, 50 milhões de pessoas estão “ganhando dinheiro do governo, em comparação com 43 milhões de pessoas que são empregados e empresários”, acrescentou.

Sem mencionar diretamente o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele afirmou: “Precisamos pensar em uma estratégia precisa e compreender a eficiência desses programas governamentais, especialmente nos países de mercados emergentes, e o que isso fez com a dívida.”

“Acho que precisamos começar a comunicar melhor a má alocação de recursos.”

Campos Neto, cujo mandato termina em dezembro, disse que a desaceleração da economia da China pode impactar o Brasil através de um choque nos termos de troca ou de preços mais baixos de importação de produtos chineses, embora o efeito líquido dependa da dimensão da desaceleração.

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Esta semana, banqueiros centrais de todo o mundo viajaram para Jackson Hole para participar do principal encontro econômico do mundo, o simpósio anual do Fed de Kansas City, no Parque Nacional de Grand Teton.

O painel em que Campos Neto falou foi sobre a transmissão monetária ou como os movimentos das taxas de juros realmente afetam a atividade econômica ou estão tendo menos efeito do que tradicionalmente esperado.

As suas observações seguem-se aos recentes esforços de comunicação dos membros do Copom para enfatizar que o banco central permanece unido, considerando todas as opções para a próxima decisão de política monetária, prevista para a reunião de 17 a 18 de setembro.

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Campos Neto e outros diretores do BC destacaram que não existe uma orientação definida para o futuro, uma postura que descreveram como dependente de dados.

Em julho, o Copom manteve a taxa de juros inalterada em 10,5% pela segunda vez consecutiva, mas a retórica foi endurecida, citando a necessidade de ainda maior cautela e acompanhamento diligente dos fatores condicionantes da inflação.

A inflação anual atingiu 4,5% em julho, afastando-se ainda mais da meta oficial de 3%.

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Apostas embutidas na curva de juros futuros estão prevendo uma chance de mais de 80% dos juros subirem no próximo mês, o que, se confirmado, ocorrerá enquanto o Fed prepara um afrouxamento monetário.