‘Semana dos BCs’ mostrou quase todos na mesma página sobre cortes de juros

Ao menos 15 autoridades monetárias fizeram reuniões nos últimos dias e leitura é de quedas de juros muito próximas; BC suíço já reduziu taxas e o do Japão fez primeira alta em 17 anos

Roberto de Lira

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Na chamada “semana dos bancos centrais”, na qual ao menos 15 autoridades monetárias realizaram suas reuniões de política monetária, ficou claro que a grande maioria – com algumas exceções específicas – dos decisores está na mesma página quanto à  cada vez mais próxima flexibilização. Com condições econômicas muito similares, falta acertar apenas o momento de cortar os juros.

Enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), na quarta-feira (20) e o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), na quinta-feira (21) optaram mais uma vez por manter suas taxas, se juntando ao Banco Central Europeu (BCE), que fez o mesmo na semana anterior, coube ao Banco Nacional da Suíça puxar a fila e reduzir sua taxa de juros principal em 25 pontos-base, para 1,50%.

O estágio do resultado da política monetária suíça estava realmente adiantado com a inflação local  rodando em torno da meta a pelo menos nove meses. Mas o BC local pareceu mesmo preocupado com a exagerada valorização do franco suíço ao longo do ano passado.

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Mas o restante da Europa, assim como os Estados Unidos, estão encarando um momento de incerteza em relação à velocidade da desinflação, que recebeu sinais de alerta no início do ano, devido à maior variação dos preços dos serviços e do setor imobiliário.

“Inflação imaculada”

Um ponto interessante nesta semana foi um quase reconhecimento pelos BC de uma particularidade do ciclo desinflacionário global. Segundo o Financial Times, citando dados da Consensus Economics e da Oxford Economics, as taxas parecem “imaculadas”, ou seja, estão regressando de forma sustentável à meta sem um aumento significativo do desemprego.

Numa entrevista à rede CNBC, o economista Mohamed A. El-Erian viu uma quebra de paradigma. “Podemos olhar para esta semana como a semana em que os bancos centrais se afastaram de uma meta de inflação muito rigorosa para um conceito muito mais amplo”, afirmou. “Eles perceberam que vivemos num mundo onde o lado da oferta é o problema.”

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O fato é que a inflação já caiu de um máximo de 11,1% no Reino Unido para 4% recentemente e de 9,1% para 3,2% nos EUA.  No entanto, o desemprego atingiu um mínimo histórico na zona do euro e a última previsão do Fed é que atinja uma média de 4% este ano nos EUA – não muito longe do mínimo dos últimos 50 anos, de 3,6% em 2023.

Este padrão de “desinflação com pleno emprego é incomum” e “bastante impressionante”, declarou na semana passada o presidente do BoE. Em entrevista ao FT publicada na sexta-feira ele afirmou que os mercados estão certos em esperar mais do que um corte nas taxas de juro este ano.

Ele disse ainda que há sinais de que uma política mais restritiva tinha reprimido o risco de uma espiral salários-preços.  “É como o cachorro Sherlock Holmes que não late. Se os efeitos de segunda ordem não se concretizarem, isso é bom porque a política monetária fez o seu trabalho”, disse.

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O próprio Banco Central do Brasil, que teve uma atitude mais conservadora, ao cortar novamente os juros em 0,50 p.p. e retirar na comunicação a orientação para apenas mais um corte da mesma magnitude, citou pressões nos mercados de trabalho, mas não fez alterações nas suas estimativas de inflação para 2024 e 2025.

Japão

Como grande novidade entre os BCs globais, o BoJ aumentar as taxas de juros no Japão pela primeira vez em 17 anos e também anunciou o fim de várias medidas de flexibilização quantitativa.

Para Junichi Inoue, chefe de Equities no Japão para  a Janus Henderson Investors, se for confirmado o ciclo virtuoso da economia japonesa, a expectativa do mercado  de um total de 50 pontos-base de aumentos da taxa de juros, um no segundo semestre de 2024 e outro em 2025, pode ser considerada conservadora.

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“Considerando o impacto dos aumentos salariais sobre a taxa de inflação, dois aumentos nas taxas ainda manteriam uma taxa de juros real negativa significativa. O mercado precisa analisar o consumo pessoal futuro, a renda, as taxas de inflação e as tendências das taxas de juros, o que poderia ter um impacto positivo no mercado de ações.”