Recado do Fed foi o de manter os juros mais altos e por mais tempo, dizem analistas

Novo sumário de projeções de diretores estima que início de queda de juros nos EUA pode estar mais longe que o projetado pelo mercado

Roberto de Lira

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Os juros nos Estados Unidos vão permanecer altos por mais tempo. Esse foi o principal recado que os economistas e analistas de mercado captaram tanto no comunicado do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) que se seguiu à decisão do colegiado nesta quarta-feira (20), de manter as taxas, como no sumário de projeções econômicas, que foi renovado nesta reunião. O principal motivo é que a mediana das estimativas feitas pelos diretores colocou os juros em patamares mais altos que os anteriores, tanto em 20224 como em 2025.

Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, afirma que o conjunto de informações desta quarta-feira pode ser considerado duro (“hawkish”). “Não só mantém a previsão de mais uma alta para este ano, mas também colocam previsões de juros mais altos nos dois próximos anos”, destaca.

Pelas projeções, a taxa final fecharia 2023 em 5,6% (a mesma estimativa feita em junho), o que sugere uma nova alta de 25 pontos base na reunião de novembro ou na dezembro. Mas o sumário divulgado hoje elevou a projeção de juros para 2024 dos 4,6% anteriores para 5,1% e a estimativa para 2025 avançou de 3,4% para 3,9%.

Cruz destacou ainda que a projeção de PIB para este amo e o próximo subiram e as da taxa de desemprego recuaram. “Então, é um cenário um pouco mais desafiador que, para os olhos dos dirigentes do Fed, vai necessitar de juros maiores por mais tempo”, explica

O economista lembra que o mercado estava precificando uma taxa de juros de 5,5% até o final de 2023 e que ela deveria ficar nesse patamar até o final de maio. “Aparentemente, isso não ser possível, vão ter de reprecificar até um patamar um pouco maior”, prevê. Para ele, ainda que o Fed consiga começar cortar juros no ano que vem, será bem pouco e de forma bem lenta.

Ainda que admita que esse condição pode mudar, mas que fatores de risco como o preço do petróleo, a expectativa de um inverno mais rigoroso na Europa e a crise no setor imobiliário na China pode trazer impacto nos dados dos EUA nos próximos meses.

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O número de 12 integrantes do colegiado que projetaram a necessidade de uma dose adicional de juros até o final do ano – ante sete integrantes que acreditam na manutenção – também foi destacado pelos analistas. Marcos de Marchi, economista chefe da Oriz Partners, lembra que em junho ainda havia dois diretores prevendo duas altas e um dirigente projetando três elevações.

Mas para ele, o maio destaque nas projeções foi a sinalização clara que, mesmo com mais juros, a taxa de desemprego foi precificada para baixo. “Implicitamente, o Fed está passando um sinal muito forte um pouso suave da economia”, afirma.

Já Gustavo Zuquim, gestor de investimentos do Andbank nos EUA, comenta que os juros futuros aumentaram a probabilidade de um novo aumento após a decisão do Fomc, de 45% para 52%, mas ele pondera que essa nova alta não será uma tarefa simples.

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“Um novo aumento agora é muito mais complicado que no início da política. O Fed está sendo cauteloso e ‘data dependent’, pois não quer errar para mais na política, com receio de causar um dano econômico muito grande”, avalia.

Ariane Benedito, economista da Esh Capital, também vê um BC americano avaliando a forte expansão da  atividade econômica local e ainda preocupado com o mercado de trabalho, apesar dos recentes sinais de desaceleração. “Em relação à inflação, logo no primeiro parágrafo do documento divulgado com a decisão, e de forma direta, expõe a leitura de persistência dos preços em patamares elevados”, adverte.

A economista diz que, mesmo com o nível de atividade desacelerando gradualmente, alguns preços de comodities têm apresentado tendência de alta, como é o caso do petróleo, que contamina a precificação de toda a cadeia economia e cria choques nas projeções para inflação.

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“Esse movimento gera uma dúvida do comportamento dos indicadores de preço para frente. Não menos relevante, as últimas medições do PCE, atenderam às expectativas, mas o qualitativo do indicar ainda mostra riscos na parcela de inflação de serviços, que não corrobora para que o Fed retire a possibilidade de mais uma alta até o final do ano, ou mude a estratégia de decisão voltada à observação de dados recentes.”

Sem recessão?

André Cordeiro, economista sênior do Banco Inter, por sua vez, comenta que o Fomc reforçou a visão de que a inflação ainda permanece elevada, em meio à atividade resiliente, mas com desaceleração do mercado de trabalho. “O comunicado ainda deixa em aberto os próximos passos, reafirmando o compromisso do comitê em mudar o rumo da política monetária caso julguem necessário”, diz.

Cordeiro também acredita que as projeções dos membros do Comitê se constituíram na notícia mais importante hoje. “Eles mantiveram a projeção para os juros ao fim de 2023 em 5,6%, o que implica em mais uma alta até o fim do ano, mas aumentaram a projeção para a taxa de juros ao fim de 2024 e 2025, mostrando que, para o comitê, juros elevados por mais tempo serão necessários para garantir a convergência da inflação”, aposta.

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“Além disso, destacamos a forte revisão na projeção do PIB para esse ano, que saiu de 1% em junho para 2,1%, acompanhada de redução na taxa de desemprego, que saiu de 4,1% para 3,8%, bem próximo da taxa de desemprego observada atualmente”, complementa.

Para Cordeiro, isso sugere que o cenário base do Fed não é mais de uma recessão para a economia americana. “Outro destaque é o ‘dot plot’, que mostra uma divisão clara entre os membros do Fomc. A maioria ainda acha necessária mais uma alta nos juros esse ano, entretanto há um número considerável de membros que acredita que a taxa de juros já está em patamar alto o suficiente para garantir a convergência da inflação”, analisa.

Como essa decisão ficou para a reunião de novembro, o economista do Inter acreditamos que até lá a economia americana dará sinais mais claros de desaceleração, ajudando que o consenso do Fomc migre para a não necessidade de nova alta nos juros.

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Danilo Igliori, economista chefe da Nomad, afirma que o comunicado deixou em aberto o que virá na sequência, ao enfatizar que os próximos movimentos de política monetária dependerão da evolução dos dados econômicos, particularmente com relação à inflação, atividade econômica e expectativas.

“As novas projeções para os indicadores de atividade econômica e inflação sugerem que a parada de setembro podem não ter encerrado o ciclo de alta de taxas de juros. As taxas de inflação perigosamente altas convivendo com atividade resiliente após todo o aumento dos juros provavelmente irão encorajar apertar ainda mais a política monetária”, comenta.

Para Igliori, o principal sinal está na revisão para cima das projeções para as taxas básicas de juros que foram apresentadas hoje. “Os dados indicam que os EUA terão que conviver com juros historicamente elevados por bastante tempo”, diz.