Produção industrial muito abaixo do esperado se soma a dado ruim do PIB e corrobora cenário mais fraco para atividade

Produção industrial caiu 1,3% em julho; para a CM Capital, o movimento de queda deve continuar nas próximas medições

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Após o Produto Interno Bruto (PIB) pior do que o esperado na véspera, levando as projeções para economia para baixo, mais um dado da economia brasileira decepcionou os agentes de mercado.

A produção industrial caiu 1,3% em julho frente junho após queda de 0,2% no mês anterior (dado revisado ante estabilidade divulgada anteriormente), mostrou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (2). A projeção Refinitiv aponta para queda de 0,5% na base mensal.

O recuo de julho alcançou duas das quatro grandes categorias econômicas e 19 dos 26 ramos pesquisados, com atenção para bens de consumo duráveis (queda de 2,7% na base mensal) e bens intermediários (queda de 0,6% na base mensal). Os itens que apresentaram crescimento na margem foram bens de capital (alta de 0,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (alta de 0,2%).

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Na avaliação do Bradesco BBI, o resultado da produção industrial foi fraco em todos os ângulos da análise, levando o indicador a atingir um nível abaixo de janeiro de 2020.

A equipe de análise aponta que, entre os fatores que poderiam explicar esse mau desempenho ultimamente, além da dificuldade geral para setores específicos devido a gargalos de oferta, é provável que haja um arrefecimento da demanda, uma vez que a reabertura da economia levou a uma mudança do consumo de bens para serviços.

Além disso, há uma maior incerteza observada ultimamente devido a uma situação fiscal frágil, bem como por conta das eleições de 2022. “Em suma, com os dados de PIB mais fracos do que o esperado divulgados na véspera, esse resultado reforça nossa cautela com a atividade econômica no curto prazo”, aponta o BBI. Na véspera, vale ressaltar, o banco revisou  para baixo as estimativas de PIB, de alta de 5,3% para 4,7% para 2021 e de 2,3% para 1,6% para 2022.

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A CM Capital aponta que a leitura do primeiro mês do terceiro trimestre sinaliza a continuidade de um efeito que foi possível perceber na divulgação do PIB do segundo trimestre: uma deterioração da indústria doméstica, sobretudo no que diz respeito a setores relevantes para a atividade econômica.

De janeiro deste ano até julho, reforça, o setor de bens de consumo apresentou queda de 12,2%, com efeito maior durante o mês de fevereiro (devido ao lockdown mais severo). A equipe de análise aponta que, ao longo das sete medições no ano, em cinco delas o setor apresentou resultado negativo, mesmo em período de maior circulação da população e com o retorno do auxílio emergencial.

“Quando fazemos a mesma análise para o setor de bens de consumo duráveis, a situação fica ainda mais dramática, pois o resultado acumulado em 2021 apresenta queda de 25,9%, de forma que o setor apresentou queda em todos os meses deste ano”, avalia.

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Para a CM Capital, o movimento de queda deve continuar nas próximas medições, sobretudo no setor de bens de consumo, uma vez que a inflação deve continuar a diminuir a cesta de consumo da população e, consequentemente, a indústria deve se reajustar.

Ainda, o movimento de alta de juros deve seguir influenciando, negativamente, o mesmo setor, elevando o custo de investimento industrial.

“Entretanto, bens de capital devem continuar apresentando crescimento, de forma que é o único setor que apresenta crescimento de janeiro a julho deste ano”. Porém, apesar da recuperação, o nível de deterioração da indústria local ainda é evidente quando comparamos com o resultado de anos anteriores, avalia a equipe de análise.

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Para frente, o Goldman Sachs também espera que o setor industrial seja impactado por condições financeiras mais apertadas, custos de energia significativamente mais altos e, potencialmente, restrições de fornecimento de energia.

A XP, por sua vez, espera que a produção industrial gire em torno de uma tendência de crescimento muito fraca no segundo semestre de 2021, apresentando sinais erráticos nas divulgações mensais. Para agosto, a projeção é de crescimento de 0,3% na base mensal (e alta de 0,7% na base anual). Contudo, a equipe de análise aponta que essa estimativa deve ser tomada como um “grão de sal”, uma vez que poucos indicadores coincidentes usados ​​na modelagem de curto prazo da casa foram divulgados até agora.

Entre a última quarta e esta quinta-feira, além do Bradesco BBI, a XP e o Goldman Sachs revisaram as projeções para a economia brasileira. A XP reduziu suas estimativas para o crescimento da economia brasileira tanto para 2021 quanto para 2022, a 5,3% e 1,7%, respectivamente, diante do aumento de riscos e incertezas. As projeções anteriores eram de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 5,5% e 2,3%, respectivamente. Já o Goldman reduziu sua projeção para a atividade brasileira em 2021 de alta de 5,4% para avanço de 4,9%.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.