A pandemia de Covid-19, causada pelo Novo Coronavírus, surpreendeu o mundo provocando impactos não somente nas áreas da saúde, mas também nos campos sociais, políticos e econômicos. Não se passa impunemente por uma crise dessa magnitude. Globalmente notamos o empenho dos governos no controle do avanço epidêmico e no planejamento da retomada econômica, com medidas que possam estimular o desenvolvimento de cada país.
No Brasil, a volta à pauta econômica também precisa ser elaborada para que, em paralelo às questões de saúde, retomemos as iniciativas que visam o ajuste fiscal. Com a gravidade trazida pela COVID-19, o governo foi obrigado a flexibilizar sua trajetória ruma à estabilidade. O país estava trilhando um bom caminho com a aprovação da Reforma da Previdência, que vai gerar uma economia R$ 800 bilhões nos próximos 10 anos.
A pandemia mudou os planos e tornou-se imperativo o foco em investimentos destinados ao combate à nova doença e na estruturação de uma rede de apoio à sociedade no enfrentamento do problema. De acordo com os anúncios do governo, os gastos giram, até o momento, em torno de R$ 275 bilhões, o que representa 3,7% do nosso PIB (Produto Interno Bruto). Atualmente, a dívida bruta representa 76% do PIB e de acordo com projeções do Goldman Sachs esse valor pode chegar 91% nos próximos anos. Isso não é um bom sinal, pois irá aumentar os juros no futuro e prejudicar os investimentos no país. Estudo divulgado recentemente pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostra que o novo coronavírus pode provocar um recuo de 4,1% no PIB do país.
Inevitável o impacto negativo na taxa de desemprego do país, dado que aos poucos começava a ser revertido. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa desemprego no país ficou em 12,2% no primeiro trimestre deste ano; 1,2% acima do percentual registrado no mesmo período do ano passado, número que vem aumentando a cada semana. Frear a retração, voltar a crescer e estimular os investimentos são pautas prioritárias para o país no momento.
É urgente que, na mesma esteira de foco às questões da saúde, possamos também retomar o compromisso com o ajuste fiscal e controle dos gastos públicos é fundamental. A recomendação do Ministro da Economia Paulo Guedes de congelar o salário dos servidores públicos por dois anos é estritamente necessária para contribuir com essa pauta.
Cada setor da sociedade está sendo obrigado a fazer ajustes, tanto empresas quanto pessoas físicas estão reduzindo gastos e alterando hábitos. Também o servidor público precisa ser sensível ao que o país vive e entender que a proposta do governo lhe trará poucas perdas, pois estamos num momento de baixa inflação – segundo o Boletim Focus, a previsão de inflação 2020 é de apenas 1,7% – e ele goza de estabilidade, o que os colaboradores do setor privado não têm.
É importante ressaltar que os índices de desemprego afetam em quase sua totalidade o trabalhador do setor privado, que possui uma taxa de rotatividade muito acima do funcionário público. Além disso, o salário dos servidores públicos cresceu nas últimas três décadas, segundo dados publicados pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 23% acima dos trabalhadores do setor privado.
A combinação da austeridade no gasto público com os juros baixos e a retomada das privatizações serão os pilares para promover a recuperação econômica e a geração de empregos, para certamente colheremos bons frutos a partir de 2020.
Por Luiz Antonio França
Engenheiro Civil, atualmente é presidente da Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias), presidente do Conselho da Renac e sócio-presidente da França Participações.