Possível ação da China contra carne suína da UE seria faca de dois gumes para Brasil

Brasil poderia enfrentar mais concorrência da União Europeia nas Filipinas, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido, dizem analistas

Reuters

Granja de suínos em Carambeí (PR) (REUTERS/Rodolfo Buhrer/File Photo)
Granja de suínos em Carambeí (PR) (REUTERS/Rodolfo Buhrer/File Photo)

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A possível imposição de medidas antidumping pela China sobre as importações de carne suína da União Europeia, um cenário que seria desastroso para o bloco, pode beneficiar os exportadores brasileiros, mas também afetar a capacidade do país de competir em outros lugares, disseram analistas e fontes do setor.

Se à primeira vista a demanda adicional da China pela carne brasileira é bem-vinda, por outro lado o Brasil poderia enfrentar mais concorrência da União Europeia nas Filipinas, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido, que são mercados que a Europa deve tentar acessar se perder a China, disse o analista de Proteína Animal do Rabobank Brasil, Wagner Yanaguizawa.

“Esses países, muito provavelmente, iriam transferir parte da demanda para comprar da União Europeia, porque teria excesso de carne (na UE), e eles têm uma vantagem logística em relação ao Brasil”, afirmou, lembrando que possivelmente os europeus ofertariam preços mais baixos.

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“A gente entende que o Brasil teria mais chance de ser penalizado neste horizonte do que beneficiado”, resumiu.

As Filipinas se tornaram o segundo maior mercado de exportação de carne suína do Brasil este ano, depois da China, com um aumento de 85% no volume de vendas até maio, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Ao mesmo tempo, o Brasil é um dos três maiores fornecedores de carne suína para a China, juntamente com os EUA e a UE.

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De acordo com a ABPA, “se a Europa deixar de vender para a China para abastecer outro mercado, outro exportador precisará abastecer esse mercado”, indicando as oportunidades ao Brasil.

“É a lógica das exportações, como uma balança”, disse a ABPA.

Os processadores brasileiros de carne suína operam com 85% a 90% da capacidade, de acordo com a ABPA, sinalizando que existiria espaço para aumentar um pouco a oferta.

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Uma fonte do setor ponderou que as restrições chinesas à carne suína da UE podem ser uma faca de dois gumes, afirmando que tais medidas poderiam fazer com que os fornecedores europeus se voltassem “agressivamente” para os mercados atualmente atendidos pelo Brasil.

Ele também observou outro possível cenário, um no qual a China reduziria as importações de carne suína, levando a um excesso de oferta global.

“Acredito que a China demandará menos de 2 milhões de toneladas por ano”, disse a fonte, acrescentando que a produção doméstica da China se recuperou do impacto da peste suína africana.

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As importações de carne suína da China caíram para 2,6 milhões de toneladas no ano passado, de 5,6 milhões de toneladas em 2020, de acordo com dados da indústria chinesa.

A investigação de Pequim sobre a carne suína da UE parece ter como alvo principal a Espanha, a Holanda e a Dinamarca.

“Se constatadas irregularidades, as vendas dos europeus ao maior mercado importador de carne suína do mundo serão forçadas a buscar outros grandes destinos”, disse a consultoria Datagro.

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O Brasil tem a ganhar com suas boas relações comerciais com a China, mas suas próprias vendas para outros mercados podem ficar para trás, disse a Datagro, citando as Filipinas como exemplo, que atualmente respondem por 13% das exportações do Brasil.

Produção chinesa

Yanaguizawa, do Rabobank, afirmou ainda que as importações chinesas, apesar de importantes no mercado global, representam cerca de 5% comparativamente ao consumo do país asiático, e poderiam ser substituídas em boa parte pela própria produção local.

“Existe esta dependência (da UE), porém não teria um impacto disruptivo no mercado chinês, porque de toda a carne, incluindo miúdos que a China consome, as importações representam somente 5%. A China praticamente está autossuficiente”, afirmou. “A própria China poderia ocupar espaços deixados por uma eventual redução da exportação europeia.”

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O analista do Rabobank acrescentou que o Brasil poderia vir a exportar mais à China, mas não no segmento de miúdos, já que a disponibilidade brasileira é baixa. Exportar miúdos também demandaria que o governo chinês autorizasse novas plantas e Estados brasileiros a vender para lá.

“Para se ter uma ideia, no ano passado o Brasil exportou 120 mil toneladas de miúdos, para todos os destinos. Só a União Europeia exportou para a China no ano passado, entre carne suína e miúdos, 1,2 milhão de toneladas,” disse ele.

Já a ABPA indicou que, ainda assim, haveria oportunidades, lembrando que um eventual aumento da produção chinesa para compensar a ausência da UE “levaria semestres”, considerando que o ciclo de abate dos porcos é mais longo do que as aves, por exemplo.