Por que um banco desafia consenso e defende alta de 0,50 p.p. na Selic, para 11,75%

Para o Bradesco BBI, a aceleração do ritmo para 0,75 p.p. não resolveria os desafios atuais e poderia aumentar a volatilidade do PIB e dos preços dos ativos

Paulo Barros

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Embora o mercado aponte para uma aceleração do ciclo de alta de juros, com muitos defendendo um ajuste de 0,75 ponto percentual (p.p.) ou até 1 p.p. na taxa Selic na reunião do Copom desta quarta-feira (11), um banco diverge. Em relatório, o Bradesco BBI argumenta que o Banco Central deveria manter o ritmo de alta em 0,50 p.p., levando a taxa básica de juros para 11,75% ao ano.

O banco ressalta que o Brasil vive um momento peculiar, com desemprego em níveis historicamente baixos, crescimento acelerado da renda e surpresas positivas no PIB. No entanto, esse desempenho contrasta com desequilíbrios econômicos persistentes, como o aumento do déficit externo e a utilização elevada da capacidade instalada. Apesar de resultados positivos em alguns indicadores, a inflação permanece pressionada, impulsionada pela depreciação cambial e pelos preços de proteínas, enquanto as expectativas de mercado estão desancoradas.

O relatório destaca que, embora o recente pacote fiscal do governo tenha introduzido ajustes no gasto obrigatório, as medidas são insuficientes para garantir a sustentabilidade fiscal no médio prazo. Isso agrava a incerteza fiscal e pressiona ainda mais as expectativas inflacionárias.

Por que manter alta em 0,50 p.p.?

Para o Bradesco BBI, a aceleração do ritmo para 0,75 p.p. não resolveria os desafios atuais e poderia aumentar a volatilidade do PIB e dos preços dos ativos. Os economistas do banco apresentam cinco pontos principais para justificar a manutenção do ritmo atual de alta:

  1. Foco em efeitos secundários: A política monetária deve combater os efeitos secundários dos choques primários, como a desvalorização cambial e os preços de proteínas, ao invés de reagir diretamente a eles.
  2. Limitações do Banco Central: O BC não tem como corrigir o problema fiscal que está desancorando expectativas e depreciando o câmbio.
  3. Defasagem da política monetária: O impacto das altas de juros leva tempo para ser totalmente absorvido pela economia. Alterar o ritmo de forma abrupta pode prejudicar a estabilidade econômica.
  4. Partida de juros altos: O Brasil já parte de uma base de juros reais elevada, considerada contracionista, apesar do impulso fiscal recente.
  5. Impacto limitado no câmbio: O câmbio, pressionado por incertezas fiscais, não tem respondido significativamente aos aumentos recentes da Selic.

Riscos de um choque na Selic

O banco alerta que um choque na taxa de juros poderia amplificar os riscos econômicos sem benefícios substanciais para o controle inflacionário. Além disso, argumenta que os efeitos do câmbio sobre a inflação, embora relevantes, não justificam a alta de juros já precificada no mercado.

Por isso, o Bradesco BBI defende que a estratégia de gradualismo, com elevações de 0,50 p.p., permite uma convergência mais serena da inflação sem comprometer o equilíbrio econômico. Para o banco, o momento exige persistência e paciência do Banco Central, em vez de ações abruptas que poderiam desestabilizar ainda mais o cenário.

Paulo Barros

Editor de Investimentos