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O relatório de emprego dos EUA, divulgado na manhã desta sexta-feira (1), poderia indicar, à primeira vista, um cenário para que o Federal Reserve continue subindo os juros. Contudo, uma visão mais detalhada mostra que os números foram “mistos”, reforçando a tese de que o Federal Reserve (Fed) deve manter os juros entre 5,25% e 5,5% na sua próxima reunião de política monetária, em 20 de setembro.
Isso porque, se por um lado, o payroll apontou a criação de 187 mil vagas no mês de agosto, 17 mil acima do esperado pelo consenso Refinitiv, por outro, os dados de desemprego também apresentaram ligeira alta. A taxa de desemprego subiu de 3,5% para 3,8%, enquanto a expectativa era que ficasse no mesmo patamar.
Além disso, também houve revisão no número de criação de vagas no mês anterior. Os dados de julho foram revisados para baixo, mostrando 157 mil empregos criados, em vez dos 187 mil relatados anteriormente. O ganho de salário também ficou abaixo do esperado, o que tende a diminuir a inflação.
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Na criação de empregos, há destaque para setores de lazer e hotelaria, que trouxeram números melhores do que no mês passado mas ainda em patamar inferior à media dos 12 meses. Para o setor de transporte, os dados se apresentaram negativos, com queda de 34 mil vagas, e para os principais setores da indústria, como mineração, petróleo e gás, e serviços, não houve variação considerável.
Aumento de juros ‘fora da mesa’
Segundo relatório do Morgan Stanley, os dados mostram “um mercado de trabalho que está se enfraquecendo, mas não entrando em colapso, mantendo, em nossa opinião, a possibilidade de um aumento em setembro fora da mesa”. De acordo com analistas do banco, o Fed já atingiu o pico deste ciclo de alta de juros em julho, com taxas entre 5,25% e 5,50%. Com a desaceleração clara na tendência de empregos, nos últimos trimestres, o banco entende que o número não “atende” aos critérios do Fed para aumento na próxima reunião.
“Há mais um indicador de inflação antes da reunião do Fomc em setembro, o que não deve levar o Fed a aumentar as taxas ainda mais, e sim a mover sua postura de aperto para uma postura mais neutra”, diz o Morgan Stanley. A expectativa é que o Fed mantenha a taxa de juros até o início dos cortes, no primeiro trimestre de 2024.
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“O desemprego ter subido e o crescimento de salário ter vindo um pouco mais fraco [alta de 0,2%, ante projeção de 0,3%] são mais importantes pensando em política monetária do Fed”, explica Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. A criação de vagas ligeiramente acima do esperado não seria um indicador de aquecimento de economia perante os outros dados.
“Os salários já estão perto dos 4% [de aumento] na comparação anual. O presidente do Fed considera um número de 3% para que sinta que a autoridade monetária possa parar de subir a taxa de juros ou pensar em cortes adiante”, destacou Cruz. Assim, em sua visão, os dados apresentados não são considerados negativos.
Para Andressa Durão, economista da ASA Investments, as revisões de payroll apresentadas em junho e julho compensaram, com folga, a surpresa de agosto. A economista também destacou que os dados ficaram piores por algumas greves em setores específicos. Ainda assim, o destaque, em sua visão, foi o aumento da taxa de desemprego, que indica fraqueza no mercado de trabalho dos EUA.
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“Maior oferta vinda do aumento da força de trabalho pode contribuir também para aliviar as pressões salariais. Os dados de mercado de trabalho encerram uma semana de dados doves, que corroboram o cenário de pausa pelo Fed”, entende Andressa.
Segundo André Cordeiro, economista-sênior do Inter, o resultado de fato aponta para desaceleração, em especial considerando outros números divulgados. “Apesar do resultado acima do esperado, a tendência do mercado de trabalho é de desaceleração, com a adição mensal abaixo da média mensal dos últimos 12 meses. Essa tendência também foi confirmada pelos outros dados divulgados essa semana como o JOLTS e o ADP”, entende.
Os dados indicam, para Cordeiro, que a política monetária tem desacelerado o mercado de trabalho de forma menos intensa que o esperado, principalmente em razão das distorções causadas pela pandemia e pela resposta do governo americano.
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Em relação ao impacto que a divulgação dos dados pode ter na decisão a ser tomada pelo Fed, Matheus Pizzani, economista da CM Capital, entende que “a composição do dado do Payroll divulgada caminha muito mais em linha com o cenário de manutenção dos juros no patamar atual do que a possibilidade de um novo reajuste altista”.
Entre as razões que explicam as variações nos dados apresentados, de acordo com Pizzani, estão a retomada da criação de vagas em segmentos como lazer e hotelaria. Apesar da recuperação no último mês, em relação a julho, os dados seguem bem abaixo da média dos últimos 12 meses, o que sugere desaquecimento do setor.
Outros setores sensíveis a ciclos econômicos, como transportes, serviços e setores da indústria ligados a atividades primárias, trouxeram quedas em dados ou desempenho nulo.
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“Estes movimentos indicam que a economia norte-americana realmente passa por um processo intenso de desaceleração, algo que já pode ser verificado em alguma medida pelos indicadores setoriais liberados ao longo das últimas semanas”, reforça o economista. A expectativa da CM Capital, portanto, é que a inflação siga sob controle.
“Na ausência de surpresas inflacionárias no último mês, a tendência é que a inflação siga apresentando trajetória mais comportada, reforçando a hipótese de que o Fed não irá realizar mais reajustes na taxa de juros daqui para a frente, com a condução da política monetária ancorada na sustentação dos juros em patamar elevado até a consolidação do processo de desinflação”, conclui Pizzani.
Essas visões se refletem no mercado, conforme aponta a plataforma de monitoramento do CME Group. Na tarde desta sexta, a plataforma mostrava que a probabilidade de que a referência dos Fed Funds seja mantida na próxima reunião do Fed era de 93%, ante 7% de uma alta de 0,25 ponto percentual. Ontem, as chances eram de 88% e 12%, respectivamente.