Podcast debate a decolonização da filantropia

Pesquisadores apresentam o conceito e propõem caminhos para uma prática mais voltada para o contexto brasileiro

Júlia Cunha

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Já parou para pensar para quem ou para quais entidades você tem feito suas doações, e de que maneira? Mudar a forma como pensamos e praticamos a filantropia, com um olhar menos eurocêntrico, por exemplo, está relacionado a um movimento cujo nome ainda é novo para muita gente: decolonização. O termo foi pauta do podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa!, produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior, Morro do Conselho Participações e Ambev, e divulgação do Infomoney. No episódio 63, os apresentadores Roberta Faria e Arthur Louback receberam Cássio Aoqui e Jéssica Gonçalves, da ponteAponte, uma consultoria com foco em qualificar o investimento social, ampliando seu impacto positivo, para falar mais sobre o tema.

O termo decolonizar guarda relação com o colonialismo, que diz respeito a uma lógica na qual os colonizadores conquistaram não só os territórios, mas também impuseram seus costumes e, consequentemente, a desvalorização da cultura e dos saberes locais. “Mesmo quando esses países deixaram de ser colônias, seguem vivendo baseados em uma estrutura de poder que vem herdada dessa época, e que mantém padrões como o racismo, o machismo e o eurocentrismo”, destacou Louback em sua introdução ao assunto.

De acordo com Cássio Aoqui, quando falamos em “decolonizar a filantropia”, nos referimos a encontrar e valorizar as experiências locais, sendo fundamental que a gente resgate e valorize as formas de ser, de pensar e de poder do Sul Global. “A ideia é como é que a filantropia pode e deve levar em conta todas as trajetórias, os percursos históricos e as fronteiras. Assim como Walter Mignolo, semiólogo argentino, defendeu como sendo a resistência às ideologias da modernidade, como o conservadorismo, o colonialismo e, por isso que a gente defende que a filantropia tem que ser antiracista, antepatriarcal, feminista, que seja realmente inclusiva”, explicou.

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Para a coordenadora de projetos da ponteAponte, Jéssica Gonçalves, a prática da filantropia já vinha desde os povos originários, muito antes da colonização. “O amor à humanidade já era praticado com o cuidado, com a doação do tempo, troca de recursos, bem viver coletivo. Isso se a gente for olhar no pé da letra é filantropia também. E como citou Ailton Krenak, o amor à humanidade é insociável a terra, da natureza, por isso podemos associar o estabelecimento de uma relação genuína entre indivíduo, a terra que nos cerca e a ideia de viverem em comunidade. Então eu acredito que uma das formas de inserir tanta cultura indígena e africana dentro da nossa filantropia é primeiramente reconhecendo”, apontou.

Como fechamento, os entrevistados falaram sobre como há movimentos fronteiriços, de resistência, que buscam trazer novas abordagens, olhares e novos paradigmas para a descolonização da filantropia. “A gente tem iniciativas que são absolutamente relevantes, que são voltadas à diversidade, por exemplo, e que contribuem para o giro decolonial na filantropia. Por exemplo, a Lente Preta para avaliação da equidade racial, no qual os avaliadores são negros. São iniciativas que vão contribuindo para a gente ir tecendo a narrativa de mudar a mentalidade da colonialidade”, concluem.