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A inflação oficial do Brasil em março medida pelo IPCA – de 0,16% – veio abaixo das projeções dos analistas de mercado e dos economistas, aliviando preocupações presentes nos indicadores de dezembro, janeiro e fevereiro. Esse cenário interno mais benigno, no entanto, leva o foco do Banco Central para fora, uma vez que o CPI americano, também divulgado hoje, piorou.
O risco é que o esperado início dos cortes de juros nos EUA seja adiado, não só para o segundo semestre do ano, mas para os últimos três meses de 2024. Com o diferencial de juros entre as duas economias sendo reduzido, a taxa de câmbio interna ficaria desfavorável, pressionado alguns preços, entre outros efeitos.
Essa é a opinião de Tatiana Pinheiro, economista chefe da Galapagos. “Não estou preocupada com a inflação no Brasil. Com a deflação no atacado, os IGPs [índices gerais de preços] permanecendo ainda na casa dos -4% em 12 meses e a taxa de juros real em 6%, bastante acima da taxa neutra estimada pelo BC, não vejo problema na inflação”, afirma.
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Ela destaca que, em março, se reduziram muito as pressões sazonais observadas em janeiro e fevereiro, como nos casos de alimentação e educação, incluindo alta de ICMS em alguns estados na telecomunicação, energia e combustíveis. Além disso, houve redução nos preços de artigos de residência, basicamente eletrodomésticos, móveis e utensílios.
Já a inflação de vestuário ficou próxima de zero, o que indica, segundo ele, que não há uma questão de demanda.
No caso da inflação de serviços, é fato que está caindo muito lentamente, mas a economista pondera que não esperava uma desaceleração mais rápida nesse ponto. “Essa inflação é maior mesmo, não só no Brasil. Uma das questões é que, na parte de bens, há uma concorrência maior, tem produção local e externa. Nos serviços, a competição é reduzia porque só tem o local, como educação, aluguel e reparo de produtos”, explica.
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Na Galapagos, a expectativa é de uma inflação de serviços entre 4% e 5% neste ano, mas Tatiana afirma ser possível alcança a meta de 3% para o IPCA mesma nessas condições. “Tem forças que possibilitam isso. A principal é a inflação de bens, com a deflação no atacado”.
Olhos na inflação americana
Mesmo com essa visão mais positiva sobre a inflação local, Tatiana não acredita que o Banco Central vá manter o ritmo de cortes de juros em 0,50 ponto percentual após a reunião de maio. O motivo é a inflação resiliente nos Estados Unidos, confirmada com a divulgação do CPI de março hoje. Segundo ela, se o início de cortes de juros prevista para junho nos EUA for colocado para o quarto trimestre, isso seria uma limitação para a política monetária do Brasil.
Ele lembra que tinha uma expectativa de que a Selic poderia chegar a 8% no final deste ano, com base no citado quadro de inflação doméstica que é muito benigno, na contínua luta do governo de se provar responsável fiscalmente e no corte de juros dos Fed funds. Um atraso na expectativa de flexibilização lá pode levar a uma pressão de câmbio no Brasil, argumenta.
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“Meu call de 8%, agora com a expectativa de que, talvez, os EUA cortem juros só no final do ano, passa para 9%. E dependendo de os Estado Unidos realmente cortar os juros no quarto trimestre. Se continuar nesse cenário de inflação mais resiliente, tirando a possibilidade de corte de juros neste ano, o BC pode parar de cortar antes de chegar nos 9%”.