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A incerteza gerada pelo novo cenário político, com a possibilidade de o ex-presidente Lula se candidatar e o risco de o presidente Jair Bolsonaro adotar uma agenda mais populista para ganhar popularidade até 2022, que se soma a um cenário já conturbado na economia, já fez consultorias e corretoras reverem suas projeções macroeconômicas para este ano e para o próximo. Em linhas gerais, os economistas apostam em inflação e taxa de juros mais altos, real mais desvalorizado e PIB mais fraco em 2022.
A XP Investimentos divulgou relatório nesta quarta-feira (veja mais clicando aqui), destacando que espera agora o dólar em R$ 5,30 ao final do ano, ante previsão passada de R$ 4,90. Com o câmbio mais depreciado e commodities ainda em alta, a expectativa é por maior pressão da inflação, o que leva a uma elevação da estimativa para Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021 de 3,9% para 4,9%.
“No Brasil, a dinâmica da pandemia piorou, demandando medidas restritivas mais duras. Na economia, a troca de comando na Petrobras, a decisão de subsidiar preços de diesel e gás de cozinha e a tramitação da PEC emergencial sinalizam o risco de maior intervenção política. Já a decisão do Ministro [Edson] Fachin de suspender as condenações do ex-presidente Lula no âmbito da Lava-Jato tende a intensificar a polarização nas eleições de 2022”, afirmam os economistas.
Eles também destacam a tramitação turbulenta da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) Emergencial, com sugestões como a retirada do Bolsa Família do teto de gastos apoiadas pela base do governo enquanto que, na Câmara, Bolsonaro sinalizou intenção de diluir as contrapartidas. Assim, os prêmios de risco dos ativos brasileiros tendem a ser persistentemente mais elevados.
Com esse cenário, a avaliação é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reaja prontamente; desta forma, os analistas elevaram a projeção da taxa Selic para 5,0% no final deste ano, para garantir IPCA na meta de 3,50% em 2022.
A equipe de análise econômica da XP aponta ainda que o recrudescimento da pandemia, a volatilidade dos mercados, a incerteza política e elevação da Selic afetam a atividade, a despeito da nova rodada de auxílio emergencial. Com isso, reduziu a projeção de crescimento do PIB de 3,4% para 3,2% em 2021. Para 2022, a projeção passou de alta de 2,0% para 1,5%.
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A MB Associados reajustou ontem suas estimativas para o IPCA deste ano, de 4% para 4,3%, e para a taxa básica de juros (Selic) em dezembro, de 4% para 5,5%. A consultoria também anunciou que deve rever a projeção do PIB de 2022 de 2,4% para abaixo de 2%.
“Temos dois candidatos com dificuldade de fazer gestão de política macroeconômica equilibrada. Bolsonaro está agora ainda mais impaciente para entregar algo para a população. Do lado do Lula, não o vejo fazendo uma Carta ao Povo Brasileiro. Não o vejo se aproximando do mercado. Ao contrário, a dificuldade em se relacionar com o mercado cresceu depois do impeachment da Dilma”, diz o economista-chefe da MB, Sérgio Vale.
Segundo ele, o estresse atual no mercado financeiro decorrente da incerteza política deve pressionar de forma mais permanente os preços dos ativos, como a moeda, que já está se desvalorizando. Um real mais fraco afetará o preço dos importados e, portanto, elevará a inflação. Esse cenário deve fazer o Banco Central subir a taxa de juros. Isso deve ter um impacto negativo na atividade econômica do próximo ano.
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Maior pressão
A Necton Investimentos também revisou o IPCA, de 4,1% para 4,58%, e a Selic, de 4% para 5%. Segundo o economista-chefe da corretora, André Perfeito, o que deve pressionar mais inflação e juro, agora, é o comportamento do presidente Bolsonaro. Perfeito diz ver Bolsonaro em posição fragilizada, encurralado por diferentes atores políticos, e tendo de escolher quem serão seus aliados. Nessa situação, pode optar por medidas populistas para evitar perder sua popularidade entre, por exemplo, militares e servidores, se indispondo com o mercado. “Há um conjunto de pressões em torno do presidente, e a questão Lula é mais uma que o joga para uma situação de desconforto.”
O economista afirma ainda que a incerteza política aumentou, o que eleva também o risco de se investir no País e a taxa de juros que os investidores pedem para emprestar ao governo. Tudo isso pode reduzir a quantidade de crédito na economia e dificultar a retomada econômica.
Apesar de a consultoria LCA não ter mexido em suas projeções, seu economista-chefe, Braulio Borges, afirma que possivelmente terá de elevar a atual estimativa da Selic – hoje em 4,5%. Para o PIB deste ano, ele acha difícil haver um resultado inferior aos 3,2% que projeta hoje por causa do carrego estatístico (quando a base de comparação é baixa – o resultado médio do PIB em 2020 -, mas o ponto de partida é elevado por conta da recuperação ao longo do último semestre do ano). Borges admite, no entanto, que talvez tenha de rever para baixo o de 2022, atualmente em 3%.
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Deterioração
Essa possível deterioração em suas estimativas, afirma o economista, também decorre do aumento da incerteza com o retorno de Lula à política. “A incerteza é a inimiga número um da decisão de se investir. O empresário vai postergando o plano de investimentos. E essa incerteza aumentou também porque não sabemos qual figurino o Lula vai vestir. Embora ele tenha sido pragmático a maior parte do tempo em que esteve na presidência, ele pendeu mais para a extrema esquerda nos últimos anos.”
A Tendências Consultoria deve divulgar suas novas projeções amanhã. O economista Silvio Campos Neto, sócio da empresa, destaca que a mudança no cenário da corrida eleitoral tem impacto maior sobre o câmbio. Outras revisões que estão sendo feitas decorrem também de alterações na economia internacional e no aumento dos riscos fiscais.
Para Campos Neto, a possível disputa entre Lula e Bolsonaro em 2022 interfere sobretudo no mercado financeiro no curto prazo. No médio prazo, pode fazer com que empresas retardem apenas os grandes investimentos. “Elas podem preferir aguardar uma definição do cenário político para ver para onde as coisas vão caminhar, mas o foco hoje ainda é a pandemia. Parte da recuperação está preservada no segundo semestre. Decisões de dia a dia de consumo de famílias e de empresas, como ajuste em estoque, estão preservadas.”
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(com Estadão Conteúdo)
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