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O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no quarto trimestre de 2021 surpreendeu não só pelo crescimento de 0,5% na comparação com o terceiro trimestre, mas também por melhorar o “carrego estatístico” para 2022, apontam economistas. No ano, a economia brasileira cresceu 4,6% e se recuperou das perdas de 2020.
Apesar da boa notícia, eles alertam que o país vem crescendo muito pouco há vários anos, que a previsão para a alta deste ano é bastante baixa (média de 0,3%, com algumas projeções de PIB negativo) e que 2022 será bastante desafiador em meio a uma nova realidade geopolítica mundial, inflação em alta, juros elevados por mais tempo e eleições presidenciais.
O efeito de “carrego estatístico” para 2022 é de 0,3 ponto percentual, segundo economistas consultados pelo InfoMoney. O “carrego estatístico” é quando o resultado de um trimestre causa um impacto positivo nos seguintes (assumindo taxas de variação nulas ao longo de ano).
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Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, diz que esse “carrego” positivo e “os dados um pouco mais positivos em janeiro e fevereiro” podem melhorar o PIB de 2022, apesar da guerra na Ucrânia e suas consequências. “Nossa previsão é de 0,7%, mas vemos possíveis revisões pra cima”.
Rodolfo Margato, economista da XP, é mais cauteloso. A expectativa é de uma alta de 0,4% do PIB no primeiro trimestre, mas diz “a economia brasileira deverá enfraquecer nos próximos trimestres, refletindo fatores como aperto da política monetária, níveis de renda deprimidos e elevação das incertezas no ambiente econômico global”.
“Portanto, mantemos uma postura cautelosa a respeito das perspectivas de crescimento econômico. Projetamos estabilidade para o PIB de 2022”, aponta a análise da XP sobre o resultado do PIB.
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Alexandre Schwartsman, economista, consultor e colunista do InfoMoney, diz que o resultado do quarto trimestre surpreendeu principalmente devido ao crescimento do agronegócio e ele muda a previsão para 2022, “mas não muda muito”. “Não muda a perspectiva que você vai ter trimestre após trimestre com crescimento baixo. Não é uma mudança fundamental”.
Schwartsman aponta como problemas para este ano a inflação alta (e o conjunto de choques inflacionários devido à guerra na Ucrânia que deve mantê-la em patamares elevados), a alta dos juros para combatê-la e o impacto da variante ômicron do novo coronavírus no primeiro trimestre. “Tem razões conjunturais para o país crescer pouco em 2022”.
Marcos Ross, professor de economia da FGV e economista-chefe do Haintong no Brasil, analisa que os resultados do agronegócio e de serviços foram muito bons no quarto semestre, pelo lado da oferta, e pelo lado da demanda o consumo privado e do governo e os investimentos tiveram um crescimento mais forte, mas não houve “grandes surpresas” no resultado.
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“O destaque é mais o debate para 2022. Com o ‘carrego estatístico’, pelo menos estatisticamente o resultado ser um pouco melhor, mas tem muitos riscos para o ano. Tem um ciclo monetário mais forte do que o mercado estava esperando, tem risco geopolítico, tem o cenário interno que é desafiador, com as eleições”, elenca o professor da FGV. “É mais provável que tenhamos uma contração do PIB em 2022”.
‘É muito pouco’
Ross também diz que a questão do carrego estatístico “é uma discussão muito menor”. “Eu concordo nos termos técnicos, mas ainda assim não muda qualitativamente o resultado de 2022. Se vai ser uma contração de 0,2% ou um crescimento de 0,2%, é muito pouco. É muito menos do que o mundo está crescendo”.
Levantamento compilado pela Austin Rating aponta que a alta do PIB do Brasil em 2021 ficou em 21ª em ranking com 34 países, atrás do resultado de Holanda, México e Suécia e à frente da Espanha. Mas o Brasil tem a menor projeção de crescimento para 2022 (a segunda pior é a do México, de alta de 1,9%).
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Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, diz que “historicamente o Brasil fica no meio ou na rabeira da tabela”, mas o problema maior do país não é a posição no ranking neste ano ou no ano passado, mas o baixo crescimento do país na última década.
“Se a gente pegar os últimos dez anos, de 2012 a 2021, na média o Brasil cresceu 0,4%. Os pares emergentes [Brics) cresceram 3,4%, o mundo cresceu 3% e mesmo os países desenvolvidos cresceram 1,2%”, compara Agostini.
“O mundo cresceu, os emergentes cresceram, e o Brasil não. Até os países desenvolvidos cresceram três vezes mais que a média do Brasil”, pondera o economista-chefe da Austin Rating. “Claramente isso mostra que o Brasil tem problemas que se sobressaem. O Brasil ainda tropeça nas próprias pernas. O que tem feito o Brasil crescer sempre de forma mediana é o baixo nível de investimento da economia e os problemas domésticos, principalmente fiscais”.
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“O quadro do Brasil já é anêmico e você adiciona uma pandemia que ainda não está controlada e você ainda adiciona em cima uma guerra que pode tomar proporções mundiais. E ainda tem eleição. Não dá para ser muito positivo com o crescimento do Brasil em 2022”, afirma Marcos Ross, professor da FGV.
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