PIB do 2° tri surpreende com indústria e serviços e deve levar a onda de revisões de projeções para cima

Queda de investimentos, contudo, é um ponto de preocupação para analistas

Camille Bocanegra

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Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre de 2023, divulgados nesta sexta-feira (1) foram recebidos com surpresa pela maioria dos analistas.

Com crescimento de 0,9% na comparação com os três primeiros meses do ano, os números apresentaram desaceleração em relação ao aumento de 1,8% do período anterior. Contudo, os dados ficaram acima do esperado: o consenso do mercado era de avanço de 0,3%, em relação ao trimestre anterior, e de alta de 2,7% em comparação ao mesmo período de 2022.

Segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney, o maior ponto de surpresa foi o crescimento da Indústria. A expectativa de estagnação do setor não se confirmou, graças aos dados fortes de mineração. O setor de serviços, que cresceu 0,6%, também compôs a alta do PIB e compensou o esperado recuo no Agronegócio, que encolheu 0,9%.

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Na comparação anual, o setor agrícola cresceu 17%. A queda em relação ao trimestre anterior se deu pela safra recorde de grãos no início de 2023.

“Essa surpresa do PIB vai provocar uma onda de revisão para cima do índice desse ano para 2,5% a 3%”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Setor industrial puxado por mineração

De acordo com o Santander, o crescimento acima do esperado reflete sinais “predominantemente positivos na composição” dos setores de abastecimento. O banco, que projetava crescimento de 0,1% do PIB em relação ao período anterior, destacou os setores financeiros, de serviços e de aluguéis.

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No setor industrial, o destaque apontado pelo banco foi a mineração (com crescimento de 1,8% em relação ao trimestre anterior), com menções também a setores cíclicos como Manufatura e Construção.

“Embora as condições financeiras continuem em níveis criticamente restritivos, os indicadores de atividade econômica têm mostrado alta resiliência em meio a um mercado de trabalho ainda apertado”, disse o banco em relatório.

“O que mais me chamou atenção foi a Indústria, que veio bem acima do esperado. Era esperada uma estagnação”, pontuou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. Spiess considerou que o dado traz viés positivo e que esse reflexo já se apresentou no dólar futuro e Ibovespa futuro nesta sexta.

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Para além do crescimento do setor industrial, Lucas Carvalho, analista-chefe da Toro Investimentos, destacou também o avanço de 0,6% do setor de Serviços. “A gente percebe que, quando o setor de Serviços está no campo positivo, a contribuição para a economia é muito grande”, explica.

Entre os pontos de preocupação de acordo com o analista-chefe, a taxa de investimentos, com valor abaixo em relação a 2022, deve ser acompanhada. No segundo trimestre deste ano, a taxa veio 17,2% do PIB, com queda em relação aos 18,3% do mesmo período do ano passado.

Revisão de projeções para cima

O consenso, mesmo entre analistas que esperavam dados menores ou maiores, é que as projeções serão revisadas. Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, que tinha uma projeção bem além do mercado, de alta de 1,1%, há expectativa de que a Indústria perca fôlego e que o setor de Serviços mantenha o ritmo, com desaceleração gradual até o fim do ano.

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“Apesar dos bons resultados do PIB no primeiro e segundo trimestres, nossa expectativa é que a economia desacelere fortemente na segunda metade do ano, podendo, inclusive, registrar contração na comparação trimestre contra trimestre. Esse esfriamento é reflexo do efeito do juro alto por período prolongado combinado a um ambiente de desaceleração global da economia”, apontou a economista.

De acordo com a XP, os números apontam para uma gradual desaceleração da economia. “Os temas de ‘aterrissagem suave’ e ‘atividade resiliente’ podem ser aplicados ao Brasil. Dito isso, espera-se que os próximos trimestres mostrem taxas de crescimento mais modestas (também devido à base de comparação elevada)”, diz em relatório.

Entre os pontos de atenção, segundo a corretora, estão os efeitos das condições de crédito, o esperado enfraquecimento no Agro e o desaquecimento do mercado de trabalho. A expectativa para o próximo trimestre é de queda de 0,3%, enquanto a atual projeção para o ano, de 3%, deve ser revista.

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O banco Goldman Sachs traz expectativas de benefício da atividade econômica pelo estímulo fiscal, expansão da massa salarial real e quedas na inflação. “A diminuição do impulso da reabertura econômica, condições monetárias e financeiras domésticas restritas, alto nível de endividamento das famílias, baixo nível de folga econômica, criação de empregos moderada e a incipiente reversão no ciclo de crédito devem gerar obstáculos à atividade além do segundo trimestre de 2023”, diz em relatório.

A previsão do banco, considerando as revisões de dados e o desempenho divulgado nesta sexta, é que o crescimento do PIB real em 2023 suba para valor acima do consenso de 2,65%.

“Os principais desvios vieram muito ligados às commodities”, explica Rachel de Sá, economista-chefe da Rico, que também destacou o crescimento expressivo anual da agropecuária, assim como o setor extrativo. A projeção do PIB do ano, de acordo com a economista, deve ter contribuição de mais da metade por esses setores.

“Vale lembrar que, na parte de agro, não há relação com o preço das commodities, é muito mais produção do que preço”, destaca Rachel. “Apesar de ser um olhar para o retrovisor, o PIB é um indicador para sinalizar o ritmo da economia. O que o resultado mostrou é que nossa economia está mais resiliente do que o esperado”, explica. Entre os destaques do PIB para a economista, além das commodities, há também o foco no consumo das famílias, que veio acima do esperado.

A expectativa para os próximos meses, contudo, é que o aperto no crédito reduza a capacidade de consumo das famílias e, com isso, a desacelere o setor de Serviços. No dado atual, os números menores de investimento demonstram esse enfraquecimento.

A economista destacou também que as projeções da Rico, hoje em 2,2% de crescimento para 2023, serão revisadas.

Para Leonardo Costa, economista da ASA Investments, as projeções são positivas. “Surpresa considerável no PIB do segundo trimestre, com dado qualitativo bastante benigno (desaceleração mais modesta nos serviços). Revimos o PIB de 2023 de +1,7% para +2,5%, com esperada desaceleração na segunda metade do ano”, afirma Costa.

O Itaú também apontou que, com o resultado de hoje, a projeção do PIB para este ano, de alta de 2,5%, deverá ser revista para cima. “Apesar do menor retorno do setor agrícola, o PIB ex-agro também surpreendeu positivamente, acelerando para 1,0% trimestral  no 2T23, de 0,4% trimestral  no 1T23. A resiliência do mercado de trabalho e o estímulo fiscal impulsionaram o crescimento do período”, avalia.

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