Petroleiras estatais vão unidas na COP 28 mostrar metas de descarbonização, diz Prates

Desde início do ano, Petrobras anunciou também que planeja construir parques eólicos offshore, com planos de entrar no hidrogênio verde

Estadão Conteúdo

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As empresas estatais de petróleo querem ir unidas à Conferência da Organização das Nações Unidas sobre mudança do clima em Dubai (COP 28), prevista para novembro deste ano. Chamado a fazer parte do grupo esta semana, durante o 8º Seminário da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o presidente da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, afirma que o objetivo é mostrar quais são as metas do setor, considerado o grande vilão da transição energética.

Prates observa que para as petroleiras, as mudanças rumo a uma economia descarbonizada são mais complexas. “Para nós o desafio é duplo, você tem que se transformar, eu chamei de metamorfose energética, para nós é mais do que uma transição energética, É deixar de produzir o que rende pra você e virar uma empresa de energia com outra fonte também, até um momento lá na frente que você vai passar a produzir outra coisa”, disse Prates ao Broadcast, após apresentação sobre descarbonização no seminário da Opep, em Viena, na segunda-feira, 10.

Desde que tomou posse, em janeiro deste ano, Prates criou a primeira diretoria voltada para a transição energética, ocupada pelo ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) Maurício Tolmasquim, que liderou a evolução da energia eólica no País. A estatal anunciou também que planeja construir parques eólicos offshore, com planos de entrar na produção de hidrogênio verde, e também caminha para desenvolver biocombustíveis em larga escala.

Segundo ele, o convite ocorreu após suas declarações, no início de junho, de que ser sócio do governo traz mais bônus do que ônus. As estatais do petróleo querem mostrar em Dubai que estão preparadas para a transição, apesar do evidente conflito de interesses. A ideia é estabelecer metas que serão atualizadas anualmente, disse Prates.

“Elas (petroleiras estatais) querem montar um grupo forte de empresas nacionais, no sentido de dizer quais as nossas metas, bem claras e factíveis e atualizadas anualmente. Nós não só vamos participar de forma muito eloquente, como teremos metas atualizadas anualmente”, afirmou.

Gás da Bolívia

A pressão pelo aumento da oferta de gás natural no Brasil pode levar a Petrobras a voltar a investir na Bolívia, país que mudou as regras dos contratos com as petroleiras que atuavam no país em 2007. De acordo com o presidente da Petrobras, conversas já estão acontecendo com o governo do país vizinho e é possível um acordo para a volta dos investimentos da estatal brasileira.

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Sob o governo de Evo Morales, a Bolívia mudou os contratos em 2007, de forma unilateral, o que desestimulou o investimento das petroleiras que atuavam no país, não apenas a Petrobras. Com isso, as reservas de gás bolivianas não evoluíram e hoje são ligeiramente superiores às da Petrobras, com 11 trilhões de pés cúbicos (FTCs), contra 10 FTCs da Petrobras. Com a mudança, as petroleiras ficaram com apenas 1% dos lucros obtidos pela produção.

“O goverment take (parte do governo) de lá é de 99%, sobra só 1% do lucro para o contratado, é um contrato de serviços. Então em termos fiscais, para todo mundo ficou um pouco agressivo e desinteressante”, explicou Prates ao Broadcast.

“A gente quer conversar sobre os termos fiscais e contratuais que nos permitam investir novamente na Bolívia. E depois, vamos discutir questões operacionais mesmo, as regiões, o interesse das áreas do ponto de vista geológico”, adicionou.

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Prates descartou qualquer via ideológica nas ambições da Petrobras. Segundo ele, as reservas da Bolívia “são as mais alcançáveis do que em qualquer país e já existe uma infraestrutura amortizada, o Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), que está sendo subutilizado”.

Em 2020, sob o governo Bolsonaro, a Petrobras abriu mão de receber 10 milhões de metros cúbicos de gás por dia (m³/d), de um total de 30 milhões de m³/d. Por sua vez, a Bolívia tem reduzido ainda mais a oferta, principalmente no inverno, quando o volume chega a cair de 20 milhões de m3/d para 12 milhões de m³/d.

“Faz todo sentido olhar a outra ponta e dizer, tem gás aí? Você esta me pagando pouco, está ruim, vamos melhorar isso juntos para todos melhorarem. Tem que ser melhor para os dois lados, não quero chegar lá com um monte de advogado e professores para ensinar fazer contrato”, explicou o executivo.

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Em maio, Prates se encontrou com o presidente da Bolívia, Luis Arce, em Brasília, no evento de líderes dos países da América do Sul, realizado pelo governo federal, no Palácio do Itamaraty, e marcou uma nova reunião para o segundo semestre deste ano, em data a ser definida. “Queremos pegar folhas brancas e tentar montar um sistema que seja bom dos dois lados”, afirmou Prates.

Ele alertou que os países que produzem petróleo, principalmente do mundo árabe (Emirados Árabe, Kwait, Catar, Arábia Saudita), querem que a mudança de carvão para gás natural seja reconhecida como um processo de descarbonização, como uma forma de fortalecer o mercado de Gás Natural Liquefeito (GNL).

“Na minha opinião, GNL é um mercado caro, e nós temos gás nos nossos territórios vizinhos, Argentina, Bolívia, Colômbia, e a gente consegue, no médio prazo, usar o gás que temos aqui, mas não dá para tudo, tem que priorizar alguma demanda”, avaliou.

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Opep

O executivo disse que convidou o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitan Al Ghais, para visitar o Brasil. Natural do Kuwait, Ghais morou seis anos no Brasil, em razão do trabalho do pai, e fala português.

“Convidei Haitan Al Ghais a vir ao Brasil em uma data e para uma agenda que sugerimos nos próximos dias. Ele aceitou, e teremos novidades interessantes em breve. Tivemos boas conversas em Viena, e continuamos em contato. Pontos de vista bem convergentes”, disse Prates em uma rede social.

O executivo destacou que a mensagem enviada pelo secretário da Opep ao grupo das sete maiores economias mundiais (G7) sobre a transição energética. “Vale a leitura para entender como a principal entidade setorial está reconhecendo e se preparando para realizar a transição energética”, disse Prates na rede social.

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O presidente da Petrobras tem afirmado que a transição energética para as petroleiras é mais que uma transição, “é uma verdadeira metamorfose energética. Ou seja, se transformar em outra coisa, sem parar de caminhar”, explica.

Em artigo dirigido ao G7, Ghais afirma que “pode não haver uma solução única para um futuro de energia sustentável, mas a colaboração e a ação inclusiva serão essenciais para alcançar uma transição justa e permanente”.

O secretário da Opep lembra que a demanda global de energia vai crescer 23% até 2045, segundo o World Oil Outlook 2022, e atender a esse aumento com segurança energética, acesso global e redução de emissões vai exigir todas as energias, investimento e colaboração.

“Somente para a indústria do petróleo, que responderá por quase 29% das necessidades de energia do mundo até 2045, os requisitos globais de investimento totalizam US$ 12,1 trilhões de agora até lá. Isso equivale a mais de US$ 500 bilhões por ano”, disse Ghais no artigo, ressaltando que os níveis anuais recentes de investimentos ficaram significativamente abaixo desse valor, devido à desaceleração do setor, à pandemia e ao crescente foco em questões ambientais, sociais e de governança.

No artigo, Ghais argumenta que não está havendo investimento suficiente em todos os tipos de energia, principalmente se se levar em conta que existem 700 milhões de pessoas que ainda não têm acesso à eletricidade e 2,4 bilhões usam sistemas ineficientes e poluentes. “O foco geral precisa estar na redução de emissões e no uso de todos os combustíveis em todo o mundo. Nesse sentido, não existe uma solução única para um futuro energético sustentável. O que é o caminho certo para um pode não ser o caminho certo para outro”, afirma.

Ghais finaliza o artigo, dizendo que aguarda com expectativa a realização da 28ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre mudanças climáticas (COP28), em novembro, nos Emirados Árabes, país membro da Opep, onde será realizado o primeiro balanço geral desde o Acordo de Paris (COP 21). Ele destacou a declaração feita pelo presidente da COP28, Sultan Ahmed Al Jaber, de que é preciso “energia máxima, emissões mínimas”. “Esta é uma lição importante para os líderes do G7 quando se reunirem em Hiroshima, pois planejamos uma transição energética ordenada, impulsionada pelos desafios de segurança energética, acessibilidade e sustentabilidade”, explica. “Como observei em várias ocasiões, esperamos que o futuro veja investimentos e financiamento na transição energética com foco em uma abordagem de todos os povos, todos os combustíveis e todas as tecnologias”, concluiu Ghais.