Período longo de expectativas de inflação desancoradas preocupa, diz Guillen

Diretor de Política Econômica do Banco Central lembrou nesta quinta-feira que as expectativas para o ano que vem e o seguinte já estão acima da meta há mais de 30 semanas, o que gera reindexação

Estadão Conteúdo

Diogo Abry Guillen, diretor do BC
(Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
Diogo Abry Guillen, diretor do BC (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)

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O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou nesta quinta-feira (7) que a preocupação com as expectativas de inflação para 2025 e 2026 não é somente com o nível acima da meta, mas também com o tempo em que elas estão desancoradas.

“Cria um farol apontando para o lado errado e isso vai se perpetuando em reindexação de salários e impacto sobre a definição de preços”, explicou o diretor, que frisou que entre os efeitos dessas expectativas desancoradas está a necessidade de juros em nível contracionista.

Ele lembrou ainda que as expectativas para o ano que vem e o seguinte já estão acima da meta de inflação há mais de 30 semanas.

Ao comentar sobre a evolução do processo de desinflação, o diretor do BC destacou a inflação de serviços e afirmou que a abertura teve certa queda seguida por certa estabilização.

Assim como outros dirigente do BC afirmaram recentemente, o diretor de Política Econômica disse que a autoridade monetária vai reavaliar o uso do instrumento do “forward guidance”. O BC tem dito que vê novas reduções da taxa Selic em 0,5 ponto porcentual como adequadas nas “próximas reuniões”, no plural, citando os dois encontros seguintes.

“Para a frente, a gente vai analisar. Será que a incerteza aumentou e o ‘forward guidance’ continua fazendo sentido, ou não continua fazendo sentido? É uma questão de confiança sobre o processo, de risco e retorno”, disse Guillen.

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Diogo Guillen se recusou a responder o que, na visão da autoridade monetária, vai determinar o nível da taxa Selic no fim do ciclo. “Isso é o ‘forward guidance do forward guidance’, eu não vou dar. Mas, disso tudo, é o compromisso com o atingimento da meta”, afirmou, respondendo a uma pergunta durante participação em evento do Goldman Sachs.

Ele disse ainda que, no curto prazo, o debate doméstico sobre a relação em atividade e inflação e os choques globais de política monetária são o principal desafio para o BC. No médio prazo, destacou a discussão sobre preços relativos. “Atuar em política monetária com choque em preços relativos é difícil”, afirmou.

Consenso

O diretor de Política Econômica do Banco Central reiterou que a expectativa de início dos processos de corte de juros é consenso entre os países, com uma discussão também compartilhada sobre se as taxas terminais serão ou não contracionistas. Os países, afirmou, em sua maioria, ou já iniciaram algum tipo de corte ou estão discutindo qual será o momento adequado para começar.

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Outra pauta comum entre os países, defendeu, é o processo de reancoragem das expectativas de inflação no horizonte. A velocidade do processo de desinflação, porém, deve ocorrer com certa heterogeneidade, a depender do tipo de política monetária e do ciclo doméstico de inflação e atividade, ponderou. “Tem uma velocidade de desinflação em dois estágios ao mesmo tempo que tem o compromisso dos bancos centrais em atingir a meta.”

O diretor do BC também retomou a discussão sobre a taxa de juros real ser alta no Brasil e frisou que para evitar comparar “banana com laranja” é necessário utilizar a taxa neutra dos países para realizar essa análise.

O diretor do Banco Central disse ainda que o conjunto de reformas econômicas dos últimos anos pode ter aumentado o PIB potencial do Brasil. Mas quantificar esses impactos é difícil, devido principalmente aos ruídos criados pela pandemia de covid-19, acrescentou.

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“Qualitativamente, eu acho que tem um aumento de PIB potencial, eu acho que as reformas empurram para o lado de PIB potencial, flexibilidade, melhoram a alocação de recursos. Agora, cravar um número de reformas no mesmo momento em que teve uma pandemia, eu acho difícil”, disse Guillen, durante a 11ª edição do Annual Brazil Macro Conference, organizada pelo Goldman Sachs.