PCE dos EUA em março mantém apostas de cortes de juros apenas no 2º semestre

Economistas consideram uma boa notícia o fato de a inflação de gastos com consumo em março não ter acelerado, mas acham que isso é insuficiente para o Fed antecipar cortes nas taxas

Roberto de Lira

Barraca de artesanato na Times Square, em Nova York (Foto: Eduardo Munoz/Reuters)
Barraca de artesanato na Times Square, em Nova York (Foto: Eduardo Munoz/Reuters)

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A manutenção da inflação do índice de gastos de consumo (PCE) dos Estados Unidos em março no mesmo patamar de fevereiro, ainda que esteja num nível que gera incômodo para o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), foi recebida com alívio pelos economistas.

A avaliação é que, embora o indicador não tenha trazido a esperada confiança pela autoridade monetária na continuidade do processo de desinflação, pelo menos não piorou a ponto de colocar em risco algum corte de juros neste ano.

O PCE mostrou alta de 0,3%  no mês tanto no índice cheio como na leitura de seu núcleo, permanecendo assim na mesma tendência do mês anterior. No acumulado de 12 meses, no entanto, o indicador passou de 2,5% em fevereiro ara 2,7% em março, com o núcleo se mantendo em 2,8%.

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Para Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, a boa notícia é que os dados divulgados nesta sexta-feira não excederam as expectativas do mercado. Por outro lado, a avaliação é que “eles não são suficientes para uma revisão das projeções do mercado sobre o início do corte de juros”.

A Suno passou a projetar o primeiro corte apenas em setembro, mas, nu cenário pessimista, com uma inflação menos benigna, o afrouxamento monetário poderia ocorrer só em novembro.

“Importante ressaltar que ainda o cenário é de incertezas sobre a evolução da inflação e do mercado de trabalho. O presidente do Fed, Jerome Powell, sinalizou em um evento que os dados recentes não deram maior confiança para o início dos cortes de juros e, portanto, o banco central continuará adotando uma postura cautelosa”, comenta.

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Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, analisa que os números da inflação cheia e de núcleo vieram marginalmente acima das projeções de mercado. “Os dados de março da inflação de consumo nos EUA não alteram o contexto delineado pelo Fomc ao longo dos últimos meses e não contribuem para gerar a confiança extra de que a inflação está de fato convergindo de forma sustentável para a meta de 2%.”

Para ele, a leitura do PCE deve apenas confirmar a recalibragem das expectativas que ocorreram em abril e agora apostam que o início do ciclo de cortes de juros só irá acontecer no final do ano e que, provavelmente, ele será mais tímido, com uma redução de algo entre 0,25 ponto percentual ou 0,50 p.p. no ano.

Igliori, no entanto alerta que os dados relativamente fracos do PIB do 1º trimestre, divulgados ontem, colocam no radar a possibilidade (ainda que remota) de um processo de estagflação sendo gestado. “Inflação resistente e atividade fraca é tudo que se quer evitar. Os dados dessa semana certamente aumentam as tensões nos dias que precedem a próxima reunião do Fomc na semana que vem”, analisa.

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Leonardo Costa, economista ASA Investments, por sua vez, destaca que a medida trimestral anualizada da inflação ainda mostra aceleração no núcleo, o que suscita preocupação para o Fed e tende a empurrar a aposta de cortes de juros para a segunda metade do ano.

“A preocupação segue no dado de serviços, que voltou a subir no começo de 2024, aumentando o nível de preocupação do Fed, que deve reforçar a paciência e maior atenção aos dados futuros.”

Observando os dados

John Kerschner, Head de produtos securitizados dos EUA e gerente de portfólio da Janus Henderson, comenta que o início de 2024 tem sido em grande parte marcado pela remoção das estimativas de cortes excessivamente agressivos antecipados pelo Fed.

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Para ele, a postura “dovish” de Powell no final de 2023 foi confrontada com pressões inflacionárias persistentes e um ambiente de crescimento dos EUA mais resiliente e estável. “Leituras de inflação recentemente mais fortes do que o esperado deixaram os mercados nervosos, já que as taxas atingiram máximas de 2024 e estão exibindo extrema volatilidade. O Fed voltou a ‘observar os dados’ para informar sua decisão”, comenta.

Com isso, cada nova leitura de inflação tem uma importância elevada, e o mercado precisava de uma leitura “em linha” para confirmar que o Fed não estava começando a perder essa batalha.

Kerschner  diz que a boa notícia é que o núcleo do PCE, a medida preferida do Fed para a inflação, confirmou que a persistência da inflação está se mantendo, mas não está acelerando como alguns temiam. “O fato concreto é que o Fed precisa ver leituras mensais com média na faixa de 0,15% a 0,20% para chegar à sua meta declarada de 2%, o que neste momento parece um pouco distante.”

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Embora a inflação ainda esteja muito alta para o conforto do Fed, se o progresso continuar, ainda pode ser razoável assumir um, talvez dois cortes em 2024. O sólido panorama de emprego, a atual força do crescimento dos EUA e a desaceleração, mas persistência, da inflação dão à equipe de especialistas da Janus Henderson confiança de que a paciência do Fed é a abordagem correta.”

George Mateyo, chefe diretor de investimentos da Key Wealth, disse à CNBC que os relatórios de inflação divulgados nesta manhã não foram tão positivos quanto se temia, mas os investidores não devem ficar excessivamente ancorados na ideia de que a inflação foi completamente curada e que o Fed reduzirá as taxas de juros no curto prazo.

“As perspectivas de cortes nas taxas permanecem, mas não estão garantidas. E o Fed provavelmente precisará de fraqueza no mercado de trabalho antes de ter confiança para cortar.”

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