Para Galípolo, ainda não se pode dizer que pressão na inflação de serviços vem de salários

Diretor de Política Monetária disse em palestra na terça-feira que inflação do segmento é global e que há 'quebra-cabeças' a serem desvendados; ele evitou relacionar 'guidance' do BC com Selic terminal

Estadão Conteúdo

Diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo  (Paulo Bareta)
Diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo (Paulo Bareta)

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O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, voltou a ressaltar sua preocupação com a inflação de serviços nesta terça-feira (5), mas não mostrou estar convencido de que as principais pressões de preços vêm dos salários. Ele destacou que a inflação do setor tem vários “quebra-cabeças”, e não é um problema particular do Brasil.

Durante palestra no lançamento da André Perfeito Consultoria (APCE), Galípolo disse que a inflação de serviços tem vários mistérios a serem desvendados no Brasil e que é preciso tempo para dizer que ela vem mesmo dos salários.

“Não é possível ainda ver link entre mercado de trabalho e pressão nos serviços”, afirmou. “Não consigo ver uma correlação elevada com a inflação de serviços com salários”, disse. 

Segundo ele, essa inflação poderia se dever à problemas específicos do Brasil, mas deve ser levado em consideração que ela foi global. Como autoridade monetária, o diretor disse que a instituição é obrigada a sinalizar aquilo que está preocupando. “Cada um de nós busca explicações idiossincráticas para uma inflação que é global.”

Sinalização e taxa terminal

 

O diretor do BC destacou ainda que uma mudança no “foward guidance” da autoridade monetária, que atualmente projeta cortes de 0,50 ponto percentual na taxa Selic para as próximas reuniões, não necessariamente trará correlação com a taxa terminal do ciclo de redução da Selic.

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Ele reiterou que a dependência de dados por parte do BC está “acima” de seu “guidance” e que uma mudança no cenário econômico esperado poderia fazer a autarquia alterar sua projeção para a política monetária.

“A ausência de sinalização por parte do Copom sobre a taxa de juros terminal decorre de que a gente adotou o ‘pace’ (ritmo) de 50 pontos-base justamente para colher a vantagem, ganhar tempo e ver como as coisas vão se desdobrar”, acrescentou.

Na reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juros foi cortada em 0,50 ponto percentual, o quinto corte consecutivo dessa magnitude, atingindo o patamar de 11,25% ao ano. O Copom voltará a se reunir em 19 e 20 de março.

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Autonomia

 

No evento, Galípolo, evitou entrar em detalhes sobre o debate acerca da ampliação da autonomia da autarquia. Nesta semana, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, defendeu a autonomia financeira e administrativa da instituição, e disse ser um “passo natural”.

O diretor, no entanto, se limitou a dizer que a discussão de um espaço para melhora institucional da autarquia deve envolver os funcionários do banco e o Poder Executivo. Reforçando o que disse o presidente da instituição, Galípolo disse mostrar os benefícios de avanço institucional do BC eliminará este “Fla-Flu de momento”.

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O diretor do BC também afirmou que as demandas trabalhistas na autarquia são legítimas e válidas pelos anos de represamento nos reajustes salariais, mas também evitou entrar em detalhes.

(Com Reuters)