Para economistas, BC mostrou querer mais liberdade de ação ao alterar sinalização

Especialistas não veem mudança de rota, mas apenas um ajuste necessário, dado que as incertezas aumentaram desde o início do ano

Roberto de Lira

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O Copom optou pela prudência ao modificar sua sinalização para as decisões futuras de política monetária ao retirar o plural na comunicação sobre os novos cortes de juros, segundo a avaliação dos economistas. Para eles, foi mais um ajuste, tanto para evitar um excesso de otimismo no mercado como para permitir mais liberdade de ação para o BC, num caso de piora nas expectativas.

Em entrevista ao vivo para InfoMoney no Youtube, Gabriel Redivo, sócio e diretor de gestão da Aware Investments, avaliou que essa mudança não deve gerar nenhum alarde, nem tampouco um sinal vermelho para as projeções de Selic.

Ele destaca que os juros já recuaram 3 pontos percentuais sequencialmente desde 2022. “O carro acelerou muito e está dando uma pausa, então sinalizou que não vai acelerar tanto. Dará uma acalmada, para ver a inflação e as expectativas”, ponderou.

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Para ele, essa cautela maior se explica porque o mercado teve um rally no final do ano passado, com um otimismo exagerado. “O mercado precifica cortes pelo Fed já em março e teve um choque de realidade. Vejo coerência por parte do BC nessa cautela, sinalizando para que o mercado não venha com um otimismo tão exagerado”, comentou

Ele disse ainda que o cenário descrito por Fed e BC hoje é o mesmo que a maioria das casas de investimentos. “Não existe medo ou receio de um cavalo de pau e a inflação voltar a subir”, disse.

Ele reconheceu, no entanto, que a mudança pode fazer algum ruido, principalmente nos juros futuros, mas acredita o movimento deve ser tático e de curto prazo, no máximo até a próxima semana. “Tudo veio muto em linha com o que o mercado vinha apresentando”, repetiu.

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Rodolfo Margato, economista da XP, por sua vez, analisou que, devido ao aumento das incertezas no cenário econômico global e também na conjuntura doméstica, houve a opção pelo BC por um “ganho de graus de liberdade e de flexibilidade na condução de política monetária”.

“Nosso cenário base continua indicando uma Selic no final do ciclo de 9%. O próprio Copom não alterou o seu cenário base, mas destacou a elevação das incertezas e essa também é a nossa interpretação”, disse.

Inflação de serviços

Para Luis Cezario, economista chefe da Asset 1, ao colocar o trecho da comunicação no singular, o BC  foi motivado por alguns fatores. O primeiro foi a inflação de serviços subjacentes, que voltou a subir nos últimos meses. E  mercado de trabalho seguiu aquecido, enquanto os salários reais têm subido em ritmo acelerado.

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Ele citou ainda o pagamento de quase R$ 100 bilhões de precatórios no final do ano passado gerou um novo impulso fiscal que deve estimular o crescimento econômico no 1º semestre deste ano. Por fim, a constatação de que cenário internacional permaneceu incerto.

“Diante do risco da inflação de serviços ficar mais elevada por mais tempo e dificultar o processo de convergência da inflação para a meta de 3%, é natural que o comitê queira ter mais flexibilidade para reagir a eventuais mudanças no seu cenário base”, explicou.

Para Leonardo Costa, economista da ASA Investments, o aumento da incerteza citado no balanço de riscos pelo BC pareceu balizar a mudança nas indicações futuras, embora o detalhamento dessa análise só deva aparecer na Ata do Copom, na semana que vem. “A primeira leitura indica um comunicado ‘hawk’ [duro]”, disse.

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Embora o modelo do BC não tenha sofrido alteração, com projeções de  3,5% para o IPCA de 2024 e de 3,2% para 2025, ele destacou uma mudança nos grupos, com a estimativa de preços livres mais baixos neste ano, “o que pode ser explicado pelas taxas mais baixas no subitem passagem aérea”.

Incerteza maior

Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, também deu destaque para a citação de que a autoridade monetária entendeu que a incerteza aumentou, o que demanda uma maior flexibilidade na condução da política monetária. “O efeito prático foi então passar a sinalizar apenas a próxima reunião, e não mais pelo menos duas”, comentou.

“Com isso, a autoridade monetária se mostra mais conservadora do que o mercado esperava e, de fato, demonstra maior propensão a continuar um ciclo de maneira mais prudente e cautelar na sua etapa final.”

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Já para Roberto Padovani, economista chefe do banco BV, o Copom optou por mais flexibilidade, não se comprometendo com as próximas decisões. “A mensagem é que, na reunião de maio, ele ainda pode cortar meio ponto, mas deixa a porta aberta para as reuniões a partir de junho”, explicou.

A avaliação do BV é que o Banco Central deve reduzir o ritmo de cortes para 25 ponto percentual, encerrando o ano em 9%. E, em 2025, para o nível de 8,5%. “Portanto, uma decisão um pouco mais cautelosa, mas dentro do esperado pelo mercado.”

Na opinião de Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, o Copom “parece ter adotado o meio termo, indicando a magnitude de corte apenas para a reunião subsequente e deixando em aberto os passos seguintes, a depender da evolução do
cenário”.

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