Para analistas, payroll deve apontar para desaquecimento ainda lento do mercado de trabalho

Criação de vagas em março deve ficar entre 235 mil e 240 mil, dado ainda insuficiente para que Fed interrompa ciclo de alta

Roberto de Lira

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O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulga nesta sexta-feira (7) o payroll de março, o principal indicador do mercado do país e um dos mais importantes para a tomada de decisão do Federal Reserve sobre a política monetária. As projeções do mercado estão entre a criação de 235 mil e 240 mil vagas fora do setor agrícola no mês, abaixo portanto das 311 mil anunciadas em fevereiro. Mas analistas alertam que o dado, se confirmado, ainda é alto e significa que o desaquecimento do mercado de trabalho continua lento.

Outros indicadores que saíram na semana sobre emprego e desemprego confirmam o cenário. O relatório Jolts, que aponta o número de vagas abertas, mostrou na terça-feira (4)  um número de 9,9 milhões de vagas no final de fevereiro, o primeiro resultado abaixo de 10 milhões de vagas abertas desde maio de 2021.

Ontem, o Relatório Nacional de Emprego, produzido pela ADP Research Institute, informou que os Estados Unidos criaram 145 mil vagas no setor privado em março, dado abaixo da estimativa do mercado de 200 mil vagas. Mas o indicador de fevereiro foi revisado para cima, passando de 242 mil para 261 mil vagas.

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Nesta manhã, foi divulgado que o número de pedidos de seguro-desemprego somou 228 mil na semana encerrada em 1° de abril, 18 mil abaixo do registrado na semana anterior e baixo do consenso Refinitiv, que previa 200 mil pedidos.

Para Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, esses dados de emprego que saíram até o momento são consistentes com um cenário apertado no mercado de trabalho e apontam para uma desaceleração lenta.

“O mercado de trabalho vai começar a ceder aos poucos. Isso é consistente com juros altos. O Fed só faria uma pausa na próxima reunião (em maio) caso os dados no mercado de trabalho fossem uma surpresa, mostrando um desemprego maior”, comentou. Ela destacou que a taxa de desemprego de 3,5% continua num patamar muito baixo.

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Caso dos dados venham em linha com a expectativa, Claudia acredita que o Fed deve decidir por um novo aumento de 25 pontos-base na taxa de juros. Além do desemprego, o Banco Central americano ainda levará em conta, segundo a economista, o fato de a inflação continuar em patamar ainda muito alto.

“Para estabilizar os preço, o Fed vai continuar usando a taxa de juros e vai manter essa taxa alta por bastante tempo, até 2024, para conseguir desacelerar o mercado de trabalho”, previu.

Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad, também comentou que, quanto mais forte estiver o mercado de trabalho nos EUA, mais altos serão os juros que a autoridade monetária tende a propor para controlar a inflação.

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“A taxa de desemprego tem se mantido abaixo dos 4% desde fevereiro do ano passado. A expectativa do mercado é que ela se mantenha nos 3,6% na próxima divulgação”, afirmou.

Marcelo Oliveira, sócio-fundador da Quantzed, espera que o payroll venha abaixo das previsões, como já ocorreu neste semana com o Jolts e o ADP, que poderia aliviar um pouco os juros. Mas ele vê o mercado ainda dividido entre projeções de um nova alta de 25 pontos-base pelo Fed ou uma manutenção na reunião de maio.

“Todos os dados que saíram essa semana vieram piores do que o esperado, mostrando uma possível recessão chegando. Isso poderia ser um motivo para o Fed rever sua política de decisões sobre juros”, comentou.

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No entanto, Oliveira também lembrou dos pronunciamento recentes de membros do Federal Reserve mantendo o discurso de que farão o necessário para trazer a inflação para a meta de 2%. “Então, na minha opinião, segue favorito termos mais uma alta de 0,25% na reunião de maio”, afirmou.

A Guide Investimentos afirmou em relatório nesta manhã que o payroll vem surpreendendo os investidores sucessivamente sempre se mostrando mais forte ante as expectativas. “Ainda que o ADP tenha dado um spoiler, a correlação do payroll com o ADP não tem sido respeitada ultimamente”.

Para o Bradesco, a pesquisa ADP de março sugere uma possível desaceleração no ritmo de contratações. A isso pode ser somado que as vagas de emprego disponíveis recuaram para o menor patamar desde 2021.

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“Esse conjunto de indicadores é especialmente relevante por sinalizar algum arrefecimento das dinâmicas inflacionárias à frente. Caso se confirme, essa trajetória pode reduzir a necessidade de novas altas de juros pelo Fed”, analisou o banco em relatório.

A Levante destacou em relatório que, depois da própria inflação, os banqueiros centrais consideram que o indicador econômico mais relevante é o emprego. Por dois motivos. O primeiro é que ele é um indicador “atrasado”. Ou seja, é o que demora mais tempo para reagir às decisões de política monetária. O segundo é por ele ser um indicador determinante.

“Pessoas empregadas (e com salários crescendo) consomem mais e mantém os preços elevados. Pessoas sem emprego, ou com salários menores, consomem menos e desaceleram a inflação. Assim, se os indicadores de emprego mostrarem que há menos americanos trabalhando e menos dinheiro circulando entre os assalariados, será uma comprovação de que o aperto na política monetária que se iniciou em 2022 já está fazendo efeito sobre a economia real”, explicou a Levante.

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Segundo o texto, pode ser uma boa hora para o Federal Reserve interromper seu processo de ajuste e avaliar se já fez o suficiente para conduzir a inflação de volta às metas. “Daí a importância do número que será divulgado na sexta-feira para os juros americanos e para os preços dos ativos financeiros em países desenvolvidos”, comentou.

A projeção da casa de investimento é que indicador mostre a abertura de 240 mil vagas em março, seguindo o padrão dos outros indicadores de emprego, que vieram abaixo do esperado.