Países da América Latina e Caribe devem manter baixo nível de crescimento em 2023 e 2024, diz Cepal

Espera-se um crescimento médio do PIB regional de 1,7% neste ano, recuando para 1,5% no ano que vem, com espaço fiscal desafiador

Roberto de Lira

Bandeiras de países da América Latina (Foto: Shutterstock)
Bandeiras de países da América Latina (Foto: Shutterstock)

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A América Latina e o Caribe deve manter em 2023 e 2024 os baixos níveis de crescimento econômico verificados no ano passado, com as economias locais sendo bastante afetadas pelas perspectivas econômicas globais e regionais muito complexas. Espera-se um crescimento médio do PIB regional de 1,7% neste ano, recuando para 1,5% no ano que vem.

As projeções estão em relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), divulgado nesta terça-feira (5). Segundo o estudo, apesar das quedas nas taxas de inflação, os países desenvolvidos provavelmente continuarão com as suas políticas monetárias contracionistas, com as taxas de juro ainda altas, mantendo os custos de financiamento para os países da região em patamares elevados.

Segundo a Cepal, a dívida pública dos países da região, embora tenha diminuído, permanece em níveis elevados em relação ao PIB, o que, juntamente com o aumento das taxas de juro externas e internas e uma queda esperada nas receitas fiscais devido ao menor crescimento, leva a um espaço fiscal limitado para a região como um todo. Além disso, prevê-se menos dinamismo na criação de emprego, em maio a crescentes exigências sociais.

“O baixo crescimento da América Latina e do Caribe pode ser agravado pelos efeitos negativos de choques climáticos, se não forem feitos os investimentos em adaptação e mitigação às mudanças climáticas que os países exigem”, comentou em nota o secretário executivo da Cepal, José Manuel Salazar-Xirinachs.

Para 2023, a Cepal projeta que todas as sub-regiões apresentarão um crescimento menor em relação a 2022: a América do Sul cresceria 1,2% (ante 3,7% em 2022), o grupo formado pela América Central e o México teria crescimento de 3,0% (3,4% em 2022) e o Caribe (sem incluir a Guiana) teria avanço de 4,2% (ante 6,3% na mesma comparação).

As projeções para 2024 indicam que o baixo dinamismo econômico na região continuaria. O principal motivo é que o contexto internacional deverá continuar desfavorável, com o PIB mundial e o crescimento do comércio bem abaixo das médias históricas.

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Ao mesmo tempo, o espaço reduzido para a política fiscal permanecerá, embora a redução da inflação na região abra mais espaço para a política monetária nos países. Dadas essas circunstâncias, prevê-se para 2024 um crescimento médio de 1,2% para a América do Sul, 2,1% para a América Central e o México e 2,8% para o Caribe (sem incluir a Guiana).

O Estudo Econômico de 2023 indica ainda que o baixo crescimento da atividade em 2023 e 2024 resultará num abrandamento do crescimento do emprego, estimado em 1,9% em 2023 e 1,1% em 2024.

Da mesma forma, há uma preocupação com a qualidade do emprego neste contexto de baixo crescimento, uma vez que é muito provável que os trabalhadores se tornem mais vulneráveis, tenham níveis mais baixos de proteção social e sejam empregados em setores menos produtivos.

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“Dados os desafios de impulsionar o crescimento e combater as alterações climáticas, é essencial impulsionar o investimento público e privado. O investimento público na região é baixo em comparação com as economias avançadas, e mesmo em comparação com outras regiões em desenvolvimento. Este nível reduzido de investimento traduziu-se num estoque de capital público -infraestrutura – insuficiente para dinamizar o crescimento econômico e promover o desenvolvimento produtivo”, destaca o relatório da Cepal.

Mudanças climáticas

Para a Comissão, o impactos macroeconómicos das alterações climáticas poderão ser muito significativos para os países da região. As estimativas apresentadas na Pesquisa Econômica da América Latina e do Caribe 2023 indicam que, em 2050, o PIB de um grupo de seis países poderá ser entre 9% e 12% inferior ao correspondente a um cenário de crescimento tendencial, se os investimentos forem não foi feito para compensar os choques climáticos.

O volume adicional de investimento necessário é excepcionalmente grande, entre 5,3% e 10,9% do PIB por ano. Isto representaria um aumento significativo em comparação com os atuais níveis de investimento.

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Contudo, a capacidade de investir dependerá tanto do acesso ao financiamento como do seu custo, diz o relatório. “É necessário aumentar consideravelmente o financiamento para sustentar as trajetórias de investimento ao longo do tempo. Estes esforços devem ser acompanhados de políticas macroeconômicas internas que favoreçam a mobilização de recursos”, afirmou Salazar-Xirinachs.

A Cepal recomenda esforços nacionais, regionais e globais em quatro áreas principais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas: espaço fiscal, através do aumento da arrecadação e da progressividade da estrutura fiscal, despesas públicas verdes e acesso a novos mecanismos de financiamento, como títulos temáticos; gestão de riscos financeiros e cambiais por meio da política macroprudencial; e mecanismos de alívio da dívida, como o estabelecimento de mecanismos institucionais para a sua reestruturação, e a inclusão de cláusulas relacionadas com desastres e furacões, além de cumprimento das metas climáticas.