O que explica o crescimento surpreendente da economia brasileira?

Ministério fala em “nova dinâmica” da economia brasileira; analistas citam fatores externos e internos

Roberto de Lira

(Getty Images)
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Na última quinta-feira (15), novas sinalizações sobre a economia brasileira aumentaram o otimismo com a resiliência da atividade. De manhã, o Banco Central (BC) revelou que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de julho havia avançado 1,17%, muito acima do consenso do mercado, que era de alta de 0,30% (Refinitiv). Praticamente ao mesmo tempo, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia divulgou novas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, dos 2% estimados em julho para 2,7% agora.

Como explicar a “surpresa” dos economistas com o aquecimento da atividade econômica no Brasil além das expectativas? Analistas e economistas observam que existe uma soma de fatores estruturais e conjunturais a serem ponderados.

Na entrevista para detalhar as novas projeções oficiais, o chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos do Ministério da Economia, Rogério Boueri, sugeriu que os modelos usados tanto pelo mercado como pelo próprio Ministério estão subestimando o que ele chamou de “nova dinâmica” da economia brasileira.

Relatório do Departamento de Economia do Bradesco, chefiado por Fernando Honorato Barbosa, destacou que, a julgar pelas previsões médias feitas no início do ano, a “surpresa” positiva tem sido superior a 1,5 ponto porcentual desde então.

Para Rachel de Sá, economista chefe da Rico Investimentos, um dos fatores que explicam o motivo de o PIB estar crescendo mais do que o imaginado anteriormente é a força da reabertura da economia, especialmente nos no setor de serviços.

“Vale destacar que mais de 70% da nossa economia é composta por serviços, que é também o setor que mais emprega no país. Assim, o crescimento do setor – que engloba desde serviços de transporte e carga, manicures e restaurantes, até bancos – é muito importante para o crescimento da economia do País como um todo”, apontou.

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Ela citou ainda que o aumento das transferências do governo às famílias ajuda a impulsionar a renda disponível. Rachel destaca que, logo após a liberação de saques emergenciais do FGTS e do adiantamento de benefícios de aposentados na primeira metade do ano, o Congresso Nacional aprovou um pacote de gastos sociais válidos até o fim desse ano, como o Auxílio Brasil e benefícios como vale gás e auxílio para caminhoneiros.

O relatório do Bradesco também cita esses fatores conjunturais, mas faz uma análise também estrutural em busca das explicações. Ou seja, os fatores são tanto globais como locais.

Fatores externos

Para a equipe do banco, a economia global cumpriu um papel relevante para o desempenho brasileiro. Isso porque, desde 2020, vários países tiveram forte expansão fiscal e praticaram uma expansão da política monetária sem precedentes. Tudo em nome do combate aos efeitos da pandemia.

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Somado a isso, as cadeias globais de produção conseguiram se adaptar mais rápido que o esperado às condições da crise sanitária e isso impediu um colapso na oferta de bens e serviços.

Enquanto isso, o rápido desenvolvimento das vacinas contra a covid-19 contribuiu para o retorno à normalidade em prazo inferior ao que se temia, o que acelerou planos de retomada.

“Esse ambiente de estímulos à demanda e de apetite ao risco beneficiou duplamente os países emergentes, através de fluxos de capital e elevação nos preços das commodities”, diz o relatório.

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No caso do Brasil, a consequente desvalorização do real em relação ao dólar expandiu a renda dos produtores de commodities, ajudando a impedir a queda mais forte da demanda doméstica.

Fatores internos

Em paralelo, houve forte estímulo das políticas locais. O Bradesco destaca que o gasto público brasileiro e as políticas de preservação da renda durante a pandemia ficaram acima da média dos emergentes – em muitos casos, em linha ou superiores aos observados nos países desenvolvidos.

Também contribuiu para isso a manutenção por um tempo da menor taxa de juros nominal e real desde a estabilização da moeda no País – no início da pandemia, a taxa estava em 4,25% a.a. e foi reduzida para 2% anuais entre setembro de 2020 e janeiro de 2021.

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Isso permitiu uma reestruturação de dívidas das empresas e famílias em condições mais favoráveis. A redução da dívida corporativa, por exemplo, tem permitido às empresas aumentarem a taxa de investimento e enfrentarem o atual ciclo de juros altos com balanços mais ajustado, comentou o banco.

Reformas e desafios pela frente

Também é citada a contribuição da aprovação recente de reformas estruturais, como a da Previdência e do Teto dos Gastos, que podem ter ampliado a resiliência da economia a choques. Essas reformas levaram a uma forte queda dos juros reais dos títulos públicos antes da pandemia.

O relatório cita ainda outros fatores como mudanças no mercado de crédito e na forma da geração de empregos após a reforma trabalhista.

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Por outro lado, pondera a equipe de análise, legados dos estímulos e da incerteza quanto ao arcabouço fiscal futuro precisam ser endereçados.

“Se foi notável a queda de juros após as reformas da previdência e do teto de gastos, também é notável a reversão desse processo com a inflação decorrente do ambiente externo e dos estímulos locais combinada com as incertezas fiscais. A inflação vem sendo tratada com a elevação da Selic, o que levará à desaceleração do crescimento no próximo ano”, avaliam os economistas.

Já as sucessivas alterações nas regras fiscais – ainda que em alguns casos justificados pela pandemia e pela guerra – enfraqueceram o papel do teto como âncora da política fiscal, destaca o Bradesco. “Quanto antes houver clareza sobre o arcabouço fiscal futuro, mais cedo veremos a reversão desse quadro de juros elevados no país e mais fácil será o trabalho de convergência da dívida pública e sustentação do crescimento”, conclui.

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