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O Brasil tem pelo menos 14.444 mil veículos jornalísticos ativos, de acordo com o último levantamento do Atlas da Notícia, publicado em fevereiro de 2022. O número é ainda maior quando falamos da grande mídia, que engloba não apenas jornais, revistas e portais de notícias, mas também as produções de entretenimento, como as novelas, os reality shows e programas de auditório, tão tradicionais no país.
Na outra ponta, aqui mesmo no Brasil, temos ao menos 314 mil organizações da sociedade civil ativas, segundo dados do último levantamento do IBGE. O número apontado pelo Ipea é ainda maior – 820 mil ONGs, que empregam ao menos 1,7 milhão de pessoas e correspondem a 1,4 % do Produto Interno Bruto, o que significa um montante de aproximadamente R$32 bilhões.
Não é difícil imaginar que, com números tão relevantes, o trabalho realizado pelas organizações da sociedade civil chame a atenção da mídia, que enxerga a potência do terceiro setor na sociedade e sua influência em gerar pautas diversas, seja para os noticiários, seja para suas produções. Mas, não é bem assim. A atuação do terceiro setor ainda carece de mais espaço para além dos momentos de emergência, como vimos durante a pandemia e em outros acontecimentos recentes, como o caso das enchentes no nordeste do país. Mas como a mídia pode fortalecer a cultura de doação?
Para o comunicador Paulo Lima, criador e diretor-executivo do projeto Viração Educomunicação – Organização da Sociedade Civil que une comunicação, educação e mobilização social junto a jovens, adolescentes e educadores, uma das soluções seria ter representantes da sociedade civil organizada dentro das redações. “Criar em seus conselhos de Redação a possibilidade de participação dessas pessoas pode oxigenar as mentes dos jornalistas, das coberturas. Pode contribuir para que não seja uma coisa apenas de soluços”, orienta.
E, de fato, contar histórias sobre os projetos sociais, sobre o trabalho das organizações e falar abertamente sobre a doação promove um impacto importante na mobilização da sociedade em torno do tema. “É muito curioso observar isso. Você está ali em um momento do dia em que não está sendo falado nada sobre as campanhas e está ali, quase zero o número de doações, e quando entra um conteúdo no ar, um pedido de doação, uma matéria no Jornal Nacional contando a história de uma organização, o número de doações dispara, em dois, três minutos”, conta Rafael Marques, supervisor executivo de valor social da Rede Globo, responsável pela gestão dos programas Criança Esperança e da plataforma Para Quem Doar, em entrevista ao podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa!
Ele aponta, ainda, casos interessantes em que o engajamento da sociedade para a doação foi ampliado em momentos não apenas de veiculação no noticiário, mas também em produções da dramaturgia, como as novelas. É o poder de contar boas histórias. Um caso emblemático vem de 2104 com a novela ‘Em Família’, que trazia o drama de um personagem, interpretado pelo ator Reynaldo Gianecchini, que passava por um transplante de órgão. “Uma semana depois da cena do transplante ir ao ar, nós recebemos uma mensagem de um médico agradecendo a produção da novela, dizendo que após a veiculação da cena, ele trabalhou por dias, sem parar, porque a disponibilidade de órgãos aumentou muito. E aí, a gente pegou o depoimento deste médico e foi investigar mais a fundo e a partir de dados do Ministério da Saúde, vimos que três meses após aquela cena na novela, o número de doação de órgãos aumentou 34% no país”, relembra.
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Para ouvir a entrevista completa, acesse.