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Os dados da inflação do consumidor em abril nos Estados Unidos têm contado praticamente a mesma história desde o início de 2023, destacam analistas: o índice CPI cheio, que inclui variações de preços mais voláteis, como energia e alimentos, está em lenta desinflação, mas o núcleo que exclui esses itens se mantém teimosamente nos mesmo patamares. Segundo os especialistas, ainda será necessário mais tempo para que a política monetária restritiva mostre efeitos nessa inflação subjacente.
O CPI de abril subiu 0,4% em abril, em linha com as estimativas, e mostrou alguma aceleração em relação ao 0,1% de março. Na comparação com abril, a alta foi de 4,9%, ante expectativa de 5%.
Mas o núcleo da inflação subiu 0,4% e está praticamente há cinco meses no mesmo patamar – a exceção foi fevereiro, quando subiu 0,5%. A taxa anualizada está em 5,5%, ante 5,6 um mês antes.
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Pata Gustavo Sung, esse dado resiliente deve continuar a pressionar o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em suas próximas decisões e comunicações. “Apesar de a inflação cheia estar desacelerando, o núcleo precisa dar mais sinais de arrefecimento para que o Fed tenha condições de encerrar o ciclo ou até reduzir a taxa de juros no futuro”, comenta.
Sung também cita que alguns grupos como alimentos e serviços mostram desaceleração nos últimos 12 meses, mas que no caso dos serviços essa retração tem sido mais lenta: em abril, esses preços subiram 6,8%, ante 7,1% em março. E os preços de moradia e aluguéis ainda continuam apresentando certa estabilidade.
“Diante desse cenário, acreditamos que a batalha não está vencida. Ao nosso ver, a inflação no país está desacelerando, mas alguns grupos merecem atenção”, avalia, lembrando ainda que o mercado de trabalho precisa dar mais sinais de arrefecimento.
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Ele comenta também que os recentes episódios negativos no sistema financeiro americano parecem, de certa forma, controlados, porém podem trazer alguma volatilidade aos mercados caso apareçam mas casos.
Diante desse quadro, Sung acredita que o Fed deve evitar qualquer tipo de movimento brusco para evitar algum ruído ou perda de credibilidade.
“De qualquer forma, esperamos o fim do ciclo em breve, mas é possível que tenhamos uma nova alta até o fim do ano, chegando a 5,25%/5,50% ao ano. E, o juro deverá permanecer no pico por um bom tempo até que a inflação dê sinais de convergência para meta de longo prazo, 2% a.a.”
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Mais tempo
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, concorda que, embora não tenha surpreendido os agentes de mercado, a abertura qualitativa do indicador não é tão positiva quando é levado em consideração o momento do aperto monetário implementado pelo Fed. Ele considera um pouco otimista a projeção de que instituição promoverá cortes nos juros ainda este ano.
Para ele, a resiliência do núcleo do CPI mostra que a política monetária ainda necessita de mais tempo para se disseminar de maneira eficiente pelo conjunto da economia. Pizzani também diz que, caso uma melhora mais perceptível não seja sentida ao longo dos próximos meses, o cenário de uma retomada do aperto monetário se mostra mais provável do que a execução de cortes dos juros do país.
“Tal percepção é reforçada quando analisamos o comportamento dos índices subjacentes, especialmente no caso da série do índice de preços de moradia, que no acumulado anual se manteve acima dos 8%, patamar que vem sendo mantido ao longo de boa parte das divulgações desde o último semestre, sinalizando o quão distante o Fed ainda está de alcançar sua meta de longo prazo”, comenta.
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O economista da CM Capital considera que os avanços constatados no resultado do CPI de abril ainda se devem aos preços mais voláteis da economia, com o grupo de alimentação não apresentando variação pelo segundo mês consecutivo.
Isso se deve à deflação observada no grupo de alimentação no domicílio, que saiu de -0,3% para -0,2%, enquanto o segmento de alimentação fora do domicílio desacelerou de 0,6% para 0,4% na base de comparação mensal, compara Pizzani. “Em 12 meses, contudo, o grupo de alimentação segue com alta de 7,7%, resultado expressivo e historicamente elevado”, completa.
Ele cita ainda o grupo de energia, que apresentou crescimento de 0,6% na comparação mensal, insuficiente para reverter a deflação de 3,5% observada em março. “Mas coloca o grupo novamente em rota de crescimento, algo que pode preocupar a autoridade monetária em função da possível perda dos avanços conquistados até aqui em termos de controle de preços, permitidos em grande medida pelas sucessivas deflações do próprio grupo de energia”, alerta.
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Em suma, a avaliação é que o cenário da política monetária dos Estados Unidos ainda não sofreu grandes alterações com os dados divulgados até aqui. “O momento atual demandará cautela excessiva por parte do Fed, que terá de equilibrar a tarefa de controle inflacionário com as preocupações acerca da saúde financeira do país”, diz.
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, afirma que a composição do núcleo do CPI mostra que a inflação de bens não é mais uma preocupação, mas que, por outro lado, a inflação de serviços continua sendo o desafio.
“O índice de serviços segue pressionando a inflação, reflexo de um mercado de trabalho ainda aquecido. A boa notícia é que preços de aluguéis começam a ceder e devem contribuir para uma desaceleração da inflação à frente”, afirma.
Para a economista, como o Fed mantém a estratégia de tomar sua decisão sobre juros baseado em dados, a comunicação da autoridade monetária corrobora a visão do C6 Bank que a taxa de juros americana deve permanecer no nível atual, ou um pouco acima, por longo tempo.
“Em nossa visão, o mercado de trabalho deve desaquecer lentamente e manter uma pressão sobre a inflação por um período prolongado. Não esperamos que os juros americanos caiam antes de meados de 2024”, estima Claudia.
Ele pondera, no entanto, que esse início do corte de juros pode ser antecipado caso haja um aperto de crédito mais intenso decorrente do colapso de alguns bancos regionais nos EUA.
Na análise da Genial Investimentos, os dados de abril dão respaldo para o Fed pausar o ciclo de alta de juros, mas ao mesmo tempo desaconselham fortemente cortes nas taxas no segundo semestre desse ano, conforme vem sendo precificado pelo mercado financeiro.
É lembrado que um relatório recente do banco central norte-americano mostrou que os bancos esperam aperto nas condições de crédito no restante do ano em decorrência do aumento da incerteza e da piora no ambiente econômico.
Além disso, os bancos também relataram normais mais rígidas para empréstimos na esteira do aumento da aversão ao risco, dos custos de financiamento e de temores acerca das posições de liquidez.
“Nesse contexto, o Fed deve passar a focar os seus esforços em estabilizar o mercado de crédito, passando a reagir menos a dados de inflação de alta frequência”, comenta a Genial, relatoria assinado por José Marcio Camargo e equipe.
Visão mais otimista
Marcelo Oliveira, CFA e sócio-fundador da Quantzed, está numa ponta mais otimista do mercado. Ele classifica como positivo o fato de o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, ter vindo dentro do esperado (+0,4%).
Sem surpresas negativas no CPI em abril e levando em consideração que os dados do Payroll foram revisados para baixo recentemente, Oliveira diz que o mercado espera uma manutenção de juros nos EUA pelo Fed na próxima reunião, em junho.
Para Kenneth Tjonasam, estrategista de portfólio da Global X, dado que o crescimento do CPI em 12 meses ficou abaixo de 5%, o Federal Reserve pode introduzir mais um aumento de taxa ou mesmo fazer uma pausa, para avaliar a persistência da inflação e os efeitos defasados da política monetária na economia.
“A pausa parece mais provável, considerando a transmissão contínua de defasagem e a postura cautelosa do Fed. De acordo com o CME, há 81% de chance de que o Fed faça uma pausa na próxima reunião do Fomc, reforçando ainda mais essa visão. Essa pausa permitiria ao Fed avaliar o impacto de suas ações anteriores e monitorar as pressões inflacionárias antes de fazer novos ajustes em sua política monetária”, comenta
Ele afirma que uma pausa ou até uma sinalização de corte nos juros seria um sinal positivo para o mercado. “Esse cenário provavelmente beneficiaria as ações ‘proxy’ de crescimento de longa duração, já que taxas de juros mais baixas tendem a apoiar empresas com perspectivas de crescimento mais altas e horizontes de investimento mais longos”, explica.
André Kitahara, gestor de macro da AZ Quest, também vê sinais positivos no CPI de abril. Ele destaca que a alta da inflação no mês foi puxada pelos preços dos carros usados, o que já era esperado.
A grande surpresa do índice, no entanto, ficou com um núcleo específico do setor de serviços, excluindo moradia (“shelter”), diz Kitahara, que subiu 0,10% nas contas da AZ Quest. “É um nível bem-comportado de inflação core. A resposta do mercado hoje tem sido positiva. Tira um pouco o risco de ter mais uma alta de 25 pontos-base na próxima reunião. O mercado precifica agora algo próximo de zero”, afirma.
Andressa Durão, economista da ASA Investments, afirma que o mercado estava receoso com um número pior da inflação em abril, mas que o resultado em linha com as projeções fortalece um cenário de manutenção dos juros na reunião do Fed de junho. E os discursos dos membros do FOMC têm vindo também nessa linha.
“Olhando a abertura do CPI, destacamos a alta de aluguéis e veículos usados. Quando excluímos a parte de aluguéis do núcleo de serviços, como o Fed costuma olhar, o resultado é ainda mais favorável. Já o núcleo de bens, que conta com carros usados, tem tido movimento pior”, comenta.
O Bank of America comenta em relatório que os núcleos da inflação continuam se movendo lateralmente e que m teimosamente altos, mas diz que os detalhes do indicador de abril foram encorajadores.
Em primeiro lugar, o BofA cita que a alta de 0,4% no índice cheio foi impulsionada por um aumento de 4,5% nos preços de carros usados, primeiro aumento desde junho passado, e que isso representou 14 pontos-base do aumento do núcleo. “Acreditamos que o Fed possa observar parte desse aumento, já que os preços no atacado caíram acentuadamente em abril, após quatro altas consecutivas”, diz o banco.
Embora em níveis ainda altos, o banco viu também sinais mais comportados da inflação de serviços básicos, aluguéis, serviços de educação e comunicação. “A menor probabilidade de uma alta (de juros) em junho é amplamente consistente com o arrefecimento dos componentes cíclicos, particularmente os serviços principais ex Shelter (moradia), nos quais Powell orientou o mercado a se concentrar”, diz o BofA.