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O economista Eduardo Giannetti acredita que o Brasil virou “pária” internacional na questão ambiental porque o tema caiu – ao lado de setores como cultura e relações internacionais – nas mãos da ala “obscurantista” do governo Jair Bolsonaro.
“O presidente acredita que, ao fazer isso, está conquistando o apoio de certos grupos que serão importantes para seu projeto político. É uma mistura de cálculo político com desinformação”, afirmou ele, durante a série de entrevistas Economia na Quarentena.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Quando falamos em crise econômica no Brasil, não existe um cenário mais amplo a ser analisado relacionado a respeito, educação e diálogo?
Se tem uma coisa que não falta no Brasil é crise. Vivemos crises de diferentes temporalidades e gravidades. Temos uma crise de saúde, na qual o Brasil não está sozinho, mas o quadro aqui se tornou pior do que precisava ser porque temos uma crise política. E há uma crise econômica.
O Brasil mal tinha saído de um período de recessão seguido por um de estagnação quando foi pego pela necessidade de conter o impacto imediato do coronavírus.
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Temos uma crise crônica de saúde, com epidemias de dengue, de zika. São 35 milhões de brasileiros sem água encanada, 100 milhões de brasileiros sem coleta de esgoto. É a crise estrutural brasileira, que é de desigualdade crônica e estrutural.
O Brasil vive diferentes crises ao mesmo tempo. A gente tem dificuldades em definir prioridade para sair delas?
Eu prefiro falar de falta de clareza do que sobre a noção de projeto, como se alguém pudesse desenhar o que deve ser o Brasil em 20 ou 30 anos. Mas nós temos de ter clareza em relação ao que é absolutamente prioritário. Por exemplo, saneamento básico. O Estado arrecada 33% da renda nacional – contando o déficit de 6% do PIB, 39% do que o País gera passa pelo setor público.
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E o que temos? Falta de saneamento básico, ensino fundamental deplorável, saúde pública deficiente e transporte público vexaminoso. Como pode um país de renda média onde o governo concentra 39% da renda não conseguir dar conta dessas necessidades. No caso do saneamento, é algo que o mundo desenvolvido conseguiu resolver no século 19.
Depois do auxílio de R$ 600, a popularidade do governo Bolsonaro melhorou. Com a aproximação das eleições, o ajuste fiscal corre o risco de ficar para trás?
Um grande risco que corremos é de uma guinada populista fiscal na fase final do governo Bolsonaro. Ele já fez uma guinada política, se jogando nos braços do Centrão, depois de ter prometido que não faria isso na campanha.
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Quando a questão da reeleição estiver muito acesa, corremos esse risco. Isso pode levar a dívida publica a uma tendência de crescimento e levar a uma insolvência do Estado. Eu ainda acredito que a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, serve de anteparo a essa ameaça.
Se essa equipe sair, como aconteceu com o Sergio Moro no Ministério da Justiça, estamos em maus lençóis. Podemos ter uma recaída no pior tipo de populismo – não de esquerda, mas de direita.
O Brasil também vive uma crise ambiental. Dá para melhorar a imagem do Brasil no exterior em relação a este tema?
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Isso não será feito com discurso e nem com propaganda. Isso será feito com resultados. Se o Brasil conseguir reduzir significativamente as queimadas na Amazônia, mostrar que está punindo quem desrespeita a lei, isso nos trará o mínimo de respeitabilidade na questão ambiental.
Dentro do arranjo dos grupos em que foi dividido o governo Bolsonaro, as áreas de meio ambiente, educação, cultura e relações internacionais caíram nas mãos do que há de mais obscurantista, que chamo núcleo familiar-astrológico.
Isso sinalizou para quem quer desrespeitar a lei e ocupar ilegalmente terras, desmatando-as, que liberou geral. Não é à toa que o Brasil virou um pária internacional. Estamos perdendo recursos a fundo perdido.
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A política ambiental pode ser justificada só pela ignorância, ou há interesses por trás dela?
Acredito que é uma mistura de obscurantismo ignorante e oportunismo político. O presidente acredita que, ao fazer isso, está conquistando o apoio de certos grupos que serão importantes para seu projeto político. É uma mistura de cálculo político com desinformação.
Em 30 anos como deputado federal, Bolsonaro apresentou dois projetos que se transformaram em lei. Um deles foi a pílula do câncer. O Brasil elegeu para a Presidência da República uma pessoa que acredita na pílula do câncer! É um vexame.