Mesmo após falências de bancos nos EUA, risco sistêmico é baixo, diz Capital Economics

Empresa de análise e pesquisas vê setor bancário mais capitalizado e menos exposto; consumidores estão menos alavancados

Roberto de Lira

Silicon Valley Bank (Justin Sullivan/Getty Images)
Silicon Valley Bank (Justin Sullivan/Getty Images)

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Há um sentimento entre os especialistas nos Estados Unidos de que os problemas dos bancos americanos podem estar apenas começando – após as falências do Silicon Valley Bank (SVB), do Signature Bank e do Silvergate -, mas uma repetição dos problemas que levaram à crise financeira global está muito distante. O diagnóstico está em relatório da empresa de análises Capital Economics

O estudo, assinado por John Higgins, economista chefe de Mercados da empresa, prevê que as condições de crédito nos EUA devem ficar mais apertadas à medida que os bancos continuem a refrear seus empréstimos, mas o cenário base é que uma grande crise bancária comparável à de 2008/2009 será evitada.

Ao explicar a crise de liquidez atual, a Capital lembra que houve forte aumento do rendimento dos títulos no ano passado, decorrente da dramática alta nas taxas de juros. Com isso, os bancos comerciais dos EUA acumularam grandes perdas líquidas não realizadas em seus títulos de dívida sensíveis à taxa de juros. O SVB foi vítima desse cenário, explicitado após uma corrida aos depósitos.

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Ainda que admita que possam surgir problemas semelhantes em outros bancos comerciais nos EUA, o relatório afirma que a indústria como um todo não tem um índice de depósitos não segurado preocupantemente alto ou perdas não realizadas em títulos “mantidos até o vencimento” em excesso de capital.

Além disso, diz a empresa, se mais esqueletos emergirem do armário, é provável que sejam bancos que foram relativamente pouco regulamentados porque representam riscos menores para a economia como um todo.

“Talvez o lugar para procurar problemas seja em economias onde as famílias estão mais endividadas e há risco de os preços das casas caírem mais acentuadamente do que nos EUA”, comenta o relatório.

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O motivo para essa previsão mais otimista é que o sistema acabou ficando mais resiliente após aquele período conturbado, especialmente por avanços na regulação, o que reduz as preocupações.

Risco menor

A primeira diferença entre os dois períodos citada pela Capital Economics é o fato de os empréstimos a mutuários com baixa capacidade de pagamento serem menos comuns hoje. Naquela época, recorda o texto, havia muitos empréstimos de pessoas de baixa renda para a compra de casas, num ambiente de taxas de juros muito baixas e generosidade por parte dos credores.

Quando a saturação do setor de construção levou a uma queda abrupta dos preços das casas, essas pessoas se tornaram incapazes de refinanciar seus empréstimos quando as taxas de juros subiram os bancos ficaram relutantes em emprestar. E os preços dos contratos MBS lastreados em empréstimos subprime desmoronaram.

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Com os ativos dos bancos extremamente vinculados ao mercado imobiliário residencial, essa instituições estavam com bases de capital insuficientes para lidar com as consequências da queda no valor dos MBS.

A crise de crédito e a fraqueza nos mercados exacerbaram a desaceleração da economia, aumentaram ainda mais os empréstimos inadimplentes dos bancos, corroendo o capital à medida que mais dinheiro era reservado para lidar com perdas reais e prováveis. “Isso levou a mais quedas nos preços das casas em um ciclo de feedback adverso antes que as autoridades finalmente salvassem o dia”, diz o relatório.

Mas há uma diferença crucial hoje, segundo a Capital Economics: o mercado de MBS de marca privada e não garantidos por agências encolheu consideravelmente desde o período que antecedeu a última crise.

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No final de 2021, esse tipo representava apenas 12% ou mais de todos os MBS em circulação, em comparação com cerca de 40% em 2006. E a participação dos MBS residenciais subprime de marca própria no total despencou de cerca de 20% para apenas cerca de 2 % na mesma comparação.

Endividamento menor

O segundo ponto de diferença citado pela empresa de análises é que os consumidores americanos estão menos alavancados atualmente, especialmente no mercado imobiliário, onde uma regulamentação mais rígida restringiu as taxas de empréstimo em relação ao valor.

A medida do Federal Reserve do índice de serviço da dívida hipotecária, por exemplo, está em torno de 4%, em comparação com os mais de 7% no quarto trimestre de 2007. Além disso, o estudo lembra que hoje há mais proteção no seguro hipotecário.

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Por fim, é destacado o fato de que, mesmo com as última falências, os bancos estão mais capitalizados no geral.

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