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Analistas voltaram a debater nesta quinta-feira (12) o risco de a política de juros do Banco Central perder o poder de domar a inflação por conta de um desarranjo das contas públicas, em um dia no qual indicadores de mercado aparentaram não responder como esperado ao choque de juros anunciado na véspera pela autoridade monetária.
Especialistas alertaram para o impacto da forte alta da taxa básica sobre o custo da dívida pública em meio a questionamentos sobre a credibilidade das contas do governo, embora ainda não vejam elementos que apontem para a chamada dominância fiscal.
Uma fonte do Ministério da Fazenda disse que, com o choque na Selic, esperava que os juros futuros apontassem para patamares mais altos no curto prazo, mas uma redução das taxas mais longas, considerando uma possível percepção de que o combate à inflação seria mais efetivo e viabilizaria taxas menores no futuro.
No entanto, após registrar recuo no início do dia, as taxas longas de juros encerraram esta quinta em alta.
Em outra frente, o aumento da diferença entre a Selic e os juros nos Estados Unidos, que tende a ampliar o fluxo de recursos para o Brasil, associado à intervenção cambial anunciada na quarta-feira e levada a cabo nesta manhã pelo BC, poderia valorizar o real, o que também não se sustentou. O dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,90%, cotado a 6,0128 reais.
“O mercado está na fase do exagero, pode ter achado que o BC carregou demais na mão. Era para ter segurado o câmbio no comunicado duro, mas não está segurando. Realmente, parece uma percepção do mercado de dominância fiscal”, disse a fonte sob condição de anonimato.
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A dominância fiscal é caracterizada por uma perda de eficácia da política monetária em cenário de desarranjo das contas públicas. Em ambiente desse tipo, uma alta nos juros básicos pelo BC para domar os preços eleva o gasto do governo com pagamento de juros da dívida pública e aumenta o problema fiscal a ponto de deteriorar expectativas de mercado, afetando condições financeiras, como o dólar, o que acaba por pressionar ainda mais a inflação.
Para a fonte da Fazenda, os fundamentos do país não apontam para um estado de dominância fiscal e um ajuste de curto prazo na Selic não deve retirar a sustentabilidade da dívida pública.
Para cada ponto percentual de alta da Selic, o custo de rolagem da dívida pública cresce cerca de R$ 45 bilhões, considerando que esse patamar dos juros seja mantido ao longo de um ano.
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O governo anunciou no fim de novembro medidas de contenção de gastos, mas o pacote não foi bem recebido pelo mercado, com avaliações de que as iniciativas não serão suficientes para sanear as contas públicas.
Relatório divulgado nesta quinta pela Capital Economics afirma que o Brasil não está em uma situação de dominância fiscal, mas aponta que há razões para que o tema siga como uma preocupação.
O documento cita que os custos da dívida pública são altos, em boa parte indexados pela Selic, e afirma que o governo parece estar inclinado a priorizar uma política fiscal expansionista em detrimento da austeridade necessária para controlar o endividamento.
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O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, avaliou que o Brasil não se encontra em dominância fiscal, mas alertou para riscos à frente.
“Ainda não estamos nesse tipo de situação, mas a questão é que não se trata de 8 ou 80. Se nada for feito de relevante para sanar o déficit público e realinhar as expectativas, o destino pode ser esse”, disse, em publicação na rede social X.
Relatório do economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, enviado a clientes na noite de quarta, após o anúncio do Copom, afirmou que a incerteza sobre os resultados do pacote fiscal do governo, associada à decisão do BC, pode ampliar o risco de dominância fiscal.
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“A escolha do Copom pelo choque (nos juros) recoloca o risco adicional de dominância fiscal, pois a única garantia, por ora, é o aumento da despesa (do governo) com juros”, disse.