Mercado de trabalho ainda está apertado, mas economistas veem sinais de estabilidade

A estabilidade em 6,5% do dado com ajustes sazonais e o crescimento mais lento da massa de rendimentos podem ser esses indícios

Roberto de Lira

Pessoas procuram emprego no centro de São Paulo (Foto: Amanda Perobelli/Reuters)
Pessoas procuram emprego no centro de São Paulo (Foto: Amanda Perobelli/Reuters)

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Embora a taxa de desemprego medida pela PNAD Contínua do IBGE ainda tenha continuado a demonstrar a força do mercado de trabalho — a taxa de 6,1% no trimestre é a menor da história –, alguns economistas passaram a ver sinais de que pode estar chegando um ponto de inflexão. A estabilidade em 6,5% do dado com ajustes sazonais e o crescimento mais lento da massa de rendimentos podem ser esses indícios.

Leonardo Costa, economista do ASA, destaca que a taxa dessazonalizada está 6,5% pelo quarto mês consecutivo e que a população ocupada segue avançando em ritmo modesto, com crescimento de +0,2% na margem, com total de 103 milhões de pessoas ocupadas.

“O ritmo de crescimento da massa salarial efetiva foi mais fraco em outubro, com alta de 4,3% na comparação interanual”, comenta.

Outro dado divulgado hoje pelo Ministério do Trabalho, o Caged de novembro, corrobora esses sinais: houve geração de 106,6 mil postos de trabalho no mês, com o dado sem sazonalidade registrando 88,4 mil postos, o menor resultado mensal de 2024. E a média móvel trimestral desacelerou para 111 mil vagas, o menor valor desde meados de 2023.

“O dados do Caged têm sido mais contundentes em evidenciar a desaceleração do mercado de trabalho, com ritmo menos aquecido de geração de postos de trabalho”, diz Costa.

Em sua opinião, o mercado de trabalho tende a se deslocar de maneira bastante gradual, mas se mantém robusto nos últimos meses, com pequena desaceleração. “Esperamos alguma piora, mas apenas em 2025, efeito do aperto das condições e do menor impulso fiscal.”

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Já Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, lembra que qualitativamente, o quadro da taxa de participação ficou estável em 62,6% e o nível de ocupação avançou ligeiramente, de 58,7% para 58,8%. “Com isso, o número total de trabalhadores no Brasil bateu um novo recorde, chegando a 103,9 milhões, enquanto a população desocupada reduziu para 7,0 milhões de pessoas, o menor nível em 10 anos”, cota

Ainda segundo ela, olhando para os salários, os rendimentos não tiveram uma variação estatisticamente significativa no trimestre, se estabilizando em patamar ainda elevado, com o rendimento médio real em R$ 3.285.

“Esse cenário, em conjunto com o desemprego baixo, tem contribuído para uma massa de rendimentos de R$ 332,7 bilhões, que permanece próxima do recorde, com um crescimento de 2,1% no trimestre e de 7,2% no ano”, comenta.

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Mas Ariane afirma ser possível notar um ponto de inflexão por dois motivos. O primeiro é que, no pós-pandemia, muitos trabalhadores tiveram um reajuste salarial considerável. O segundo é que a dinâmica dos preços tem piorado, o que dificulta uma correção acima da inflação.

“De toda forma, pensando agora nas suas implicações para a dinâmica inflacionária, esse hiato do produto apertado traz alguma preocupação, sobretudo com a nova regra do salário-mínimo”, diz.

De modo geral, a leitura qualitativa do indicador feita pela economista-chefe do PicPay é de que o mercado de trabalho segue forte e com uma composição saudável, recuperando suas características intrínsecas, que agora estão com um desemprego estrutural mais baixo. “Olhando à frente, esperamos que ele continue aquecido e resista nesse patamar historicamente baixo por mais um bom tempo. Para 2024, projetamos uma taxa média de desemprego de 6,9%, terminando o ano em 5,8%. Já para 2025 a nossa média projetada para o nível de desemprego está em 6,8%.”

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Em sua conta na rede X, a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, comentou que os dados de hoje indicam acomodação, o que é uma boa notícia para o Comitê de Política Monetária (Copom).

Ele citou que, pela PNAD, a taxa de desemprego ficou estável em novembro (com ajuste sazonal) e veio em linha com o esperado de 6,1% (sem ajuste). Além disso, o rendimento médio teve alta de 3,4% em 12 meses, uma desaceleração em relação à tendencia anterior. Por fim, o Caged mostrou adição de 106 mil vagas, abaixo do esperado de 120 mil.

“O cenário de desaquecimento do atividade é positivo pois pode ajudar a conter os repasses de preços devido à recente desvalorização cambial, evitando aceleração adicional da inflação”, escreveu.

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Riscos para a inflação

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, alerta que os dados de renda se mantiveram fortes. “A renda real habitual cresceu 0,5% em novembro na nossa série com ajuste sazonal e agora acumula ganhos de 3,4% em 12 meses”, destaca, citando ainda que a massa de renda habitual teve aumento de 0,8% no mês e de 7,2% no ano, impulsionada pelo aumento do nível da ocupação e dos salários.

“Na nossa visão, o mercado de trabalho continuará aquecido, e o Brasil deve manter a taxa de desemprego próxima a 6% no fim de 2024 e em 2025 – um patamar bastante baixo para os nossos padrões históricos”, afirma.

A economista lembra que o aumento do nível de ocupação ajuda a impulsionar a atividade econômica e o PIB, mas também dificulta o controle da inflação em um ambiente de mercado de trabalho forte. “Esse cenário reforça nossa expectativa de manutenção do ritmo de alta dos juros, que devem chegar a 15% em junho de 2025, de acordo com a nossa projeção.”

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Na análise do Itaú, os dados divulgados hoje mais uma vez indicaram um mercado de trabalho apertado. “Um aumento na população empregada no setor informal, que foi compensado pelo aumento na taxa de participação. Além disso, os salários reais aumentaram 0,3 pontos percentuais, refletindo o dinamismo do mercado de trabalho.”