Mercado ainda vê espaço para novo corte da Selic em 2020; investidor deve tomar mais risco

BC deixou porta aberta para um ajuste residual nos juros ainda neste ano, o que vai depender de como a pandemia vai seguir prejudicando a economia

Anderson Figo

SÃO PAULO — A decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de cortar em mais 0,75 ponto percentual a taxa básica de juros, para 2,25% ao ano, já era amplamente esperada pelo mercado.

O comunicado da decisão, anunciada nesta quarta-feira (17), indica que ainda há espaço para um novo corte da Selic em 2020 antes do fim do ciclo de afrouxamento monetário, segundo as avaliações de especialistas.

“O BC deixou bem claro que a utilização da política monetária daqui para frente é incerta, mas se for utilizada, o espaço para novos cortes é pequeno”, disse Guilherme Attuy, economista-chefe da Gauss Capital, em live do InfoMoney (assista acima).

“No fim de ciclo [de ajuste na Selic], seja de baixa ou de alta, o BC sempre tende a fazer um ajuste fino. Tem espaço para um corte de 0,25 ponto percentual. Os modelos mostram que tem espaço, mas não tem como a gente sempre levar ao pé da letra o que o modelo aponta. Com os juros lá fora a zero, nós temos que pagar pelo menos um pequeno prêmio de risco”, completou.

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O economista da Gauss afirmou que os investidores que desejam manter os rendimentos que tinham antes do ciclo de cortes da Selic deve aumentar um pouco o percentual de risco de sua carteira de investimentos. Os fundos multimercados, segundo Attuy, podem ser uma boa opção desde que bem escolhidos, já que eles têm uma boa diversificação — permitem investimento em renda fixa, variável, commodities e bolsas no exterior, por exemplo.

Já Marcel Balassiano, pesquisador da área de economia aplicada do FGV IBRE — Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas —, avaliou, também na live do InfoMoney, que o Banco Central deve ser mais “cauteloso, um pouco mais conservador, e não deve baixar muito mais a taxa de juros.”

“O Brasil é uma economia emergente, não tem como a gente comparar com a economia dos Estados Unidos, Zona do Euro ou Japão, que têm juro zero, precisamos ter um prêmio de risco”, afirmou. O prêmio de risco é a diferença de juros entre o Brasil e os demais países, o que estimula investidores estrangeiros a trazerem dinheiro para cá para ter uma rentabilidade maior, mesmo com o risco econômico maior dos mercados emergentes.

O economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs, afirmou que o BC ainda pode praticar um possível corte menor adicional em sua próxima reunião, de 0,25 ponto percentual ou mesmo de 0,50 ponto percentual. “O Copom considera que, com o corte para 2,25% ao ano, o estímulo monetário parece compatível com o impacto econômico da pandemia de Covid-19. Mas o Copom está longe de ter certeza de que é esse o caso”.

“Em nota dovish, o Copom sinalizou que prevê que qualquer possível ajuste ao atual estímulo monetário será residual. Isso é consistente com a observação de que o espaço restante para usar a política monetária é incerto e deve ser baixo”, frisou o economista.

Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais, disse que o comunicado do BC demonstra de forma clara que o Copom acredita estar muito próximo ao final do ciclo de cortes da taxa Selic. Ele espera por uma nova redução na próxima reunião da autoridade monetária, de 0,50 ponto percentual.

“Ao mesmo tempo, a linguagem utilizada, as projeções de inflação e as ponderações sobre o cenário levam a crer que há espaço para corte (pequeno) adicional e manutenção da taxa de juros em patamares muito baixos por prolongado período de tempo. O comunicado vai em linha com nossa projeção. Antevemos o final do ciclo de corte da taxa Selic em 1.75%, patamar que deve ser atingido ao longo do terceiro trimestre deste ano”, disse.

Marcelo Cambria, professor da Fipecafi, afirmou que a sinalização que o Copom deu foi de que está agindo na medida em que julga necessário, que é uma medida forte, corte abrupto de uma taxa já baixa, mas que para as próximas reuniões espera-se um corte mais leve, um corte mais residual como o próprio termo usado pelo Comitê, para que a partir daí mantenha a trajetória.

“Como ainda existe a expectativa de efeitos negativos aparecerem nas empresas e nos índices de atividade econômica em todos os setores, ele ainda pode atuar, mas não na mesma magnitude. Ou seja, se cortar os juros nas próximas reuniões, cortará menos”, disse.

A XP Investimentos destacou em nota que o Comitê sinalizou a continuidade do ciclo de flexibilização da política monetária dizendo que “…o Comitê considera apropriado analisar os impactos da pandemia e o conjunto de medidas de crédito e renda, antecipando que qualquer ajuste monetário futuro será residual.”

A corretora lembrou que o próprio BC contrabalanceou o argumento, destacando os riscos de piora fiscal em 2021, interrupção na agenda de reformas estruturais e medidas de crédito e renda que atenuam o declínio da demanda.

“Com base nisso, esperamos que o BC mantenha o tom cauteloso em sua próxima reunião e reduza a Selic em mais 0,25 ponto percentual, o que levaria a taxa a 2% ao ano. À medida que mais informações sobre atividade econômica, taxa de câmbio e inflação são divulgadas, nosso cenário pode ser ajustado”, concluiu.

A XP espera que a Selic permaneça em 2% ao ano até o terceiro trimestre de 2021, quando o Copom irá começar um ciclo de aperto monetário, voltando a subir os juros.

Fabio Nassar, sócio da gestora Aurum Wealth Management, destacou a preocupação do BC com o efeito negativo da pandemia de coronavírus sobre a economia brasileira. Ele também espera por mais corte na próxima reunião de política monetária da autoridade.

“Na visão do BC, o nível de ociosidade da economia e do mercado de trabalho, que já era alto, aumentou ainda mais em função da pandemia. Diante do cenário, maior é o risco de a inflação ficar abaixo da meta para este ano e para o próximo, justificando o corte para taxas de juros reais temporariamente negativas”, disse.

“O BC sinalizou que, se houver um novo corte, será residual, o que significa que a Selic pode cair ainda mais na próxima reunião do Copom, chegando em torno de 1,75% ao ano. Porém, dificilmente veremos taxas de juros abaixo dos 1,5% até o fim do ano”, concluiu Nassar.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.