Mensagem de Powell sobre inflação e juros foi mais firme, diz Caio Megale

Economista chefe da XP afirma que presidente do Fed evitou cair em "cascas de banana " e destaca declaração sobre as diferenças entre a inflação de bens e de serviços

Roberto de Lira

Caio Megale (Foto: Divulgação/XP Inc)
Caio Megale (Foto: Divulgação/XP Inc)

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O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, conseguiu transmitir melhor a mensagem do comitê de política monetária de que é necessário esperar um pouco antes de sinalizar um início de cortes de juros. A opinião é de Caio Megale, economista chefe da XP, que compara as declarações do dirigente nesta quarta-feira com as feitas após a reunião do colegiado em dezembro.

Naquela ocasião, lembra Megale, Powell pareceu não estar preparado para algumas das perguntas dos jornalistas, o que gerou ruídos na comunicação do Fed, que passou por ajustes nas últimas semanas.

“A impressão é que, na reunião passada, ele caiu numa casca de banana. Ele não veio preparado para dar a mensagem que deu, não veio com essa cabeça. Mas dadas as perguntas, ele caiu numa casca de banana, se enrolou e não conseguiu mais pegar o fio da meada. Dessa vez, ele foi mais atento”, comparou.

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Ele destacou que, em dezembro, quando Powell comentou sobre cortes, o mercado interpretou a fala como um sinal de que os juros estavam prestes a cair. Hoje, reforça o economista da XP, o presidente do Fed já imaginava o tipo de perguntas que viriam.

Depois dessa falha de comunicação, os diretores do Fed passaram a trazer sempre uma mensagem de queda de juros mais para a frente e que a queda da inflação não estava garantida, que ainda faltava muito.

“Hoje o que ele falaram foi exatamente isso. Primeiro falaram da inflação, que caiu, mas ainda tem desafios. É como no Brasil: a inflação está baixa, mas quando você abre, tem serviços rodando alto e bens rodando muito baixo, com deflação”, compara Megale.

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Bens x serviços

O economista diz que tem alertado para esse mesmo ponto no Brasil. “Se bens param de cair e simplesmente estabilizam, e os serviços não desaceleram mais, a inflação volta para cima da meta. Então, está numa composição  ainda incerta”, explica.

O economista diz que a XP mantém sua previsão de início de cortes em maio. Até lá, lembram saem mais dados de inflação que podem confirmar de ela está rodando mais baixo.

Ele acrescenta que a cautela demonstrada por Powell se explica porque esse primeiro movimento é muito importante, uma vez que a inflação subiu muito rapidamente no passado recente. “Acho que ele (o Fed) só vai fazer um movimento muito bem sinalizado e telegrafado. A inflação tem que vir muito boa e todos do Fed têm que fazer discursos dizendo que foram surpreendidos, que a coisa está vindo mais rápido, pra sinalizar um corte em março. Mas eu já achava mais provável maio e agora acho muito difícil acontecer em março”, prevê

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Um bom canal para sinalização sobre os juros em março será o Sumário de Projeções Econômicas (SEP, na sigla em inglês), que traz as estimativas dos dirigentes. “Na SEP é mais fácil fazer a sinalização. Se um ou dois diretores já acham que corta em maio e outros dizem que depende dos dados”, diz Megale. Ou seja, se vem um dado bom, o mercado entende que os diretores mais cauteloso mudam de opinião e aí pode vir o corte.

O que poderia postergar o corte em maio, segundo o economista chefe da XP, é a divulgação de dados apontando que o mercado de trabalho está ainda mais forte ou a inflação ter um repique acentuado. “Só que como commodities ainda estão caindo, não está com cara que que inflação de curto prazo vai piorar”, pondera.

Para ele, está muito bem desenhado o cenário  para se esperar um pouco mais e fazer os cortes a partir de em maio. E num ritmo gradual de 25 pontos-base por reunião, até chegar a um corte de 1,5 ponto. Daí, o ano fecharia com a inflação rodando perto de 3% e os Fed Funds em 4%. “Se a inflação estiver caindo mais, perto de 2%, corta um pouco mais no ano que vem.”