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A deflação de 0,29% do IPCA em setembro, a terceira seguida, foi um pouco mais branda que a estimativa do mercado, mas insuficiente para modificar projeções para o final do ano. Os analistas consideram que os preços de alimentos (-0,51%) vieram com queda um pouco acima do estimado, mas que esse movimento foi compensado pela contribuição dos combustíveis, cuja deflação de 1,98% mostrou desaceleração ante os -3,37% de agosto.
A expectativa unânime é que o Banco Central só deva iniciar um movimento de corte na taxa de juros, atualmente em 13,75%, a partir do segundo semestre do ano que vem. Isso se não houver surpresas.
Para o Bradesco BBI, uma desinflação sem precedentes de quase 5 pontos porcentuais em apenas um trimestre só foi possível pela redução de impostos, de combustíveis, energia elétrica e comunicações, por exemplo.
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Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, comenta que a alimentação não foi diretamente afetada pelo corte do ICMS promovido pelo governo, mas que apresentou melhora, com dinâmica positiva de preços de commodities vista ao longo do último mês.
Tatiana Nogueira, economista da XP, vê o resultado do IPCA no mês um pouco acima do esperado, mas com impacto neutro para as projeções. “De um lado, itens mais voláteis e que sofreram alteração da tributação com comportamento errático, enquanto inflação de preços industriais registra mais um número positivo”, comenta.
Ele destaca que o índice de difusão, que mede o percentual de itens com alta nos preços, registou outra queda mensal (de 65% para 62%).
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Para o ano, a estimativa de alta do IPCA é de 5,6%, incorporando uma queda adicional nos preços da eletricidade em novembro devido a alterações tarifárias.
Segundo o Goldman Sachs, a inflação em setembro surpreendeu para baixo nos alimentos consumidos em casa (-0,86%) e nos bens de consumo. Mas também mostrou alta em itens de vestuário (+1,77%) e despesas pessoais (+0,95%), especialmente as recreativas. Os serviços ligados ao turismo, como hospedagem, subiram 2,88% no mês, e os pacotes turísticos avançaram 2,30%, acumulando em 12 meses altas de 24,07% e 19,78%, respectivamente.
Industriais
Para Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital, o indicador de setembro possibilita uma leitura positiva no que tange à produção industrial, “observando uma queda nos custos de produção e de alguns materiais, o que favorece as indústrias de forma geral.” Ele acredita que a divulgação hoje não deve fazer tanto peso no mercado ou na leitura da situação econômica pelo Banco Central – que poderia eventualmente alterar as taxas de juros no Brasil.
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Segundo Eduardo Vilarim, economista do Original, os transportes foram a principal contribuição negativa do indicador, conforme o esperado, dando continuidade aos efeitos da redução do ICMS sobre combustíveis, seguido pelos preços da alimentação.
Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, diz que uma das surpresas de baixa no indicador do mês veio dos duráveis, como automóveis novos (-0,15%) e usados (-0,385), itens que ainda sofrem efeitos dos gargalos de produção fruto da pandemia.
“Olhando para núcleos, vieram um pouco pior que o esperado, acima 0,4%. Mas a leitura não muda a expectativa de inflação, que é de 5,3% para este ano e de 4,9%, para 2023”, prevê Mirella.
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Preços de serviços
Mas há uma preocupação com o comportamento dos preços dos serviços, que se mostram resilientes, diz Carlos Lopes, economista do banco BV. “O que a gente nota é uma resiliência importante dos preços de serviços que seguem bem elevados em várias métricas. Isso reflete o mercado e trabalho que segue aquecido e melhorando.
Sobre o resultado do mês, ele diz que a “história” tem sido de inflexão. “A inflação já fez seu pico e está cedendo, puxada pelos apreços administrados e alimentos. Mas os preços de bens industriais também tem desacelerado rapidamente, afirma.
“Isso deve ajudar a trazer a inflação do ano para baixo, mais próxima de 5,5% e ajudar para ano que vem”, afirma Lopes, lembrando que o indicador mais baixo neste ano deve ajudar no exercício seguinte pelo reajuste de preços, salários e contratos.
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Marco Noemberg, líder de renda varável da Manchester, concorda com a leitura e vê um risco desse comportamento perdurar até 2023, caso o próximo governo mantenha a elevação do Auxílio Brasil em R$ 600. “Os preços dos serviços são um pouco mais voláteis em relação à inflação geral, são mais resilientes e devem continuar fortes nos próximos”, afirma.
Rodrigo Ashikawa, economista da Claritas, também vê o comportamento dos preços dos erviços como ponto de atenção, mas destaca a “descompressão” nos preços industriais. A projeção para 2022 ainda é de uma inflação próxima de 6%, com o índice recuando para 5,54% no ano que vem.
Para Mercadante, da Rio Bravo, essa inflação subjacente segue não condizente com os objetivos do Banco Central. “Serviços subjacentes desaceleraram em relação ao mês passado, mas ainda estão altos. O setor é um dos focos do BC no controle da inflação, o dado que costumam apresentar inflação mais persistente. O processo de desinflação, portanto, parece estar acontecendo, mas de forma lenta, como apontam os dados.”