IPCA salgado deve reduzir apostas de BC acelerar cortes na Selic, dizem economistas

Maiores surpresas de alta em dezembro vieram nos alimentos no domicílio e nos serviços subjacentes; para especialistas, ritmo de cortes deve continuar em 0,50 p.p.

Roberto de Lira

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O IPCA mais alto que o projetado em dezembro deve reforçar os argumentos do Banco Central sobre o atual ritmo de queda de 0,50 pontos percentuais na Selic ser o mais indicado para as próximas reuniões do Copom, afirmam economistas. Mas a opinião geral é que a surpresa com a variação de preços no final do ano não gera, por enquanto, dúvidas sobre a taxa no final do ciclo de cortes, em torno de 9%.

O IBGE divulgou hoje que o índice oficial de inflação acelerou para 0,56% no último mês do ano, ante projeções que giravam entre 0,48% e 0,50%. No acumulado de 2023, a inflação atingiu 4,62%, acima da mediana de projeções de 4,54%.

Tanto o instituto como os especialistas mostraram preocupação com a variação dos alimentos no domicílio e com os preços dos serviços subjacentes, que vieram bem mais altos que as projeções.

“O grupo alimentação no domicílio foi bastante impactado pelo agravamento do El Niño no final de 2023. Esse efeito deve trazer perturbação também no começo de 2024”, destacou Leonardo Costa, economista da ASA Investments.

“Esse grupo tem sido bastante pressionado nos dois últimos meses devido à piora nas condições climáticas, impactando a oferta de alimentos”, concordou André Cordeiro, economista-sênior do Inter.

André Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital também considerou a alta de 1,34% em dezembro ante os 0,75% de novembro como bem significativa. “Acredito que se deve aos problemas climáticos que os produtores vem enfrentando, impactando a produção de alimentos e encarecendo os preços”, analisou.

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Sobre a inflação de serviços, Cordeiro alertou não para o índice cheio de 6,22% em 12 meses, em boa parte influenciado pela variação das passagens aéreas, mas também  para os serviços subjacentes, que ficaram em 4,82% no ano, “mostrando que houve uma pressão na inflação de serviços mais disseminada”.

André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi, observou a inflação de 0,51% desse grupo na comparação mensal refletiu o avanço de serviços pessoais e intensivos em mão de obra, o que reforça o alerta deixado pela leitura do IPCA-15. “Na média móvel de 3 meses dessazonalizada e anualizada, a inflação desse núcleo parou de cair, estacionando próximos dos 4,0%”, citou.

Mas a opinião dele é que a leitura do último mês não reverte o comportamento benigno dos últimos meses, apenas reforça a cautela para a inflação esse grupo em 2024, um dos principais riscos do atual cenário.

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Política monetária

Sobre influências na política monetária, a opinião dos economistas é que o BC vai fortalecer seu discurso de manutenção do ritmo atual de cortes, de 0,50 p.p. a cada reunião.

Para Gustavo Cruz estrategista da RB investimentos, o desapontamento em dezembro com o indicador deve diminuir bastante a projeção de algum tipo de corte maior nas duas próximas reuniões, embora não afete as projeções para o final do ciclo.

“Não acho que é algo que compromete o ciclo como um todo, que mudaria a taxa final, mas é algo que com certeza vai diminuir a expectativa de um corte maior nesse curto prazo, assim como a gente está vendo nos EUA”, comentou, reforçando sua projeção de uma Selic em 8,5% ao final de 2024.

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Par o time de análise macroeconômica da XP, o BC deve reforçar sua abordagem cautelosa e continuar a cortar a taxa Selic em 0,50 p.p. por reunião. A projeção para a Selic no final do ano é de 9%, a mesma de Nunes, do Sicredi.

Já Cordeiro, do Banco Inter, afirmou que os sinais ainda não são suficientes para ensejar uma mudança na condução da política monetária por parte do Copom. “Mantemos nossa expectativa de continuidade do processo de cortes na Selic no atual ritmo imposto pelo Comitê”, disse.