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A agenda econômica doméstica da manhã desta quarta-feira (9) contava com grande expectativa do mercado, de modo a trazer mais sinalizações sobre os próximos passos de política monetária do Banco Central. Isso após a última semana marcada pela decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de subir os juros em 0,5 ponto percentual, a 13,75% ao ano, mas indicar o fim do ciclo (com algum eventual ajuste de menor magnitude).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmou as expectativas dos investidores e divulgou a maior deflação da história.
Os preços medidos pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve para balizar o sistema de metas de inflação adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), registrou uma queda de 0,68%, a maior deflação desde o início da série histórica, em 1980, e levemente abaixo das projeções médias da Refinitiv, de queda de 0,65%. Com isso, a inflação acumulada em 12 meses pelo IPCA desacelerou para 10,07%, ante os 11,89% acumulados nos 12 meses até junho.
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Como era de se esperar, o que provocou a baixa dos preços foram os combustíveis, por conta das medidas do governo de redução de impostos. Os preços da gasolina caíram 15,48% e os do etanol, 11,38%. A gasolina, individualmente, contribuiu com o impacto negativo mais intenso entre os 377 subitens que compõem o IPCA, com -1,04 ponto percentual. Além disso, também foi registrada queda no preço do gás veicular, com -5,67%.
Apesar da maior deflação da série histórica, analistas e economistas de mercado apontam que os preços de serviços seguem bastante pressionados.
“A impressão negativa do IPCA de julho foi impulsionada principalmente por cortes de impostos federais e estaduais recentemente promulgados, mas continuamos preocupados com as pressões intensas e altamente disseminadas subjacentes sobre serviços e bens não comercializáveis em um cenário de um mercado de trabalho apertado e grandes estímulos fiscais adicionais para o segundo semestre de 2022 [como o Auxílio Brasil]”, aponta Alberto Ramos, chefe de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina.
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Além disso, com a inflação dos não comercializáveis subindo muito rapidamente (para perto de 11%) e intensificando os mecanismos de fixação de preços e salários retroativos (com a redefinição de contratos salariais incorporando os ajustes de custo de vida), a inflação provavelmente se tornará cada vez mais inercial, complementa.
Assim, em suma, o cenário desafiador da inflação atual e prospectiva e a sinalização hawkish (dura, de alta de juros para controlar a inflação) do Federal Reserve deve garantir uma calibragem conservadora da política monetária, na avaliação do economista.
Já Tatiana Nogueira, economista da XP, aponta que, no geral, a leitura da inflação de hoje foi neutra. “Enquanto a maior deflação da gasolina não altera nossa visão prospectiva, a inflação continua emitindo mesmos sinais: pressão nos preços de serviços e alguma descompressão em industriais”, aponta.
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A economista avalia que o grupo de serviços até desacelerou no mês de 0,90% para 0,80%, ante projeção de 0,78%. Os serviços subjacentes passaram de 1,04% para 0,79% (estimativa: 0,85%). Mas a dinâmica para este grupo é de pressão inflacionária até fim do ano, em que deve ter uma variação média próxima de 0,75% mensal, avalia.
Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, a dinâmica da inflação subjacente apresentou melhora. Serviços ainda continuam pressionados, mas não apresentaram a mesma surpresa negativa, nem aceleração, vista em meses anteriores. “Os dados, em geral, vieram melhores, resta saber se a melhora será consistente. Caso isso aconteça, a intenção do BC de encerrar o ciclo em agosto pode se tornar realidade”, avalia.
Ata do Copom: janela estreita para uma nova alta residual dos juros
A sinalização de que o BC espera ter encerrado o ciclo de alta de juros em agosto foi destacada com a ata do Copom, divulgada uma hora antes do IPCA, mais precisamente às 8h.
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O texto nota um alívio na inflação internacional, conforme aponta a Levante Ideias de Investimento. “As taxas de inflação de algumas economias avançadas (…) sugerem pressões ainda fortes, mas já se observa uma normalização incipiente nas cadeias de suprimento e uma acomodação nos preços das principais commodities no período recente (…) [que] podem implicar moderação nas pressões inflacionárias ligadas a bens.”
No cenário doméstico, o Copom reduziu bastante as projeções de inflação para este ano, tanto no geral quanto para os preços administrados. O Comitê reduziu a projeção de inflação para este ano para 6,8%, dois pontos percentuais abaixo dos 8,8% esperados na reunião anterior Para 2023, a projeção subiu levemente para 4,6%, ante os 4,0% da Ata anterior.
A baixa dos preços dos combustíveis fez o Copom revisar muito para baixo as expectativas para a inflação dos preços administrados. A estimativa para 2022 tornou-se negativa em 1,3%, ante os 7,0% da estimativa anterior. A projeção para a inflação administrada em 2023, porém, subiu para 8,4% ante os 6,3% do documento da reunião anterior.
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A conclusão da Ata é de uma convergência da inflação para as metas, mas só no longo prazo. Diz o texto: “a projeção da inflação de doze meses no primeiro trimestre de 2024, que incorpora os efeitos secundários das alterações tributárias (…) é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante.” E acrescentou: “o Comitê notou que a projeção de inflação para o ano-calendário de 2024 também se encontra ao redor da meta estipulada.” Com isso, a expectativa é que não haja novas elevações dos juros ao longo deste ano, na avaliação da Levante.
Mercadante, da Rio Bravo, aponta que o Copom deu bastante ênfase aos riscos fiscais, atribuindo a eles os maiores riscos de desancoragem à frente. Para o economista, a ata não muda a visão da casa, que segue acreditando em mais uma alta dos juros em setembro. “O viés da projeção, entretanto é de baixa, reforçado pelos dados da inflação de hoje”.
Para a XP, a ata sugere que o comitê encerrou o ciclo de aperto monetário e a taxa Selic se manterá nesse patamar por um período prolongado, até que a inflação desacelere com mais clareza. “Em nossa opinião, mesmo com a Selic nesse patamar não sendo suficiente para trazer a inflação para o centro da meta em 2023, trará alguma desaceleração e, quando o horizonte da política monetária mudar para 2024, o BC verá espaço para iniciar uma flexibilização do ciclo”, aponta a casa.
Também para o Itaú, a ata indica que a alta da Selic na semana passada foi provavelmente a última do ciclo de aperto, por mencionar as projeções de inflação para o início de 2024 e os efeitos defasados da política monetária, que devem se tornar mais intensos na segunda metade do ano.
“Por outro lado, o comitê também enfatizou vigilância ao avaliar se a perspectiva de juros altos por um longo período será suficiente para garantir a convergência da inflação para a meta. Isso deixa a porta aberta para um aumento residual se os dados surpreenderem nesse direção. A porta também é deixada aberta em relação à direção dos próximos movimentos depois de um (esperadamente prolongado) período de pausa”, avalia o banco.
O Bank of America, que vê a ata do Copom reforçando sua visão de que o ciclo de aperto monetário acabou, destaca que a mensagem do documento é consistente também com a projeção de cortes a partir do próximo ano levando a Selic para 10,50% no fim do ano que vem.
O Bradesco BBI, por sua vez, avalia que manter a Selic em 13,75% ou aumentá-la em mais 25 pontos-base na próxima reunião não é a decisão mais relevante a ser observada, mas sim por quanto tempo essa taxa terminal será mantida. “Nossa visão atual é que as taxas de juros só começarão a ser cortadas em meados de 2023, mas há riscos de ambos os lados para a inflação que podem mudar o ponto de partida dessa queda”, apontam os economistas.
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