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Deflação nos preços administrados, alta dos preços livres. Foi com essa combinação que a prévia da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) registrou um recuo de 0,73%, na passagem de julho para agosto. No entanto, olhando a fundo a menor taxa da série histórica iniciada em 1991 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é possível ver que a inflação segue bastante enraizada. A média dos núcleos do IPCA-15 ficou em 0,56% no período, acima do esperado, e em 12 meses, segue acima de 10%.
“A composição do índice veio pior que a projetada, principalmente quando observamos as métricas subjacentes e os núcleos elevados”, afirma João Savignon, economista da Kínitro Capital.
Victor Candido, economista-chefe da RPS, explica que os núcleos elevados mostram que a deflação continua concentrada em dois itens: eletricidade e combustíveis. “A inflação de serviços continua subindo. É um reflexo imediato do mercado de trabalho forte, tem uma dinâmica própria, menos governada e menos impactada pelos preços internacionais. Está rodando em um nível bem mais baixo que a inflação geral, mas vem crescendo”, afirma.
Outro ponto de atenção é o índice de difusão do IPCA-15. Mesmo recuando de 67,85% no mês passado para 65,12%, continua em patamar elevado. “O índice de difusão mostra o porcentual de itens que aumentaram de preços no mês e continua acima dos 65%. Isso mostra que a inflação segue disseminada pela economia”, afirma Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Tatiana Nogueira, economista da XP e especialista em inflação, observa que além da dinâmica de serviços permanecer elevada, houve uma descompressão mais moderada que o esperado em alimentos e, sobretudo, em bens industriais.
“O maior desvio em relação à nossa projeção foi em bens industriais (+0,07 ponto percentual), que subiu 0,27%, enquanto esperávamos -0,03%, com destaque para altas mais fortes que o projetado em automóveis novos e usados e higiene pessoal. Sinal de alerta, dado que esperávamos descompressão do grupo de agora em diante”, afirmou Tatiana.
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O grupo alimentação subiu 1,24%, enquanto a XP projetava alta de 1,02%. ” Esperamos que alimentos comecem a cair mais acentuadamente a partir do IPCA fechado em setembro, beneficiado tanto pela sazonalidade do meio de ano, como pela maior oferta de alguns produtos, como leite”, diz a economista. O leite longa vida acumula variação de 79,79% no ano. No IPCA-15 de hoje, a alta do item desacelerou, mas seguiu com valorização de dois dígitos (14,2%).
Para Thomaz Sarquis, economista da Eleven, o o resultado do IPCA-15 de agosto mostrou bastante impactado de fatores exógenos à dinâmica dos preços, como redução nos preços de combustíveis e medidas tributárias adotadas em julho. Por este motivo, há incerteza adicional ligada tanto à capacidade preditiva do índice quanto ao isolamento de fatores estruturais.
“Em outras palavras, observamos que as medidas subjacentes seguem elevadas, porém começam a apresentar desacelerações em relação aos patamares que vigoraram no primeiro semestre do ano. As próximas divulgações serão de extrema importância para avaliarmos se esta desaceleração está ligada a efeitos secundários dos choques negativos ou se trata de uma reversão persistente na tendência”, avalia.
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Tendências para o IPCA fechado
Nos cálculos da Kínitro Capital, o IPCA fechado de agosto de apresentar uma deflação mais suave, entre 0,3% e 0,4%. “Assim, seguimos atentos ao ritmo da inflação no país após a dissipação desses movimentos recentes, pois mesmo que o pior momento (pico da inflação) tenha ficado para trás, ainda temos um cenário desafiador, especialmente por conta dos serviços pressionados”, afirma João Savignon.
“Para o IPCA de agosto, as medidas fiscais ainda devem apresentar reflexo nos dados, gerando um alívio para a inflação deste ano, mas a inflação subjacente deve seguir vendo melhora gradual, o que deve fazer com que o número do ano que vem siga pressionado”, escreveu Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.
Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Necton, os últimos resultados das coletas dos preços ao consumidor têm mostrado persistência da queda de combustíveis, o que força o índice cheio de inflação para baixo. A casa revisou para baixo o IPCA projetado para 2022, de 7,06% para 6,84%.
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“Que pese que a queda está se dando por motivos alheios à dinâmica econômica em si, mas antes pelas medidas de desoneração do ICMS, o fato é que a inflação cheia está em queda. Para 2023 mantemos a projeção em 5,02%”, disse Perfeito.
O Bank of America aponta que as projeções preliminares de curto prazo para o IPCA são de de deflação de 0,25% em agosto na base mensal e de alta de 0,30% em setembro. Apesar de surpresas altistas em algumas leituras do IPCA-15 de agosto, como em habitação, alimentação e bebida, educação e despesas pessoais, os analistas do banco, esperam agora que os efeitos deflacionários em curso levem o IPCA para 6,5% no final de 2022, ante previsão anterior de 7,2%.
Em relação à política monetária, Mercadante, da Rio Bravo, avalia que uma alta residual da Selic em setembro seria adequada para 14% ao ano). Contudo, a Rio Bravo atribui relevante probabilidade para o cenário em que o Banco Central já tenha encerrado o ciclo de aperto monetário.
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