Inflação teimosa nos EUA em novembro sugere Fed cauteloso nos cortes em 2025

Para economistas, CPI deve ter pouca influência na reunião do Fomc neste mês, mas dados anualizados ainda acima da meta devem dar ao Fed argumentos para realizar pausas no cortes no ano que vem

Roberto de Lira

Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Jim Bourg/Reuters)
Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Jim Bourg/Reuters)

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O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos em novembro trouxe mensagens um pouco mistas. O número principal, que mostrou uma alta de 0,31%, veio levemente acima das projeções, assim como o núcleo, mas a composição do indicador no mês foi considerada benigna pelos economistas.

Assim, o dado de inflação deve ter pouca influência na decisão de política monetária do Federal Reserve na semana que vem. A projeção majoritária continua sendo de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa dos Fed Funds.

Permanece, segundo os economistas, a visão que o mercado de trabalho continuará a ser fator a ser considerado com mais atenção pelo BC americano na reunião do dia 18. Mas o comportamento da inflação aponta que os encontros de 2025 do Fomc devem ser marcados por uma maior cautela, com a adoção de pausas nos cortes sendo a aposta mais citada.

Na opinião de Isadora Junqueira, economista da AZ Quest, os sinais em direção mista do CPI fortalecem essa previsão de uma visão de mais longo prazo incerta para a política de juros. Em novembro, ela destaca que os preços dos serviços tiveram um comportamento mais benigno, com os bens desempenhando um papel diferente, especialmente o vestuário e os carros usados.

Outro dado interessante é que a parte de moradia (“housing”) surpreendeu para baixo, mas houve surpresa de alta em hotéis.

Já o supernúcleo, métrica preferida pelo Fed e que exclui variações de moradia e energia, veio um pouco mais forte em novembro – 0,34%, ante os 0,26% esperados. “Esse número tem vindo um pouco mais pressionado, tem mostrado uma certa resiliência nessas últimas leituras”, comenta Isadora.

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Outro ponto de atenção citado pela economistas é a métrica de 3 meses anualizada, que tem acelerado – o headline está em 2,99% e o núcleo está em 3,66%. “São números altos. E a variação interanual também tem se mostrado um pouco mais pressionada, apensar de ter vindo abaixo do esperado (em novembro)”.

Sobre a decisão do Fed, a economista da AZ Quest diz que os números divulgados hoje corroboram com um corte de 25 pontos-base no dia 18, mas sugerem uma visão um pouco mais cautelosa da inflação para a frente.

“É um número que provavelmente sinaliza uma pausa, ou deixa de mostrar qualquer ‘forward guidance’ do Fed, para que eles possam tomar decisões baseadas nos dados no ano que vem. Não deve mudar o cenário para a semana que vem, mas provavelmente vai ter uma maior cautela no futuro. Esse longo prazo fica um pouco mais incerto”, acredita.

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Inflação persistente

Para André Valério, economista sênior do Inter, os destaques nessa divulgação foram uma alta mais intensa que o esperado em bens duráveis, por conta do preço de novos carros, enquanto os gastos com habitação desaceleraram frente a outubro, o que puxou para baixo o núcleo de serviços.

Ele afirma que, de modo geral, foi um resultado favorável para o Fed. “Considerando que a meta é baseada no indicador medido pelo PCE, quando consideramos os dados de hoje no cálculo do PCE projeta-se um núcleo de 0,14% em novembro, bem abaixo dos 0,28% de outubro”, explica.

O economista do Inter diz não ver mudança na decisão do Fed na próxima semana, que deve ser um novo corte de 25 pontos base, mas ele alerta para a persistência da inflação, representada pelo comportamento do núcleo dos preços.

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“Após quatro meses consecutivos de núcleo elevado, fica claro que o processo de desinflação encontra alguns obstáculos, o que, somado ao mercado de trabalho ainda bastante robusto, fará com que o Fed comece a discutir uma desaceleração no ciclo de queda em breve.”

Na opinião de Andressa Durão, economista do ASA, a boa notícia em novembro ficou por conta dos serviços, com a inflação de aluguéis voltando a apresentar variação mais baixa, acendendo novamente a esperança de uma desaceleração menos lenta da inflação de serviços.

“Ainda são necessários outros dados de inflação para fechar uma estimativa consistente do PCE de novembro, mas o CPI já sugere que a composição deve ser benigna, o que corrobora a queda de 25 bps da taxa de juros pelo Fed em dezembro e contribui para revisões favoráveis de inflação do comitê”, comenta.

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Ela diz ainda que o mercado de trabalho se tornou o principal “driver” para a política monetária dos EUA nos últimos meses e que os dados que serão divulgados até a decisão de janeiro terão maior peso na decisão do Fed.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, por sua vez, destaca em sua análise o núcleo da inflação – que exclui segmentos mais voláteis, como alimentos e energia – que teve alta de 0,3% em novembro e de 3,3% em 12 meses. “Esse dado é importante porque traz uma visão mais clara da trajetória da inflação, que é acompanhada de perto para decisões de política monetária do Fed”.

Para ela, de maneira geral, a composição do CPI foi benigna. “Houve uma tendência de desaceleração dos preços dos serviços, que costumam ser mais persistentes, e um leve aumento nos preços dos bens. Esta alta não preocupa porque foi provocada por itens mais voláteis, como veículos novos”, argumenta.

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Mas a economista alerta que os números de novembro mostram que a inflação segue controlada, porém ainda acima da meta de 2% definida pelo Fed.

“O dado de hoje reforça nossa expectativa de que o Fed deve baixar os juros em 0,25 ponto percentual na reunião da semana que vem. No entanto, a resiliência do mercado de trabalho e os sinais de que a inflação está se estabilizando em um patamar acima da meta devem levar a uma redução no ritmo de cortes dos juros em 2025”, projeta.

Curto e longo prazo

Na análise de Francisco Nobre, economistas da XP, para a política monetária, o índice que realmente importa para o Fed é o PCE, que acompanha os preços do consumo e que sai no final do mês. “Com base nos dados de hoje e amanhã (PPI), já podemos ter uma ideia de como ele virá. A tendência da inflação no curto prazo é benigna, mas o desafio será trazer a inflação dos atuais 2,7% para a meta de 2% em 2025”, comenta.

Nobre destaca que esse último estágio do processo de desinflação será mais difícil, pois a demanda nos EUA segue forte, com o PIB crescendo a 3% e o mercado de trabalho ainda aquecido. “Isso aumenta as pressões inflacionárias e exige cautela do Fed. Nosso cenário base é de cortes graduais em 2025, com a taxa terminal em 3,5%. Mas os riscos são de alta, e o Fed pode interromper o ciclo de flexibilização para avaliar os impactos na economia”, afirma.

Na opinião de Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management, o relatório de inflação de hoje provavelmente confirma um corte na taxa de juros do Fed na próxima semana, mas, com o core da inflação atingindo sua taxa mais alta desde o início de 2024, as pressões de preços dificilmente estão se acomodando em um nível com o qual o Fed fique à vontade.

“O mercado esperava uma surpresa altista e recebeu os números de hoje de forma positiva, já que vieram abaixo do esperado. E, certamente, há algumas boas notícias – a inflação de aluguel caiu para o ritmo mais lento desde janeiro de 2021”, destaca.

Para ela, o Fed seguirá preocupado com a natureza ‘teimosa’ da inflação e será cada vez mais cauteloso com os riscos de alta da inflação que as políticas do presidente eleito Donald Trump podem trazer. “Esperamos que o Fed saia do piloto automático em janeiro, adotando um tom mais cauteloso e diminuindo seu ritmo de cortes para as reuniões”, estima.

A análise de Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, vai pelo mesmo caminho. “Apesar dos números em linha, a qualidade da inflação continua piorando. Acho que vem 0,25% de corte semana que vem, mas a dinâmica inflacionária me parece mais consistente com o Fed pausando o ciclo de corte de juros no começo de 2025”, afirma.