Inflação anual da Argentina atinge 102,5% em fevereiro e é a maior em 31 anos: o que acontece com o país?

O índice anual superou os três dígitos pela primeira vez desde outubro de 1991.

Estadão Conteúdo

(Getty Images)
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A inflação na Argentina avançou 6,6% em fevereiro, informou ontem o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). O resultado representou uma aceleração em relação a janeiro, quando o índice já havia crescido 6%.

Na comparação anual, a inflação ao consumidor no país vizinho chegou a 102,5% nos 12 meses até fevereiro – também acima da variação de 98,8% até janeiro. O índice anual superou os três dígitos pela primeira vez desde outubro de 1991.

Nos dois primeiros meses de 2023, a alta dos preços ao consumidor atingiu 13,1%. O nível geral de preços no varejo deverá ter um aumento de 100% neste ano, segundo a mais recente pesquisa de expectativas divulgada pelo Banco Central argentino, com base em relatórios dos maiores bancos e consultorias econômicas privadas do país.

O governo do presidente Alberto Fernández havia estimado no Orçamento nacional para 2023 uma taxa anual bem menor, de 60%. “Os itens com maior incidência geral foram alimentos e bebidas não alcoólicas (+9,8%), principalmente devido à incidência que representa em carnes e laticínios”, segundo o relatório do Indec.

“A meta de inflação do governo em torno de 60% na comparação anual para dezembro parece cada vez mais inatingível”, afirmou a consultoria Ecolatina em relatório. Segundo o documento, a inércia inflacionária parece “difícil de desarmar no curto prazo”.

E isso se deve a uma série de fatores, entre eles, o impacto da seca sofrida pela Argentina sobre o preço de alimentos, os aumentos pendentes nas tarifas do serviço público e a dinâmica de recomposições salariais em um ano de eleições presidenciais (em outubro), em que a economia terá um peso fundamental na decisão dos eleitores.

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As pressões inflacionárias também são alimentadas pelas restrições às importações, pelo aumento dos preços das diferentes taxas de câmbio que coexistem na Argentina e pelos desequilíbrios que arrastam as contas públicas e o Banco Central para financiar o Tesouro.

Inflação reprimida

Segundo Eugenio Marí, economista-chefe da fundação Libertad y Progreso, os preços ao consumidor na Argentina deverão subir 110% neste ano, com “um componente muito importante de inflação reprimida”.

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“Nos últimos três anos, acumularam-se atrasos nas tarifas de luz, gás e água, nos transportes, saúde e outros itens com preços administrados”, explicou Marí à agência EFE.

Soma-se a isso o desequilíbrio cambial e monetário que, segundo o especialista, “torna imprescindível que, caso a inflação comece a cair, se avance pelo menos para o equilíbrio fiscal consolidado e se dê real independência ao Banco Central”.

(COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)