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Os dados da inflação ao consumidor americana em junho vieram abaixo da mediana das estimativas e mercado, tanto no índice cheio como nas medidas de núcleo do indicador. Para os economistas, essa trajetória benigna dos preços é positiva para as definições de política monetária pelo Federal Reserve. Embora a atual desinflação não altere a projeção de que uma nova alta de 0,25 pontos-base será aplicada no final do mês, começam a pairar dúvidas se uma nova pausa ou até a interrupção do ciclo restritivo possa ser adotada em setembro.
O CPI do mês mostrou alta de 0,2%, ficando em 3,0% no acumulado de 12 meses, enquanto o núcleo da inflação, que que exclui variações de preços de alimentos e de bebidas, subiu os mesmo 0,2% na margem, desacelerando de 5,3% para 4,8% na leitura acumulado de 12 meses.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, destacou exatamente o comportamento misto apresentado pelos preços mais voláteis no mês. Ele lembrou que, enquanto os alimentos desaceleraram de 0,2% para 0,1% no comparativo mensal, o grupo de energia registrou crescimento de 0,6% em seus preços, retomando território positivo após deflação de 3,6% em maio.
“O grupo vem apresentando comportamento errático ao longo dos últimos meses, com o nível de preços oscilando constantemente entre crescimentos tímidos e deflações mais agudas, sendo de pouca utilidade para avaliação do cenário atual da inflação norte-americana”, ponderou.
Assim, ele afirmou que as atenções devem ser voltadas para o núcleo da inflação, que em junho apresentou um comportamento muito mais positivo do que nos demais meses de 2023.
“A desaceleração pôde ser sentida nos componentes que envolvem bens industriais, onde o destaque ficou por conta da deflação de 0,5% no preço de automóveis seminovos e pela não variação nos preços de automóveis novos”, comentou.
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Ele citou ainda os preços de serviços de transportes, extremamente sensíveis às variações do ciclo econômico, que desaceleraram de 0,8% para 0,1%. Já os preços de habitação, cuja rigidez tem sido marca registrada do CPI norte-americano ao longo do último ano, arrefeceram de forma mais branda, de 0,6% para 0,4%.
Para Pizzani, essas melhorias supracitadas não são evidência suficiente para se considerar a possibilidade de reversão do atual ciclo de política monetária implementado pelo Fed.
“Os mesmo grupos que forneceram importantes contribuições no comparativo mensal, como habitação e transportes, seguem operando em patamares extremamente elevados em seu acumulado anual, sinalizando que a missão da autoridade monetária ainda está longe de ser cumprida”, analisou.
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O economista alertou ainda que a desaceleração da economia certamente demandará ao menos mais um aumento residual na taxa de juros, cenário que pode se agravar a partir do momento em que fatores sazonais, como a mudança climática provocada pela entrada do inverno no hemisfério norte, causem alguma deterioração adicional à trajetória do CPI.
Habitação preocupa
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também considera que a melhora observada em junho não deva ser suficiente para que o Fed meu seus planos de subir os juros em 0,25% neste mês. Mas afirmou que pode levantar uma dúvida sobre os próximos passos, se vai ser possível parar as altas em 5,5% ou se ainda existe chance de chegar em 5,75%.
“Acho que os dados de inflação mais baixos vão deixar o mercado dividido. Pode ser que o BC americano pause novamente em setembro e aí em novembro subiria novamente, parecido com o que aconteceu recentemente”, cogitou.
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Embora a leitura geral sobre o CPI tenha sido positiva, Cruz considerou que a composição do índice ainda não está muito boa. “A gente segue vendo pressão na parte de moradia, que representa mais de 20% da inflação americana. Ela até desacelera, de 0,6% para 0,4%, mas durante esses primeiros seis meses do ano ela continuou subindo em ritmos bem altos comparado a outros itens”, disse.
Ele afirmou que é possível observar alguma descompressão em preços mais voláteis, mas que em outros itens ainda há uma resistência grande, o que será desafio para o Fed no 2º semestre.
“Entendo que vai ser suficiente para que eles não mexam na taxa de juros no sentido de corte tão cedo. Este ano é praticamente descartado e, durante o 1º trimestre do ano que vem, eles também vão se sentir bem pressionados. O mercado de moradias, de aluguéis, precisa descomprimir para que eles consigam ir nessa direção de corte de juros”, disse.
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O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, também destacou que boa parte da pressão baixista da inflação derivou de itens voláteis, como passagens aéreas e veículos usados. “A composição do índice mostra que o setor de bens, mais afetado pelos juros, já não é mais uma preocupação. A inflação de serviços, por outro lado, continua sendo um desafio, já que o mercado de trabalho norte-americano segue aquecido”, comentou.
A projeção de Salles para as reuniões do Fomc é um pouco mais conservadora, com estimativa de 0,25 ponto percentual em junho e um outro aumento de mesma magnitude antes do final do ano, elevando a taxa ao final de 2023 para o intervalo de 5,5% a 5,75% ao ano.” Acreditamos que os juros devem permanecer elevados por um bom tempo e que o início do ciclo de cortes deve se iniciar apenas no final de 2024”, previu.
Andressa Durão, economista da ASA Investments, alertou que os dados estão sob grande efeito base, que atuará no sentido contrário em julho, mas afirmou que a desaceleração da inflação é clara, com as principais medidas de núcleo cedendo. “Não acreditamos em um retorno rápido da inflação para a meta de 2,0%. Pode ficar ao redor de 3% por um bom tempo”, disse.
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Para o Fed, Andressa acredita que, diante das últimas surpresas baixistas, faz sentido que entreguem somente a alta de julho, embora não esteja descartada uma surpresa do lado “hawk”. A economista comentou que, ao adotar a estratégia de pular uma reunião antes de realizar uma alteração nos juros, o BC americano ganhou tempo para ver se precisa ou não de uma segunda alta.
Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, viu surpresas positivas tanto na inflação de bens como na de serviços em junho. Ela destacou que chamado “supercore” de serviços, que exclui as variações de habitação e que o Fed observa com atenção, ficou quase zerado no mês (-0,01%). “Joga bastante a favor do nosso cenário de apenas mais uma alta de juros, sem a necessidade de uma segunda, como Fed colocou nos ‘dots’ (projeções)”, afirmou.
Para André Cordeiro, economista-sênior do Banco Inter, de modo geral, a tendência de desinflação nos EUA continua, mas o bom resultado não deve mudar os rumos da próxima reunião do Fomc, no final do mês. “Os dados de mercado de trabalho ainda mostram o emprego bastante aquecido, o que deve levar o Fed a aumentar os juros em mais 25 pontos-base. Por outro lado, uma alta adicional começa a ficar incerta, dado o ritmo de desinflação”, estimou.
Núcleo ainda alto
Alexandre Lohmann, Estrategista Chefe da Constância Investimentos, também viu sinais positivos vindos dos núcleos e do supernúcleo de inflação. Mas ponderou eu eles ainda são mais que o dobro da meta de inflação (3,99% e 4,8%, respectivamente).
“O resultado abaixo do esperado não parece ser suficiente para reverter o anúncio de alta de 0,25% dos Fed Funds na próxima reunião, mas confirma o cenário da curva de juros, que não precifica um aumento de 0,25% na reunião subsequente”, apontou.
Para Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury, o recuo do núcleo da inflação será uma notícia particularmente bem-vinda para o Fed, pois sugere que o ciclo de aperto ultra agressivo do banco está finalmente gerando frutos.
“Ainda há um longo caminho a percorrer até que as pressões subjacentes sobre os preços retornem à meta, embora a noção de que quase todas as métricas da inflação dos EUA estão tendendo na direção certa seja muito reconfortante para as autoridades”, comentou.
As recentes comunicações das autoridades do Fed, incluindo o presidente Jerome Powell, sugerem que outro aumento de 25 pontos-base na taxa seja altamente provável no final deste mês. No entanto, aumentos adicionais não são garantidos.
“Estamos cada vez mais confiantes de que o aumento de julho será o último do ciclo atual, antes do início dos cortes nas taxas em algum momento do primeiro semestre de 2024. Acreditamos que esse ‘pivot dovish’ deve abrir a porta para uma queda adicional do dólar norte-americano nos próximos meses.”
Mas segundo André Diniz, economista da Kinea Investimentos, os núcleos do CPI anunciado hoje mostram uma perspectiva mais tranquila para o Fed porque já rodam mais próximos do que os salários da economia indicam na margem. Para ele, os preços de aluguéis bem mais contidos e os preços de carros usados e de outros itens caindo no atacado contratam para julho e agosto números mais tranquilos.
“A gente está falando de uma inflação que, recentemente, estava rodando próxima de 4,5% a 5% anualizados nessas métricas de núcleos, que vão começar a rodar mais próximos de 2,5% a 3% nos próximos meses. Então, esses números dão muito mãos conforto para o Fed”, detalhou.
Ele lembrou que o Fed praticamente se programou para dar mais uma alta de juros daqui a duas semanas, mas se a inflação vier conforme o esperado, que é esse número mais próximo de 2,5% anualizado, ou algo como 0,20%na margem nos próximos meses, vai colocar em questão se o Fed entregará ou não a última alta que ele tem programada. A economia começando a mostrar alguns sinais de crescimento mais fraco na margem ajudam nessa leitura, segundo Diniz.