Inflação ainda não nos dá tranquilidade, por expectativas à frente não ancoradas, diz diretor do BC

"Os últimos quatro anos têm a Selic média mais baixa de todo o regime de metas", assinalou Maurício Costa de Moura

Estadão Conteúdo

Edifício Sede Caixa Econômica Federal e Banco Central em Brasília
Edifício Sede Caixa Econômica Federal e Banco Central em Brasília

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O diretor de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta do Banco Central (BC), Maurício Costa de Moura, disse nesta terça-feira, 15, que as expectativas de inflação, fora da meta central dos próximos três anos, exigem que a autarquia mantenha os juros em terreno contracionista.

“A inflação ainda não nos dá tranquilidade, especialmente por conta das expectativas. As expectativas à frente não estão ancoradas no centro da meta de 3%. As expectativas, em 2025 e 2026, estão teimosamente, parcialmente desancoradas, em 3,5%”, declarou Moura em audiência pública da comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara.

A busca por convergência das expectativas de inflação em direção ao centro da meta foi a justificativa dada por Moura para explicar por que o BC tem manifestado que vai perseverar na política monetária contracionista ao longo do ciclo.

Segundo Moura, a reancoragem das expectativas, de modo a conter a inércia inflacionária e as remarcações preventivas de preços, depende da credibilidade do BC. Suas ferramentas, pontuou, são a taxa Selic e a comunicação com o mercado.

“Não se faz isso por decreto”, frisou o diretor de Supervisão de Conduta do BC, cujo voto por um corte mais moderado da Selic (0,25 ponto porcentual) foi vencido na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do início do mês, que terminou com o anúncio de redução da taxa em meio ponto porcentual.

Ele destacou que o BC tem conseguido promover o chamado “pouso suave” da política monetária, ao combater a inflação com o menor custo possível para a atividade, o emprego e crédito. Moura levou à comissão um gráfico que mostra o declínio da taxa Selic na média móvel em quatro anos. De 19,4%, taxa média entre 1999 e 2002, os juros caíram para 7,4% de 2019 a 2023.

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“Os últimos quatro anos têm a Selic média mais baixa de todo o regime de metas”, assinalou o diretor do BC. Ele aproveitou a participação na audiência pública na Câmara, que debateu a taxa de juros e o impacto da inflação às micro e pequenas empresas, para defender o regime de metas.

Conforme Moura, o regime funciona desde que seja cumprido. Ele pontuou que a experiência da Argentina deu errado porque o país vizinho errou ao questionar a autoridade do banco central e abandonar o regime de meta. Nesse ponto, considerou que o Brasil evoluiu na direção contrária, com o governo federal e o Congresso contribuindo para o aperfeiçoamento do arcabouço institucional de combate à inflação.