Indústria continua inibida e dependente do setor extrativo, dizem economistas

Ainda que três das quatro categorias econômicas e 14 das 25 atividades tenham crescido em dezembro em relação a novembro, os setores mais cíclicos continuam a sofrer com as condições adversas

Roberto de Lira

Setores como o de extração de petróleo têm segurando a produção industrial nos últimos meses (Shutterstock)
Setores como o de extração de petróleo têm segurando a produção industrial nos últimos meses (Shutterstock)

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A produção industrial brasileira surpreendeu novamente, ao registrar alta de 1,1% em dezembro ante novembro, acima até das estimativas mais otimistas do mercado. Mas os economistas alertam que, mais uma vez, a atividade teve desempenho desigual entre os setores: enquanto a indústria extrativa exerceu forte impacto positivo, o segmento de bens de capital continuou a sofrer os efeitos do crédito ainda restrito.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que, mesmo com a alta acima do projetado, no ano, o setor registrou um aumento de apenas 0,2%, o que mostra que a indústria continua enfrentando dificuldades para crescer de forma consistente.

“O resultado mais forte de dezembro pode ser atribuído ao desempenho da indústria extrativa, que cresceu 2,2%. Apesar de ser um segmento muito volátil, os dados dos últimos meses mostram que a indústria extrativa vem seguindo uma tendência de alta, que pode estar relacionada ao aumento da produção de petróleo”, explica.

No entanto, a indústria de bens de capital encolheu 1,2% em dezembro. Esse grupo é o mais afetado pelos juros altos, que acabam inibindo investimentos na ampliação da capacidade instalada de máquinas e equipamentos.

“Quando olhamos para todo o ano de 2023, os dados confirmam essas assimetrias de desempenho. Enquanto a indústria extrativa cresceu 7%, a de transformação sofreu uma retração de 1%. Já a indústria de bens de capital sofreu uma queda de 11,1%”, compara.

A análise do Goldman Sachs vai na mesma linha. O banco de investimentos cita, por exemplo, que a produção de bens capital recuou pelo quarto mês seguido e pelo sexto trimestre consecutivo.

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“No futuro, espera-se que o setor industrial continue a enfrentar dificuldades decorrentes das condições financeiras restritivas, das condições de crédito exigentes e do abrandamento da demanda externa”, diz o banco em relatório.

A XP, também foca sua análise nos sinais mistos que a produção industrial tem apresentado. Ou seja, ainda que três das quatro categorias econômicas e 14 das 25 atividades tenham crescido em dezembro em relação a novembro, os setores mais cíclicos permanecem inibidos.

“Pelas nossas estimativas, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), considerando as contas do PIB, despencou 3,5% no ano passado”, comenta a XP, citando a principal medida de investimentos. “Por sua vez, a produção de bens de consumo duráveis saltou 6,3% mês a mês em dezembro”, compara.

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A XP chama a atenção para o forte aumento dos setores de Produtos Alimentares (+2,1% no mês e +4,9% no trimestre) e de Vestuário e Calçados (+14,5% e + 2,4%, respectivamente). “A queda da inflação de curto prazo e o forte aumento do rendimento disponível das famílias impulsionaram essas categorias recentemente”, explica.

A expectativa da XP é que a produção industrial geral aumente aproximadamente 2% em 2024. Com isso, o XP Tracker para o crescimento do PIB do 4º trimestre subiu para 0,15% ante o terceiro trimestre e para 2,35% na comparação com o mesmo trimestre de 2022. Isso é compatível com um aumento de 3,0% em 2023. “Nossa projeção de um crescimento de 1,5% no PIB em 2024 está inclinada para cima.”