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A queda de 0,77% do IBC-Br em agosto, divulgada nesta sexta-feira (20) pelo Banco Central, reforça as leituras de economistas de que atividade econômica esfriou no 3º trimestre e já leva a projeções de um PIB negativo no período, embora não afete, por enquanto, as estimativas para o crescimento da economia no ano.
O consenso das opiniões dos especialistas é que o efeito tanto do avanço do setor agrícola no início do ano como da demanda estimulada pelas transferências de renda já se dissiparam e que as quedas observadas no setor de serviços (-0,9%) e do varejo (-0,2%) em agosto comprovam essa desaceleração.
André Nunes de Nunes, economista chefe do Sicredi, comenta que o dado de hoje superou suas estimativas de queda de 0,30% no mês e que isso pode significar que o ponto de inflexão na atividade foi atingido. No entanto, como o mercado de trabalho ainda está aquecido, há possibilidade de ser verificada alguma resiliência na atividade econômica mais à frente.
Ele destaca que, em agosto, houve dados mistos no consumo das famílias: enquanto os serviços de alojamento e alimentação e de lazer em geral tiveram forte queda mensal (-3,8%), retornando ao nível de abril, as vendas de bens como alimentos e combustível subiram 0,9%, por exemplo.
“Essa composição pode indicar que, com o menor ritmo de elevação da renda, as famílias estão priorizando gastos de maior essencialidade, em contraposição a outros considerados mais supérfluos. Esse movimento também pode refletir a dissipação dos efeitos do impulso de demanda do 2º trimestre”, explica.
Nunes antecipa que devemos acontecer uma revisão para baixo em sua projeção para o crescimento do PIB no 3º trimestre, hoje em +0,1%, para um número levemente negativo.
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Essa leitura é similar à de Rodolfo Margato, economista da XP. Para ele, os indicadores mais recentes de atividade econômica reforçam o cenário projetado de estagnação do PIB no segundo semestre. “A dissipação do choque positivo da agricultura, as condições de crédito restritivas e certa acomodação no mercado de trabalho são alguns dos principais fatores por trás deste prognóstico”, afirma.
Na estimativa da XP, o IBC-Br deve mostrar queda de 0,3% no 3º trimestre em comparação ao 2º trimestre e a projeção para o PIB também sugere um recuo de 0,3% versus o período imediatamente anterior – embora vá representar uma expansão de 1,8% ante igual período do ano passado. A projeção de alta de 2,8% para o PIB de 2023 está mantida.
Acalmando o BC
Adriana Dupita, economista sênior para Brasil e Argentina na Bloomberg Economics, também acredita que a queda na atividade em agosto confirma que o crescimento brasileiro está perdendo força após resultados surpreendentemente fortes no início de 2023.
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Segundo sua análise, a desaceleração pode trazer o efeito benéfico de acalmar as preocupações do Banco Central de que a economia estaria funcionando acima de sua capacidade. “Deverá também ajudar a acalmar o debate sobre a redução do ritmo dos cortes nas taxas. Mantemos a nossa opinião de que o BC reduzirá a taxa diretora em 50 pontos base, para 12,25%, na sua reunião de 1º de novembro”, afirma.
No Goldman Sachs, o diretor de pesquisa macroeconômica Alberto Ramos comenta em relatório que a contração da atividade veio um pouco mais profunda do que as expectativas de consenso e que o dado teve impacto da queda nas vendas no varejo e da contenção dos serviços no mês.
Ele diz ainda esperar que a atividade varejista continue a mostrar os benefícios dos estímulos fiscais do início do ano, mas que esse impacto será mitigado pela perda do impulso da reabertura econômica, pelas condições monetárias e financeiras internas restritivas, pelos elevados níveis de endividamento das famílias, e pela inversão do ciclo de crédito.
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Os economistas Marco Antônio Caruso e Igor Cadilhac, do PicPay, analisam que o resultado do IBC-Br de agosto foi influenciado por quedas em quase todos os setores da atividade econômica, sendo a indústria a única exceção. A principal contribuição negativa, destacam, veio dos transportes e dos serviços prestados às famílias, que devolveram boa parte dos ganhos acumulados nos últimos meses.
“Olhando à frente, a grande questão é se esse resultado negativo se trata de um ponto de inflexão ou se deve a fatores temporários. Por ora, no nosso cenário atual, ainda vemos espaço para um bom desempenho no segundo semestre, sem grandes consequências nos preços, que já mostram uma dinâmica favorável. Com relação aos números, a dinâmica do PIB teve uma leve piora na ponta, mas não altera a projeção de 3% em 2023”, afirmam em relatório.
Olho nas revisões
João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, no entanto, pondera que, apesar de o dado indicar uma queda relevante no trimestre, a leitura do indicador não deve ser levada “a ferro e fogo”, uma vez que o BC revisa de forma relevante a série histórica do indicador.
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“Para se ter uma dimensão dessas mudanças, na divulgação de hoje, o IBC-Br registrou revisões altistas na margem para os meses fevereiro, março, abril e maio. No sentido contrário, houve revisões baixistas para os meses de janeiro e julho”, lista.
Ele afirma que o tracking do PIB do 3º trimestre da Kínitro aponta para uma queda de 0,1% ante o trimestre anterior, que a projeção para o ano segue em alta de 3,1%, tendo em vista a perspectiva de revisão na série do PIB pelo IBGE na próxima divulgação, o que traz uma incerteza adicional à essa projeção.