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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ativou o “modo jovem” na noite desta sexta-feira (7) durante entrevista a um podcast, usando termos informais como “porra”, “pô”, “cara” e “puta” (no sentido de grande) para falar de temas econômicos polêmicos como a taxação do Pix e o “imposto das blusinhas”.
Em entrevista de cerca de duas horas ao podcast Flow, Haddad em pouco tempo de conversa mimetizou aspectos da linguagem do apresentador Igor Coelho, adotando um discurso que destoa das entrevistas rotineiras à imprensa econômica.
“Vou te dizer a real. Este monitoramento data do fim dos anos 1990”, disse Haddad em um momento da entrevista, ao justificar a tentativa da Receita Federal de alterar as regras de monitoramento de movimentações financeiras por meio do Pix.
Fake news
A iniciativa foi posteriormente enterrada pelo próprio governo, para minimizar os efeitos de fake news que diziam que buscava-se a taxação das operações com Pix. O episódio foi negativo para a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Cara, se está no extrato bancário, acabou”, disse Haddad ao tratar do monitoramento já realizado sobre movimentações bancárias. “O volume de recurso para informar era de apenas R$ 2 mil, e a Receita estava recebendo muita informação que ela não fazia nada. Ou seja, ela pediu ao sistema bancário menos informação do que estava recebendo… E aí o Nikolas fez aquele negócio”, criticou Haddad, em referência a vídeo gravado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) criticando o monitoramento e sugerindo que a intenção do governo era taxar por meio do Pix pequenos empresários e trabalhadores informais.
Na entrevista ao Flow, Haddad afirmou que o monitoramento tinha, entre os alvos, instituições que hoje não fazem parte do sistema financeiro e que estão envolvidas em crimes.
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“Vamo combinar”
“Não é o cara que está vendendo bolo na feira para pegar um troco e complementar a renda familiar…”, disse Haddad, de forma descontraída. “Algum interesse foi prejudicado… alguém não quer ser encontrado. É muito estranho, vamo combinar, né?”, acrescentou o ministro, ao comentar as críticas à iniciativa da Receita Federal.
Em outro momento, Haddad abordou o Imposto de Importação aplicado sobre compras internacionais, na polêmica que ficou conhecida como “imposto das blusinhas”.
“O Imposto de Importação sobre compras da Shopee foi criado pelo Congresso, foi aprovado por unanimidade, inclusive pelo PL de Bolsonaro”, afirmou Haddad, citado um dos marketplaces de referência nestas compras (Shopee) por brasileiros e o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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“Os 27 governadores do país cobram ICMS de marketplaces”, acrescentou, destacando o imposto estadual que é cobrado nestas vendas.
Alfinetadas
Em diversos momentos da entrevista, Haddad alfinetou o ex-presidente Bolsonaro e criticou ações adotadas em seu governo.
“O cara que o Bolsonaro apoia nos EUA (o presidente Donald Trump) está querendo taxar todo mundo, e o Lula acabou de anunciar a redução do imposto de alimentos”, citou Haddad, em referência ao anúncio na noite de quinta-feira (6) da redução do Imposto de Importação para alguns alimentos.
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O ministro também procurou demonstrar que tem boa relação com a nova titular da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann – uma notória crítica do corte de gastos pelo governo e da política de juros do Banco Central.
“A Gleisi põe no Twitter dela o que ela pensa. Cara, é muito fácil”, garantiu Haddad, numa mesa onde se via uma espada de plástico (Master Sword) do universo do jogo The Legend of Zelda, um chapéu que lembrava o modelo Panamá e bonecos diversos de personagens da cultura pop, incluindo alienígenas.