Globalização está em nova fase e Brasil pode ser grande beneficiado, se souber aproveitar oportunidades

País pode ampliar sua inserção competitiva e se posicionar num mundo cada vez mais preocupado com segurança alimentar, dizem especialistas

Roberto de Lira

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A globalização está entrando em um novo capítulo e o Brasil pode se tornar um dos maiores beneficiados nesse processo caso amplie a tendência atual de inserção competitiva nos mercados. A opinião é compartilhada por Marcos Troyjo, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB na sigla em inglês para o Banco do Brics), e por José Augusto de Castro, que preside a Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB).

Troyjo acredita que o Brasil já está aproveitando a nova fase do comércio internacional, mas que isso ainda pode melhorar. Ele lembra que o País ficou por muito tempo, desde os anos 1980, oscilando com uma corrente de comércio (a soma de exportações e importações) representando algo entre 18% e 25% do PIB. No entanto, essa relação saltou para 39%, em 2021, e está um pouco abaixo disso neste ano.

Castro diz considerar um patamar de 30% em relação ao PIB aceitável para um país que tem um mercado interno também forte. Nações como Chile, que tem economia mais voltada para fora, diz ele, estão em patamar mais elevado, de até 50%,

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E isso não se dá apenas por conta valores mais altos, por conta de variações cambiais vantajosas ou por preços de commodities inflados, mas por um consistente trabalho de exploração dos novos mercados, especialmente na Ásia.

O presidente do NDB lembra que o Brasil exportou US$ 1 bilhão para a China em todo o ano de 2000. Hoje, alcança esse mesmo valor há cada 60 horas. E há outros mercados em expansão. “Hoje, vendemos mais para a Malásia do que para Inglaterra, Escócia e País de Gales juntos”, compara.

Emergentes avançam

A mudança, segundo Troyjo, contempla uma configuração completamente diferente da economia global nas últimas décadas. Para comparar, ele cita que, ao se somar o PIB medido pelo poder de paridade de compra do G7 (EUA, Japão, Alemanha, Franca, Reino Unido, Itália e Canadá), o total atinge hoje algo em torno de US$ 49 trilhões.

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Ao mesmo tempo, a soma do PIB das sete maiores economias emergentes do mundo (China, Índia, Rússia, Brasil, Indonésia, México e Turquia), que ele apelida de E7, já chega a US$ 60 trilhões.

Para Troyjo, as visões a respeito de uma “desglobalização” são equivocadas, pois o que está acontecendo é uma nova fase da evolução do macroambiente das relações comerciais. Uma dessas etapas começou com a queda do Muro de Berlim, em 1989, com o fim da Guerra Fria e a visão de que as democracias ocidentais e de economia aberta tinham prevalecido.

Daí, houve outra etapa, com negociações para a formação de grandes blocos comerciais, como a União Europeia, o Mercosul, e o Nafta. E novas mudanças vieram com a crise do subprime e a das economias mediterrâneas da Europa. Segundo o presidente do NDB, embora existam “fenômenos desglobalzantes”, como o Brexit, o que tem acontecido é mais uma desaceleração do que um retrocesso.

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Segurança alimentar

O que surge agora é uma outra oportunidade que o Brasil não tem o direito de desperdiçar, segundo Troyjo: o despertar internacional para a questão da segurança alimentar. “Se o Brasil souber ‘ler as folhas do chá’, poderá se adaptar bem às mudanças”, afirma.

Ele lembra que nos encontros do FMI realizados em Washington recentemente, esse foi o tema principal, ante discussões nos anos anteriores que se concentram em torno de evolução do PIB.

Ele defende que o Brasil deve ficar atento ao crescimento populacional de países asiáticos, bem como ao da renda per capita dessas nações. Na Índia, por exemplo, a renda da população mais do que dobrou nos últimos anos, para cerca de US$ 6 mil. Ele explica que as pessoas de países com esse grau de evolução econômica ampliam a ingestão de alimentos, nutrientes e calorias. “O futuro em termos de commodities está todo aqui”, concorda Castro, na AEB.

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Troyjo vê um grande diferencial para o Brasil que é seu rico lençol freático, que deixa o país estrategicamente melhor posicionado para continuar a alimentar o mundo no futuro, com uma agricultura cada vez mais verde, ‘smart’ e tecnológica. “Há mais tecnologia em um grão de soja no Brasil do que num parafuso, que pode estar sendo beneficiado por medidas protecionistas.”

Acordo Mercosul-UE

Mas claro que será necessário fazer alguns “deveres de casa”. Castro cita as reformas tributária e administrativa como essenciais para o aproveitamento de todo o potencial em termos de produtividade. Isso poderia contribuir para o que o acordo Mercosul-UE saísse finalmente do papel, diz Castro, lembrando que atual a carga de impostos deixa o País vulnerável e pouco competitivo em termos de preços em vários produtos e setores. “No momento, esse acordo é mais importante politicamente do que economicamente”, diz o presidente da AEB.

Castro destaca que a pauta de manufaturados chegou a representar 59% do total no início dos anos 2000 e que hoje está em cerca de 28%.

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Troyjo, que ajudou a desenhar e participou das negociações sobre o acordo, pondera que os riscos não são tão grandes porque a liberação para determinados setores é progressiva. “O grande benefício é que acordos desse tipo permitem grandes fluxos”, afirma.

Esses temas serão trados 41° Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex), promovido pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), nos dias 17 e 18 de novembro. Troyjo será um dos convidados.

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