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A forte geração de vagas nos Estados Unidos em maio captada pelo payroll divulgado nesta sexta-feira (7) – que mostrou a criação de 272 mil empregos fora do setor agrícola, acima das projeções – deve manter o Federal Reserve (Fed, o BC americano) ainda longe da confiança necessária para começar a cortar os juros, dizem os economistas.
As maiores probabilidades de início da flexibilização da política monetária estão mantidas para setembro, mas uma continuidade de notícias apontando o aquecimento da atividade econômica e do mercado de trabalho pode colocar em risco essa projeção, alertam os especialistas.
André Valério, economista sênior do Inter, vê a possibilidade de o Fed continuar nas cordas, sem adotar o tom mais “dovish” (suave) que deseja, mas ele alerta que é preciso ponderar sobre particularidades do payroll.
O economista explica que os dados vêm de duas pesquisas separada, uma no nível das firmas e outra no das famílias. Por isso, ocorreu a discrepância no anúncio de maior geração de vagas junto com a alta da taxa de desemprego, que passou de 3,9% para 4,0% em um mês.
“Uma possível explicação (…) é que as novas vagas tenham sido majoritariamente ocupadas por trabalhadores que já possuem emprego, o que apareceria na pesquisa a nível da firma, mas não seria captado na pesquisa a nível domiciliar”, diz.
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Sobre os salários – o payroll trouxe a informação que a evolução chegou a 4,1% no mês, com a média móvel de 3 meses indicando aceleração – Valério classifica a surpresa como negativa, por conta do possível risco inflacionário.
“Se tiver mais uma inflação relativamente forte, se tiver mais surpresas negativas muito provavelmente [os corte só começarão] em dezembro. Porque não acredito que, em novembro, um dia depois da eleição, eles vão cortar as taxas de juros”, prevê o economista.
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também destaca os ganhos por hora trabalhada, que cresceram de 0,2% em abril para 0,4% em maio. “Os números indicam que a baixa oferta de mão de obra disponível continua puxando os salários para cima”, diz.
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Ou seja, o mercado de trabalho aquecido tende a pressionar ainda mais a inflação de serviços, que já está rodando em patamar elevado. “Essa dinâmica dificulta uma queda mais rápida da inflação como um todo em direção à meta. Na nossa visão, aumenta a possibilidade de não haver cortes de juros nos EUA neste ano”, alerta.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, comenta que o resultado do mês de maio foi marcado por uma heterogeneidade significativa nos vetores que podem explicar o impulsionamento da criação de vagas em diversos setores da economia norte-americana.
Ele destaca que o setor de saúde e cuidados pessoais foi responsável por criar 68 mil vagas no período, superando sua própria média dos últimos 12 meses, de 64 mil vagas.
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Ainda que exista uma tendência de alta para os próximos meses, isso não deve ser objeto de acompanhamento por parte do Fed, segundo Pizzani, porque o aquecimento do grupo responde a questões estruturais e não conjunturais.
Enquanto isso, o setor público voltou a dar contribuições de alta na geração de empregos, sendo responsável por abrir 42 mil vagas no mês de maio, ficando levemente abaixo da sua média dos últimos 12 meses, que é de 53 mil vagas.
No caso de segmentos mais afetados por questões sazonais, o destaque foi o grupo de lazer e hospedagem, que retomou trajetória de crescimento acentuado ao criar 42 mil vagas no período, com impulso especial do segmento de bares e restaurantes (+25 mil vagas em maio). A média do grupo nos últimos 12 meses é de 35 mil vagas por mês.
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Em termos analíticos, é praticamente inevitável classificar o viés do payroll divulgado hoje como negativo, diz Pizzani. “O volume de vagas criadas de fato preocupa, especialmente se levado em conta que o aumento verificado no período se deu de forma generalizada no conjunto da economia, contemplando tanto segmentos que se encontram em processo de resolução de questões estruturais”, afirma.
Ele adverte, no entanto, que é preciso analisar com parcimônia a evolução dos indicadores de atividade econômica para o entendimento dos próximos passos a serem tomados pelo Fed.
“Com um cenário marcado por expectativas de médio e longo prazo ancoradas e condições financeiras claramente deterioradas pelo efeito da política monetária (…), o foco deve recair cada vez mais sobre a análise da dinâmica entre variação no nível de renda, consumo final das famílias e, consequentemente, repasses para a inflação originados de maior pressão de demanda”, explica.
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Seema Shah, estrategista-chefe global da Principal Asset Management, por sua vez, comenta que não apenas o número de empregos criados explodiu novamente, como também o crescimento dos salários surpreendeu positivamente, ambos se movendo na direção oposta ao que o Fed precisa para começar a flexibilizar a política.
“Ainda esperamos que o Fed corte as taxas em setembro, mas outro conjunto de dados como os de hoje provavelmente também tiraria essa possibilidade da mesa. A notícia positiva, entretanto, é que, com um mercado de trabalho tão forte, a economia dos EUA não está nem perto do território de recessão.”