Galípolo sinalizou que só faria intervenção cambial em consenso, dizem fontes

O diretor de Política Monetária do BC deu a entender em reuniões com investidores que não puxaria o gatilho para conter a desvalorização do real sem o apoio da diretoria do Banco Central

Bloomberg

O diretor de Polítcia Monetária Gabriel Galípolo (Foto: Arthur Menescal/Bloomberg)
O diretor de Polítcia Monetária Gabriel Galípolo (Foto: Arthur Menescal/Bloomberg)

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(Bloomberg) — O principal tomador de decisões sobre uma  intervenção cambial do Brasil sinalizou que não puxaria o gatilho para qualquer medida para conter a desvalorização do real neste ano sem obter total apoio do colegiado do Banco Central.

Gabriel Galípolo disse a investidores em reuniões privadas neste mês que procuraria o consenso de outros diretores do Banco antes de tomar medidas no mercado cambial, de acordo com quatro participantes nessas reuniões.

A postura cautelosa parecia parte da estratégia do diretor de Política Monetária para evitar qualquer aparência de ser suscetível a pressões políticas num momento delicado para a instituição, disseram as pessoas, solicitando anonimato.

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Galípolo é a provável escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para chefiar a instituição assim que o mandato de Roberto Campos Neto terminar, em dezembro. Isto o coloca num difícil ato de equilíbrio entre um chefe de Estado que exige que os decisores políticos combatam o que ele vê como especulação monetária e, por outro lado, investidores que estão desconfortáveis ​​com a crescente influência de Lula no BC.

O governo também clama por taxas de juros mais baixas, enquanto os mercados apostam que eles irão na direção oposta.

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O real brasileiro caiu mais de 10% no acumulado do ano, a maior queda entre os mercados emergentes depois do peso argentino. Os apelos à intervenção do Banco Central vieram dos aliados de Lula quando a moeda enfraqueceu acentuadamente na semana passada.

Em seguida, reduziu algumas dessas perdas quando Lula se absteve de comentar sobre o mercado cambial e o governo anunciou cortes de gastos.

“Tradicionalmente, qualquer decisão de intervenção seria acordada com o presidente do BC”, disse Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor de Política Monetária do BC e atualmente presidente da Jive Investments.

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Os investidores se irritaram com as críticas de Lula à política monetária e atrasaram a aceitação das reduções de gastos. “Nossa moeda flutua e agora está reagindo ao aumento das incertezas”, acrescentou Figueiredo. Houve “muitos discursos públicos e entrevistas, aumentando a cada passo”.

Autonomia, mas com consenso

As decisões de intervenção no mercado cambial viriam de Galípolo, que chefia as mesas de negociação do Banco Central. Durante anos, o presidente da instituição também precisaria aprovar quaisquer ações antes da sua implementação.

No entanto, à medida que a pandemia da covid-19 perturbava os mercados nacionais e globais, o diretor de política monetária do Banco recebeu autonomia para realizar operações cambiais utilizando até 5% das reservas internacionais do Brasil, que atualmente se situam perto de US$ 360 bilhões.

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Embora essa liberdade permaneça em vigor hoje – com um limite inferior, de 2,5% das reservas – Galípolo ainda procuraria o consentimento de outros membros do alto escalão do banco.

Em discursos públicos, os banqueiros centrais, incluindo Campos Neto e Galípolo, culparam o “ruído de curto prazo” pela liquidação, apontando para incertezas sobre o futuro fiscal e monetário do país. Eles não chegaram a sinalizar qualquer tipo de intervenção no mercado cambial.

A posição do Banco Central em relação à moeda, por sua vez, levou Lula a alegar que existe um “jogo de especulação” que “não é normal”.

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Os decisores políticos enfatizam frequentemente que não têm uma meta para a taxa de câmbio. Mas, tal como acontece em muitos mercados emergentes, uma valorização sustentada do dólar pode aumentar os custos dos bens importados, pressionando a inflação.

No caso de falta de liquidez ou de sinais de disfunção do mercado, o BC pode leiloar novas linhas de swap cambial ou intervir no mercado à vista comprando ou vendendo dólares.

O banco central do Brasil se recusou a comentar esta história.

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Ciclo de juros

As tensões entre Lula e o Banco deverão aumentar depois que o Copom interrompeu um ciclo de flexibilização de quase um ano em junho e não deu sinais de continuar os cortes. Galípolo juntou-se à votação unânime do conselho para manter os custos dos empréstimos em 10,5%, depois de ter discordado a favor de uma redução maior na reunião anterior.

A equipe econômica do governo interpretou o voto de Galípolo como uma decisão corajosa que reforça a sua imagem de um decisor político técnico, disse uma pessoa com conhecimento do assunto.

As apostas são altas num momento em que os traders já apostam em aumentos de taxas este ano. A preocupação é que os investidores possam antecipar um aumento nos preços ao consumidor devido ao real mais fraco e, consequentemente, elevar as suas estimativas de inflação ainda mais acima da meta de 3% do banco.

Se esse aumento persistir, poderá tornar inevitável outro ciclo de alta, segundo Italo Abucater, chefe de câmbio da Tullett Prebon.

Em meio a uma forte desvalorização do real, a maneira mais prática e eficaz de reagir seria vendendo dólares, disse ele, acrescentando que essas vendas “criariam o ambiente para que os investidores estrangeiros recuperassem naturalmente os fluxos”.

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