“Foto” do IPCA-15 de junho mostrou alívio, mas “filme” do ano ainda preocupa

Economistas destacam que surpresa do indicador mensal foi concentrada em preços voláteis, como passagens aéreas, mas que alimentos em alta, serviços resilientes e riscos fiscal e cambial ainda exigem cautela

Roberto de Lira

Alimentos em supermercado (Foto: Divulgação/Pão de Açúcar)
Alimentos em supermercado (Foto: Divulgação/Pão de Açúcar)

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O alívio na inflação de junho, antecipado pelo IPCA-15 de 0,39% anunciado hoje pelo IBGE, deve mudar a “foto” do mês para as projeções do indicador cheio, mas não alteram o “filme” da variação de preços esperada para o ano, segundo a opinião de economistas.

A opinião quase geral dos especialistas é que houve boas surpresas em itens de muita volatilidade, como passagens aéreas e combustíveis, mas que permaneceram e até cresceram os riscos fiscal e cambial, além de os preços dos serviços continuarem resilientes.

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Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, disse ter observado um boa composição no IPCA-15 de junho. O dado, segundo ela, trouxe um viés de baixa para a projeção do mês de junho fechado, muito por conta da deflação de 9,87% nas passagens aéreas, além de os preços dos combustíveis terem vindo um pouco abaixo do esperado.

Mas isso não deve trazer mudança para a expectativa de inflação em prazo mais longo. “A gente continua esperando 4% para o IPCA nesse ano e 4% para o ano que vem. E nenhum corte na taxa de juros em 2024.”

A economista destacou como ponto negativo no mês a alimentação no domicílio, com variação de 1,13% ante projeção do BNP Paribas de 1,0%.

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André Valério, economista-sênior do Inter, comentou que, da mesma forma como ocorreu com o IPCA de maio, a aceleração na inflação em 12 meses (de 3,70% para 4,06% em um mês) reflete em parte a base fraca de comparação com 2023, quando a inflação mensal ficou em 0,04%.

Ele destacou que a média dos núcleos da inflação avançou marginalmente, de 0,31% para 0,33%, recolocando a média móvel de 3 meses em tendência de alta. “Entretanto, no acumulado em 12 meses a média dos núcleos recuou marginalmente de 3,50% para 3,49%”, ponderou.

Ele também citou como ponto de atenção o grupo de Alimentação e Bebidas, com alta de 0,98% e impacto de 0,21 ponto percentual no resultado cheio, puxado pela alimentação no domicílio, que acelerou de 0,22% em maio para 1,13% em junho.

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Sobre o índice de difusão, que mede a amplitude do processo inflacionário, ele citou a ligeira variação na margem, de 55% para 57%. Ou seja, um resultado que não empolga nem preocupa.

“O processo desinflacionário indica encontrar uma resistência nesse momento, mas sem sinais alarmantes de que reverterá esse processo no curto prazo. A inflação acumulada em 12 meses deve continuar em tendência de alta chegando próxima de 4,5%, teto da meta, o que tem reflexo negativo pelo efeito inercial”, comentou.

Segundo Valério, a retomada dos cortes de juros em 2025 vai depender de uma melhora substancial no cenário, seja pela desaceleração no consumo com o maior aperto monetário – e um corte de gastos públicos também contribuiria positivamente – ou pela melhora no cenário externo, via câmbio.”

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Surpresa de alta em duráveis

Já a XP analisou em relatório que as principais surpresas para baixo No IPCA-15 vieram das passagens aéreas, enquanto as surpresas para cima vieram dos bens duráveis, especialmente veículos novos (0,7%). “Como esperado, a desaceleração mensal em relação a maio foi relacionada a itens monitorados, especialmente os reajustes sazonais em produtos farmacêuticos e combustíveis”, diz o texto.

Foi ressaltado que a média trimestral anualizada para os preços industriais avançou de 0,4% para 2%, e que agora está em 0,64% na métrica de 12 meses. “Esperamos que o grupo suba 1,9% em 2024, mas a recente depreciação da taxa de câmbio coloca pressão de alta para o último trimestre e 2025”, explicou a XP.

“Ao todo, o IPCA-15 de junho veio mais ou menos em linha com as expectativas do mercado, considerando a quebra. Na nossa visão, a surpresa em baixa nos preços das passagens aéreas levará os economistas a revisarem suas previsões para o IPCA de junho”, preveem.

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“Nossa previsão caiu de 0,33% para 0,24%, substituindo todos os itens repetidos. Por fim, nossas projeções para o IPCA permanecem em 3,7% para 2024 e 4,0% para 2025, embora vejamos um risco de alta relacionado à recente depreciação cambial.”

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por sua vez, destacou que a inflação de serviços cresceu apenas 0,1% no mês e que esse resultado pode ser explicado, quase que totalmente, pela queda de 9,87% nos preços das passagens aéreas, um item que apresenta bastante volatilidade.

“Por outro lado, a inflação de serviços subjacentes, aquela que é acompanhada mais de perto pelo Banco Central e exclui itens mais voláteis, como as passagens aéreas, continua pressionando o índice geral. Em 12 meses, o segmento acumula alta de 4,6% e segue sem dar sinais de desaceleração”, comparou.

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Ela também frisou que merece atenção a inflação da alimentação no domicílio, que subiu 1,13%. “Esse grupo sofre o impacto das chuvas no Rio Grande do Sul, uma vez que o estado é um grande produtor de grãos, como arroz, soja e milho”, explicou.

“Na nossa visão, o mercado de trabalho aquecido deve dificultar a desaceleração da inflação de serviços. A depreciação recente do câmbio também é outro fator de pressão para a inflação. Nossa projeção é que o IPCA deve fechar 2024 com alta de 4,7%”, estimou.

Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, também comentou que a surpresa de baixa foi concentrada exclusivamente nas  passagens aéreas, mas que apesar da grande volatilidade nos preços desse item, isso vai de fato ajudar na queda da projeção fechada para o mês de junho, uma vez que esses preços são replicados no IPCA cheio.

A projeção da AZ Quest está em torno de 0,30%, ante 0,39% anteriores.

Mesmo admitindo esse alívio na inflação de curto prazo, Barbosa afirmou que sua projeção para a inflação subiu recentemente de 3,9% para 4,1%, “basicamente por causa da parte de alimentação no domicílio e alguns itens industriais”.

Igor Cadilhac, economista do PicPay, também considerou que o IPCA-15, do ponto de vista qualitativo, veio com uma leitura melhor que a esperada. Para ele, a melhora quase que disseminada nos núcleos segue reforçando um cenário desinflacionário robusto no curto prazo.

Mas, a projeção para o IPCA do ano pelo PicPay também foi elevado há pouco, de 3,8% para 4,1%. “A revisão reflete principalmente o aumento maior do que o antecipado nos preços dos alimentos. Além disso, temos observado uma resiliência na inflação de serviços devido a um hiato do produto mais apertado e a aumentos salariais resultantes do baixo desemprego e da regra do salário-mínimo”, explicou.

“Ao mesmo tempo, o aumento da desancoragem das expectativas, os riscos fiscais e a desvalorização da moeda continuam no radar”, complementou.