Fomc reforça previsão de manutenção de juros em junho, mas opções estão em aberto, dizem analistas

Diretores do Fed passa a mensagem que decisões serão tomadas com base em dados mesmo retomada de alta não está descartada

Roberto de Lira

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A manutenção da taxa de juros nos Estados no atual patamar – a faixa 5% e 5,25% ao ano – ainda é o cenário mais provável para a próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) em junho, segundo analistas, mas ainda não é possível cravar uma tendência porque os diretores do Federal Reserve vão continuar a observar os dados a cada encontro. Essa é leitura feita a partir dos comentários da Ata da reunião dos dias 2 e 3 maio, divulgada nesta quarta-feira (24)

Andressa Durão, economista da ASA Investments, por exemplo, diz acreditar que cenário base para junho é de é pausa, mas considera que as leituras ainda estão em aberto para as reuniões seguintes.

Ela usou como exemplo exatamente a última reunião, quando a maioria achava que pausa era cenário ideal, mas condicionaram este cenário aos dados. “Para que o cenário de pausa seja confirmado, os dados terão que seguir como esperado. Diante dos últimos discursos, (os diretores) estão incomodados com alguns dados do lado mais ‘hawk’”, comentou Andresse.

A economista da ASA destaca que a avaliação do Fomc sobre situação econômica não mudou entre as reuniões de março e maio, com a visão de um mercado de trabalho apertado e com salários desacelerando, porém ainda em níveis elevados.

Ela comenta ainda que a principal diferença na divulgação de hoje é a redução das preocupações sobre o setor bancário. Mas com um comentário o acesso ao crédito ainda não parece ter diminuído significativamente desde o início do estresse no setor.

A análise do documento, lembra Andressa, é que esse estresse, nos próximos trimestres, provavelmente induziria os bancos a restringir os padrões de empréstimo mais do que fariam em resposta apenas às taxas de juros mais altas.

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Francisco Nobre, economista da XP, também acredita que o Fomc deixou as portas abertas para as próximas decisões, embora também tenha manifestado clara intenção de pausa e manutenção da taxa básica de juros até o final do ano.

“A Ata publicada hoje é consistente com nosso cenário base de taxas de juros estáveis até o final do ano e início do ciclo de flexibilização no primeiro trimestre de 2024”, afirma Nobre.

Ele destaca que, embora um aperto maior não tenha sido descartado, a ata afirmou que “se a economia evoluir de acordo com as perspectivas atuais, pode não ser necessário um maior fortalecimento da política após esta reunião”. O documento também reforçou que o Fed não planeja cortar juros este ano e manteve sua retórica de dependência de dados, lembra o economista.

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Nobre diz que os mercados estão céticos sobre a orientação futura e continuam precificando os cortes nas taxas este ano. “Ainda assim, nas últimas duas semanas, os mercados deixaram de apostar em cortes de juros de 75 bps até o final do ano para precificar 25 bps. Além disso, os mercados estão atualmente atribuindo uma probabilidade de 30% de um aumento de 25 bps em julho”, afirma.

“O deslocamento para cima da curva de juros reflete a resiliência da inflação, da atividade econômica e dos dados do mercado de trabalho. Destacamos os dados do PMI de maio divulgados ontem, mostrando desempenho acima do esperado, principalmente no setor de serviços”, afirma.

Nobre diz acreditar que o ciclo de flexibilização deve ser gradual ao longo de 2024, com o limite superior da taxa dos fundos federais fechando o ano em torno de 3,5%.

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Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também acredita que que a Ata de hoje reforça a visão de que as decisões da autoridade monetária sobre a taxa de juros serão feitas de reunião em reunião, a depender da evolução dos dados de inflação, da atividade econômica e do mercado de trabalho.

“Vários membros discutiram que, caso a economia norte-americana evolua de acordo as perspectivas atuais, seria possível encerrar o ciclo de alta de juros. Porém, o comitê discutiu que, apesar da desaceleração, a inflação segue bem acima da sua meta de longo prazo. E, como ainda há riscos altistas, muitos participantes sinalizariam a importância de deixar a opção de novas altas em aberto”, comenta Sung.

Para o Comitê, a atividade cresceu em um ritmo modesto no primeiro trimestre. O mercado de trabalho continua aquecido, com uma taxa de desemprego baixa. Os recentes episódios no sistema financeiro impactaram negativamente o mercado de crédito para as famílias e empresas, o que ajuda a desacelerar a economia e a inflação, mas a extensão dos efeitos ainda é incerta.

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Em relação a inflação, Sung destaca que a Ata cita que inflação cheia está desacelerando, mas que o núcleo e alguns grupos precisam dar mais sinais de arrefecimento para que o Fed tenha condições de encerrar definitivamente o ciclo de alta de juros.

“Diante desse cenário, o Fed quer evitar qualquer tipo de movimento brusco para evitar algum ruído ou perda de credibilidade. De qualquer forma, esperamos o fim do ciclo em breve, mas é possível que tenhamos uma nova alta até o fim do ano. E o juro deverá permanecer no pico por um bom tempo até que a inflação dê sinais de convergência para meta de longo prazo”, afirma..

Lucas Zaniboni, analista sênior de pesquisa internacional da Garde, afirma que a ata do Fomc não trouxe muitas novidades em relação aos discursos mais recentes de diretores do Fed. “Acho que a principal informação disponível é a que o comitê se encontra mais divido que as últimas reuniões, com um número bem parecido de membros achando que o cenário permitirá ao Fed parar com as altas, e outro grupo mais ‘hawkish’ achando que algumas altas ainda serão necessárias”, comenta.

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Zaniboni destaca, no entanto, que isso não necessariamente precisa acontecer na reuniões de junho. “Mesmo os membros mais ‘hawkish’ não parecem, no discurso recente, fazer tanta questão, desde que a porta esteja aberta para mais altas nas reuniões seguintes a depender de como os dados evoluam”, diz.

Já Marcelo Oliveira, co-fundador da Quantzed, diz que o Fed praticamente descartou que aconteça alguma baixa nos juros em 2023. “O mercado esperava que pudesse ter já uma queda de juros no último trimestre de 2023 e isso está agora praticamente descartado. Pelo que estou vendo, queda de juros mesmo só para 2024”, prevê.

Oliveira também afirma que o texto reconhece que a projeção de PIB não deve ser atingida, vindo abaixo das expectativas. Ou seja, podemos ter uma recessão leve a partir de 2024. O PIB deve crescer menos nos próximos dois trimestres e depois começar a cair moderadamente.”