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O Fundo Monetário Internacional (FMI) piorou as suas projeções para o desempenho da economia global em 2023 e alertou para o risco de recessão na Alemanha e no Reino Unido, isso sem considerar os efeitos da recente turbulência no setor bancário.
O organismo espera que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial desacelere para 2,8% neste ano, ante projeção anterior que indicava avanço de 2,9%, segundo o relatório Perspectiva Econômica Mundial (WEO, na sigla em inglês), publicado nesta terça-feira (11), durante as reuniões de primavera do Fundo, as chamadas “Spring Meetings”.
“A economia global está novamente em um momento altamente incerto”, avalia o FMI, citando os riscos acumulados da pandemia, a guerra na Ucrânia e o recente caos bancário, que levantou preocupações de estabilidade financeira. “Os riscos para as perspectivas são diretamente negativos”, acrescenta.
No ano passado, a taxa de expansão global caiu quase pela metade, de 6,1% para 3,4%. Para 2024, o FMI também cortou a sua projeção em 0,1 ponto porcentual, para 3,0%.
Na visão do Fundo, há um “risco significativo” de que a recente turbulência do sistema bancário resulte em um aperto mais acentuado e persistente das condições financeiras globais do que o previsto na linha de base e em cenários alternativos plausíveis, o que poderia deteriorar ainda mais a confiança dos negócios e dos consumidores e, por sua vez, impactar a economia global.
Para o FMI, o PIB mundial deve manter baixo crescimento, de cerca de 3%, nos próximos cinco anos, sua expectativa mais baixa em cerca de três décadas. Segundo a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, esse é o prognóstico “mais preocupante”.
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“Não nos dá grandes esperanças de atender às aspirações das pessoas, especialmente das pessoas pobres”, disse ontem a dirigente do órgão, na abertura das reuniões.
Quanto ao custo de vida, o Fundo espera que a inflação global caia de 8,7% em 2022 para 7,0% neste ano. A maioria das economias deve presenciar algum nível de desinflação em 2023, segundo o organismo.
Recessão e desemprego
Na revisão de suas projeções, o Fundo passou a prever que a Alemanha entre em recessão neste ano, ao cortar a expectativa para o PIB doméstico em 0,2 ponto porcentual, para uma queda de 0,1% frente a 2022. Já a projeção para o Reino Unido foi melhorada em 0,3 ponto porcentual, mas ainda assim a economia do país deve encolher em 0,3% em 2023.
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A média de crescimento das economias avançadas estimada pelo FMI é de 1,3% neste exercício, uma melhora de 0,1 ponto porcentual frente à anterior. Já para 2024, o organismo manteve a expectativa de avanço de 1,4%.
“Estima-se que cerca de 90% das economias avançadas tenham um declínio no crescimento em 2023”, afirma o FMI, no relatório. A forte desaceleração deve resultar em um maior desemprego nas economias avançadas: um aumento de 0,5 ponto porcentual, em média, de 2022 a 2024, prevê o Fundo.
EUA, China e Índia
Na contramão da maioria dos países, o FMI melhorou a projeção para o crescimento dos Estados Unidos. O organismo espera que a maior economia do mundo cresça 1,6% neste ano, contra estimativa anterior de alta de 1,4%. Para 2024, o Fundo vê chances de avanço de 1,1%, 0,1 ponto porcentual a mais do que a estimativa anterior.
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Algum ímpeto de crescimento virá dos países emergentes e em desenvolvimento. O Fundo estima expansão do PIB desse grupo de 3,9% neste ano, 0,1 ponto porcentual abaixo da estimativa divulgada em janeiro. Para o próximo ano, a expectativa ficou intacta, em 4,2% de alta.
Apesar da reabertura chinesa, o FMI não alterou o seu prognóstico para o país asiático. O organismo espera que o PIB da China avance 5,2% neste ano e 4,5% no próximo.
O grande destaque em termos de crescimento deve ser a Índia, apesar de o Fundo ter cortado suas projeções para o país. O FMI projeta incremento de 5,9% da economia indiana em 2023 contra 6,1% anteriormente. Para 2024, a estimativa passou para uma alta de 6,3%, ante 6,8%.
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Efeitos da crise nos bancos
O FMI traçou ainda um “cenário alternativo” às suas projeções econômicas, no qual considera efeitos danosos da recente turbulência bancária no desempenho da economia mundial neste ano. A expansão do PIB global desaceleraria para 2,5% em vez de uma alta do cenário base de 2,8%. “Seria o resultado mais baixo desde a desaceleração global de 2001, excluindo a crise inicial da covid-19 em 2020 e a crise financeira global em 2009”, diz o FMI, no documento.
Georgieva já havia antecipado que o Fundo traria um cenário em paralelo às suas projeções, contabilizando os efeitos negativos desencadeados pela recente turbulência bancária após o colapso de três bancos nos Estados Unidos e a venda às pressas do Credit Suisse ao UBS. “Claramente, os riscos negativos aumentaram. Não há dúvida sobre isso”, destacou.
Neste cenário alternativo, os efeitos negativos tendem a ser maiores nas economias avançadas do que naquelas de mercados emergentes, com o crescimento caindo abaixo de 1% em comparação com 1,3% no cenário base, segundo o Fundo. Os Estados Unidos, a zona do euro e o Japão teriam as maiores quedas no crescimento em comparação com a linha de base: cerca de 0,4 ponto porcentual menor em 2023.
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“Países com maior exposição comercial aos Estados Unidos, como México e Canadá, sofreriam um impacto mais acentuado. Aqueles com exposições menores como, por exemplo, a China, seriam menos afetados”, avalia o FMI.
De acordo com o organismo, o cenário alternativo plausível assume um aperto adicional moderado nas condições de crédito e maiores spreads para empresas e famílias.
“As condições de financiamento para todos os bancos são mais apertadas, devido a uma maior preocupação com a solvência dos bancos e potenciais exposições em todo o sistema financeiro”, avalia o Fundo, citando ainda uma supervisão mais rígida e que também contribui para um comportamento mais cauteloso dos bancos.
No cenário alternativo, a expectativa do FMI é de que o estoque de empréstimos bancários reais nos Estados Unidos caia 2%, enquanto os spreads bancários corporativos, diferença de quanto um banco para captar e o quanto cobra para emprestar subiria em 150 pontos base, em média, em 2023. Uma queda semelhante no crédito e no aumento dos spreads ocorreriam na zona do euro e no Japão, com o aperto gradualmente se dissipando após 2023, prevê o Fundo.