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A China começa nesta sexta-feira (9) um período de feriado prolongado para comemorar a chegada do Ano do Dragão, emendado com o Festival de Primavera, que se estende até o dia 17. Esse é um período de movimentação interna de pessoas tão intensa que seus resultados podem ditar o ritmo da atividade econômica do país. Mas o período afeta a cadeia logística global.
Os órgãos oficiais calculam que o período conhecido como “corrida de viagens” (Chunyun), iniciado em 26 de janeiro e que deve ir até o início de março, deve contabilizar cerca de 9 bilhões de viagens por todos os meios, número que deve representar o triplo do observado em 2019, antes da pandemia.
Entre os principais modais, a previsão é de que cerca de 480 milhões de viagens sejam realizadas pela rede ferroviária, 80 milhões por via aérea e um dado sem precedentes de 7,2 bilhões de viagens de automóvel.
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Nesse período, os trabalhadores das grandes cidades voltam à suas províncias de origem – muitas vezes a quatro ou cinco dias de distância – para visitar seus pais, filhos e outros parentes e amigos, contato esse que tinha sido evitado ou reduzido pelas ondas de contágio por covid-19 em 2020, 2021 e 2022. No ano passado, com o turismo ainda parcialmente afetado por restrições de circulação, foram contabilizadas 4,73 bilhões de viagens de passageiros.
Consumo avança
Para os setores de comércio varejista e de serviços só há motivos para comemorar. Wang Peng, pesquisador associado da Academia de Ciências Sociais de Pequim, disse ao jornal Global Times nesta semana que o boom das viagens terá um impacto positivo na recuperação econômica da China no ano.
A explicação é que a corrida do Festival da Primavera impulsiona diretamente a recuperação de indústrias relacionadas, como transporte, turismo e hospedagem, além de contribuir para melhorar a confiança do consumidor, estabelecendo uma boa base para um crescimento econômico estável ao longo do ano.
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O consumo, aliás, já foi um motor de crescimento significativo na China em 2023, respondendo por 82,5% do crescimento do PIB, que avançou 5,2% no ano passado. O setor dos serviços viu seu valor crescer 5,8% em termos anuais, representando 54,6% do PIB.
Neste ano, o setor de turismo, por exemplo, já experimenta uma evolução assombrosa. A empresa de viagens Fliggy – do grupo Alibaba – disse num relatório de 16 de janeiro que as reservas de hotéis pela sua plataforma aumentaram 160% em 2024 em comparação com o mesmo período de 2019. As excursões em grupo aumentaram 34%.
Logística global sofre
O período de viagens dura cerca de 40 dias, mas os efeitos no país e no mundo chegam bem antes. Quase todas as empresas na China interrompem sua produção ou passam a operar com pessoal mínimo no feriado. E aproveitam para incentivar os funcionários a tirar os dias de férias acumulados.
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A produção é temporariamente interrompida, o que afeta todo o ciclo de negócios nas semanas anteriores e posteriores, com atrasos nas entregas, nos processamentos de pedidos e nos atendimentos aos cliente. Por isso, o ritmo de produção é frenético antes das paradas, com impactos inclusive no trânsito de mercadorias nos portos.
Normalmente, após o período de férias, as fábricas reiniciam suas linhas de produção e enfrentam uma enorme carteira de encomendas de todo o mundo. Pode levar até um mês ou mais para que algumas fábricas retornem aos prazos normais de entregas.
Cartilha
Por conta disso, grandes operadores logísticos globais, como a Maersk, criam cartilhas para seus clientes se preparem antes de algum problema de abastecimento. “Você deve fazer seus pedidos com bastante antecedência e ter estoque suficiente para passar o período de férias”, diz uma das recomendações.
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É importante lembrar que os festejos do Anovo Novo Lunar também acontecem em outros grandes players do Leste Asiático, como Vietnã, Singapura, Malásia, Filipinas, Indonésia e Coreias do Sul. A Maersk ainda detalha que o aumento da demanda e a baixa oferta levam a taxas de transporte inflacionadas e, como o volume de frete é alto, também acarreta maior tempo nos processos de documentação e desembaraço aduaneiro. Para piorar, a rotineira escassez de contêineres vazios foi acentuada neste ano com os efeitos dos ataques a navios pela milícia Houthi do Iêmen na região do Mar Vermelho.