Fed mostra cautela e condiciona corte de juro a dados de inflação, dizem economistas

Fed dá sinais mais duros sobre próximos passos de política monetária

Lara Rizério

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O Federal Reserve manteve nesta quarta-feira (29) sua taxa de juros de referência dos Estados Unidos entre 4,25%- 4,5%, decisão nada surpreendente, com o grande foco do mercado no teor que seria adotado no comunicado da decisão.

Isso porque foi a primeira reunião após a posse do presidente Donald Trump, cuja agenda econômica foi apontada como muitos como uma possível causadora de uma guinada hawkish (mais dura, indicando juros altos por mais tempo para conter a inflação) por parte do comitê de política monetária da instituição.

Para o Morgan Stanley, as mudanças na linguagem refletem um tom mais cauteloso, mantendo a consistência com as declarações de dezembro. Os economistas do banco ressaltam que “cortes adicionais [de juros] requerem evidências de desinflação”.

“O comunicado, embora desprovido de qualquer menção direta a Trump, e mesmo a esfera política como um todo, trouxe elementos importantes para a construção de um melhor entendimento sobre como se comportará o Fed nesta nova conjuntura”, avalia Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

No comunicado, foi apontado o forte ritmo de crescimento da econômica americana como principal característica avaliada pelo comitê, algo que já vinha ocorrendo nos trimestres anteriores e que faz jus aos indicadores divulgados recentemente e projeções do próprio FED para este ano, aponta o economista.

Os dois outros indicadores trouxeram novidades em suas respectivas análises. No caso da taxa de desemprego, o comitê considerou que houve estabilização da taxa de desocupação em patamar relativamente baixo, com as condições de empregabilidade permanecendo sólidas, contrariando o viés menos receptivo frente ao comportamento do mercado de trabalho do que aquele apresentado pelo comitê em momentos anteriores. Já no que diz respeito à inflação, eliminou-se qualquer menção à desaceleração ou arrefecimento do nível de preços do país, com a trajetória recente dos preços sendo classificada como elevada de alguma forma.

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Essas mensagens são importantes, avalia. Para o economista, o comitê se sente mais confortável atualmente com o cenário de pouso suave do que em reuniões anteriores. A menor preocupação expressa especialmente no caso do mercado de trabalho e a maneira como encara o ritmo da atividade econômica são amostras neste sentido. “Esta hipótese, no entanto, não implica afirmar que o menor receio pode abrir espaço para cortes de juros independente do que vem ocorrendo no campo da inflação. Isto porque, conforme mostra o pequeno trecho que trata do comunicado que trata da inflação, a mesma foi considerada elevada, ainda que o motivo para tal elevação seja desconhecido por parte dos membros”, aponta.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, destaca o trecho referente à inflação que teve uma mudança hawkish, com o Fed retirando o trecho em que afirmava que a inflação progredia em direção à meta. Outro ponto relevante, o Fed afirma que a taxa de desemprego estabilizou em nível baixo e que o mercado de trabalho segue sólido.

Para Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, o cenário desenhado pelo Fomc reforça a expectativa da casa de que a autoridade monetária vai reduzir os juros de forma mais lenta em 2025, com o objetivo de levar a inflação para a meta de 2%. “Por ora, mantemos nossa visão de que o Fed deve anunciar apenas dois cortes de juros neste ano”, aponta.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.