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Após duas reuniões quando as datas “descasaram”, os comitês de política monetária de Estados Unidos e Brasil voltam a anunciar suas decisões sobre juros no mesmo dia, ocasião que o mercado apelida de “Super Quarta”.
Embora seja esperada a manutenção das taxas tanto pelo Fomc como pelo Copom, as condições são diferentes das observadas em março, quando aconteceu a última data coincidente.
Para os economistas, o BC daqui está numa fase mais dura (“hawkish”) enquanto a comunicação do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve ser mais suave (“dovish”), preparando o terreno para o início da flexibilização.
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Em 20 de março, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil cortou a Selic em 0,50 ponto percentual, na sexta queda seguida, e ainda sinalizou uma redução da mesma magnitude para o encontro seguinte, em maio.
Horas antes, o Fomc tinha anunciado a manutenção das taxas, reforçando que faltava confiança de que a inflação estava desacelerando num bom ritmo em direção à meta buscada pelo Fed.
Para esta semana, o quadro se inverteu um pouco. Enquanto as expectativas de inflação no Brasil saíram do prumo, obrigando o BC a pisar no freio com seus cortes, espera-se que o Fed possa finalmente dar um sinal mais claro de que um corte de juros é iminente. Isso por conta de dados de inflação mais benignos nos últimos meses.
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Para Andressa Durão, economista do ASA, o Fomc desta semana deve abrir a porta para um corte de juros na reunião de setembro, quando o Fed trará revisão de suas projeções. Mas sem se comprometer com uma decisão, mantendo a cautela diante das incertezas com os próximos dados.
“Powell fará uma leitura ‘dovish’ dos últimos dados, mas deve dizer que precisa de mais números favoráveis de inflação nos próximos meses para garantir confiança necessária em cortar juros”, argumentou a economista.
Já Francisco Nobre, economista da XP, considera um corte de juros nos EUA em setembro ganhou probabilidade material, embora ainda não seja um acordo fechado. Para ele, as próximas leituras serão essenciais para determinar se o recente abrandamento da inflação é sustentável ou não.
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“Prevemos cortes de 25 bps em um ritmo gradual e uma taxa terminal de 3,5% a ser alcançada em 2026”, estimou em relatório.
“Powell [presidente do Fed] e outros membros do Fomc ganharam confiança de que o processo de desinflação foi retomado, traduzindo-se em discursos mais ‘dovish’. Os membros do Fomc têm preparado os mercados para a possibilidade de um corte de taxa em setembro”, disse Nobre.
A opinião de Nathan Sheets, economista chefe global do Citi, concorda com essa visão. “Os dados de inflação foram encorajadores. É evidente que a economia está desacelerando. O balanço de riscos é diferente do que era há quatro meses. Ponto final”, disse à Reuters. “Parece que eles querem ter um pouco mais de certeza, então sinalizam em julho e cortam em setembro.”
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Copom
Para os economistas, no entanto, o BC brasileiro não pode mais se dar a esse luxo. Um relatório assinado pelo economista chefe do Itaú, Mario Mesquita, aponta que os dados de atividade econômica no Brasil divulgados desde a última decisão do Copom continuaram mostrando resiliência e um mercado de trabalho aquecido, com salários sob pressão, consistentes com o aumento da inflação de serviços à frente.
“Nessas condições, o comitê provavelmente renovará sua promessa de vigilância e declarará que avaliará se a estratégia de manter a política monetária em nível contracionista por tempo suficiente será capaz de garantir o processo de desinflação e reancoragem das expectativas.”
A XP tem uma leitura similar. Numa análise da equipe comandada por Caio Megale, o comentário é que fluxo de notícias e dados desde a última reunião do Copom sugere que trazer a inflação para a meta de 3,0% se tornou mais desafiador.
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“Destacamos a depreciação cambial adicional, o aumento das expectativas de inflação e os indicadores de atividade mais fortes do que o esperado. O risco fiscal permanece elevado”, diz a análise da XP.
Assim, além da manutenção da taxa, as projeções de inflação do Copom devem aumentar. “No cenário base, acreditamos que as projeções do IPCA serão revisadas para 4,1% em 2024 e 3,6% em 2025”, diz o texto. As taxas anteriores eram de 4,0% e 3,4%, respectivamente.
No cenário alternativo, com a Selic estável no horizonte relevante, a estimativa é de um aumento para 4,1% e 3,3%, ante 4,0% e 3,1%.
Sobre o comunicado pós-decisão, a XP diz que, provavelmente, o tom será mais agressivo nesta semana. “Em nossa visão, o Copom sinalizará um pior balanço de riscos. Dito isso, não esperamos orientação explícita sobre os próximos passos da política monetária, que dependerão da evolução do cenário econômico.”
Na avaliação do C6 Bank, diante da depreciação recente do câmbio e da leve piora das expectativas de inflação, a expectativa é que o BC mantenha a taxa Selic em 10,5% e se mantenha vigilante, deixando aberta a possibilidade de novas mudanças nos juros, caso necessário.
“Na nossa visão, considerando as sensibilidades dos modelos e as projeções de inflação do Banco Central, não há espaço para novos cortes de juros, mas não descartamos uma possível elevação dos juros neste ano, caso o cenário doméstico continue se deteriorando. Projetamos Selic em 10,5% ao final de 2024 e em 9% ao final de 2025.”
Leonardo Costa, economista do ASA, destaca que o ambiente externo continua incerto, com a queda ainda bastante gradual da inflação global exigindo cautela dos países emergentes. Enquanto isso, a atividade segue forte no Brasil, com inflação ainda acima da meta e inflação de núcleos em nível elevado.
“Diante de tal cenário, o Copom deve adotar a estratégia de juro mais alto por mais tempo, buscando a convergência da expectativa de inflação para a meta”, prevê Costa.