Fed deve optar por corte gradual de juros com inflação em linha e atividade forte

Variação de preços bem comportada nas últimas semanas afasta riscos de recessão no curto prazo permite ao banco central não ter pressa na flexibilização monetária, dizem economistas

Roberto de Lira

Prédio do Federal Reserve em Washington (Foto: Joshua Roberts/Reuters)
Prédio do Federal Reserve em Washington (Foto: Joshua Roberts/Reuters)

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Mesmo com a atividade e o mercado de trabalho ainda aquecidos e com as despesas de consumo mostrando resiliência, a inflação medida pelo PCE nos Estados Unidos manteve em setembro sua tendência de desaceleração lenta, o que reforça as projeções dos economistas de que o Federal (Fed, o BC americano) vai optar pelo gradualismo em seu ciclo de redução da taxa de juros.

Francisco Nobre, economista da XP, por exemplo, destaca que a variação de 0,3% do núcleo do PCE no mês anunciada hoje veio dentro das expectativas. “Em 12 meses, caiu um pouco, estava em 2,72%  e foi para 2,65%, ainda um pouco acima da meta de 2%, mas aos poucos ela vai arrefecendo”, comentou.

Mesmo na inflação de serviços, que teve em setembro uma variação de 0,30%, acima do ponto que seria confortável para o Fed (entre 0,18% e 0,20%) e consistente com a meta de 2,0% anual, tem mantido um comportamento favorável, disse o economista,

Nesse caso, a média móvel de 3 meses anualizada e dessazonalizada, que ajuda a “limpar” a volatilidade de curto prazo, já está abaixo de 3%. “Uma dinâmica muito melhor do que a gente viu no começo do ano. Ainda tem um caminho para percorrer, mas a melhora tem sido expressiva”, comentou.

Sobre a decisão de política monetária pelo Fed na semana que vem, Nobre lembrou que há espaço para cortar os juros gradualmente. “Não precisa fazer isso de forma apressada, levando os juros para um patamar neutro muito rápido. Até mesmo porque o Fed não sabe onde está essa taxa de juros neutra após a pandemia”, ponderou.

O economista destacou que essa taxa que não gera pressões inflacionárias para cima ou para baixo costumava ser de algo próximo de 2,5%, mas que agora pode estrar entre 3% e 4%.

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Sobre os dados de consumo pessoal divulgados hoje junto com o PCE, Nobre argumentou que o consumo ainda está resiliente. “Aquela preocupação de recessão, que muito estavam temendo recentemente, deu uma arrefecida, mostrando que a dinâmica do consumo pessoal, que representa 70% do PIB dos EUA continua bastante forte”, afirmou.

“A atividade até pode acabar pressionando a inflação adiante. O Fed vai ter que ficar atento à dinâmica de consumo porque  a inflação ainda não está na meta.”

Na opinião de André Valério, economista sênior do Inter, o dado de hoje mostrou ainda alguma persistência na inflação, com o núcleo do PCE avançando 0,3% e acumulando alta de 2,7% nos últimos 12 meses, acima do esperado, devido a pressões nos preços de serviços. “Essa persistência se nota nos resultados mais recentes, com a variação do núcleo de 3 meses anualizada acumulando alta de 2,3%.”

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Mas ele comentou que queda contínua da inflação, que já se aproxima da meta, é uma boa notícia, especialmente quando lida à luz dos outros resultados da economia americana. “O PIB do 3º trimestre avançou 2,8% na taxa anualizada frente ao segundo trimestre, e os dados de mercado de trabalho não sugerem uma desaceleração aguda, como o Fed receava”, afirmou..

O economista do Inter, portanto, também disse ver espaço para a continuidade da normalização da política monetária, de maneira gradual. “Esperamos cortes de 25 pontos base em cada uma das duas reuniões que restam esse ano. Entretanto, essa robustez da economia americana torna incerto a taxa de juros ao fim do ciclo”, alertou

Andressa Durão, economista do ASA, também fez alerta que, se os dados de amanhã ainda apontarem para um mercado de trabalho forte, “a discussão no mercado sobre uma pausa do ciclo de cortes de juros por parte do Fed em dezembro ou janeiro esquentará.”

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Sobre os dados recentes, Andressa comentou que tanto os indicadores de inflação quanto os de atividade divulgados na semana sugerem que o Federal Reserve deve seguir num ritmo de cortes de 0,25 ponto percentual.

“Seguimos com um quadro de atividade forte, com inflação desacelerando (um pouco menos), cenário que não exige uma política monetária tão restritiva, mas também não pede uma corrida rápida para o nível neutro”, disse.

Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, por sua vez, disse que, em conjunto com os indicadores robustos do PIB divulgados ontem, os números do PCE de setembro não devem alterar significativamente o plano de voo do Fomc para a continuidade do ciclo de afrouxamento monetário iniciado em setembro.

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“Os contratos de juros apontam para uma redução de 0,25 ponto percentual na reunião da semana que vem, mas já emerge uma divisão clara nas apostas para o movimento em dezembro, com  um pouco mais de probabilidade para uma pausa nas reduções”, afirmou

Igliori comentou ainda que, independentemente dos ajustes, o cenário vem confirmando o pouso suave da economia americana e afastando as preocupações mais alarmantes sobre o enfraquecimento da atividade. “As análises em torno das eleições devem permanecer concentrando as atenções no dia de hoje, mas amanhã de manhã todos irão se voltar para os números do relatório de emprego”, afirmou.